O Brasil sai de campo do
individualismo por meio de ações de militantes da arte de contar e de encantar
ouvintes de todas as idades. Assim, os narradores de histórias, com ou sem
livros, levam os segredos do imaginário aonde quer que estejam. Envolvidos com
a palavra falada, cada momento único é um dia de encantaria. Claudete T. da Mata (Presidente
Nacional-Fundadora da ABCH)
Voz e o corpo do contador de histórias – dois instrumentos a trabalho
da PALAVRA na expressão do UNIVERSO IMAGINÁRIO.
Do corpo, o narrador oral pode extrair infinitas possibilidades de atuação a dar vida
aos personagens pelo empoderamento de se metamorfosear, de se
transformar e dar formar ao universo que necessita de vida. é quando o contador de histórias se pré-dispões a levar o leitor ouvinte numa viagem única.
Cada narrador tem sua maneira de entrar no universo
simbólico. Uns entram por meio de uma dança na chuva, da poesia recitada
embaixo do chuveiro, da música cantada ao seu próprio ritmo. Uns com foco na
dança e outros na contação de histórias, propriamente dita. E para expressar o
universo imaginário, todos têm como instrumento de trabalho: voz e corpo em
movimento que precisam estar sempre em sincronia. Para a completa sintonia há
necessidade de uma atuação consciente.
COMO SER UM
VESTIDOR DE PALAVRAS, CONSCIENTE?
A consciência corporal auxilia na constituição das
personagens, justo por proporcionar ao narrador o seu autodomínio que lhe
propor a conscientização do corpo e da voz de formas diferente, por isso a sua
capacidade de se metamorfosear no desenvolvimento do enredo, do tempo e do
espaço. Isso é pode desconstruir o próprio corpo para a construção de outro corpo.
Esse processo só é possível a partir do momento em que o narrador entende o que e como acontece o funcionamento
do seu próprio corpo - como funciona o seu olhar, as suas emoções, o seu
caminhar pelo espaço, a projeção da sua voz, todos os seus movimentos na constituição
das imagens abstratas, sua exploração espacial, sua musculatura e seus
movimentos articulatório?... Tudo isso faz com que o narrador chegue à
constituição dos personagens e suas características independentes. Bem diferentes
dele próprio – o narrador. Cá nos deparamos com a intenção do contador de
histórias ao levar uma narrativa ao público alvo.
Por meio dos exercícios de consciência corporal e
do seu autodomínio, o contador vai poder constituir um vocabulário corporal
próprio à cada narrativa, onde ele possa entender quais são as suas limitações,
até conseguir colocar em prática as personagens de cada ação. Então veja e
reflita sobre a importância fundamental do trabalho do corpo e da voz, seja
qual for: dança conceitual, mímica, movimentos de improviso, etc. Sem o
trabalho de corpo e da voz, o processo de construção das personagens fica um
tanto truncado. Caso contrário, o contador fica parado no mesmo movimento. E a
mobilidade do corpo fica sempre o mesmo.
O mesmo acontece com a voz do narrador e as diferentes vozes que
diferenciam uma personagem da outra – precisam ser trabalhados por meio da
respiração, ritmo, entonação e timbre.
O CORPO NA
CONSTRUÇÃO DAS PERSONAGENS:
Há vários estudos embasados em diferentes autores,
mas o principal interesse parte do próprio contador na tomada de consciência
das suas reais necessidades – uma delas são as dificuldades que impedem o refinamento
das suas práxis – Uma delas encontra-se na capacidade de desconstruir o próprio
corpo e deixar fruir as personagens, outra dificuldade encontra-se na entrada e
saída do universo imaginário - falta do olhar e da criação da imagem
abstrata/virtual que dificulta a concentração no foco narrativo até o clímax.
Para desenvolver as habilidades necessárias à
narração de histórias, a dança contemporânea, por oferecer englobar várias e
artes e vários estilos narrativos corporais, ela oferece condições de expressão
e manifestações corporais criativas, por trabalhar com as condições do
indivíduo: o que ele pode proporcionar com liberdade, por trabalhar com as
limitações dos atores que recorrem à ela para o desenvolvimento das suas potencialidades
corporais ao trabalhar a consciência corporal e não o obvio a que está
habituado a fazer.
Transformar o mínimo num gigante por meio da
consciência do corpo e da voz é o máximo para o contador de histórias que
deseja crescer nas suas potencialidades narrativas.
CONTADORES DE HISTÓRIAS, INICIANTE E VETERANO, CÁ EXPRESSO
ALGUMAS LEMBRANÇAS:
1) Busque
literatura de qualidade, que desperte o seu gosto de ler. Faça leitura sobre a arte
de contar e de encantar com história. Aquela arte que o faça se sentir melhor –
Isso significa estudar para sair da superficialidade GERADA pela ZONA DE
CONFORTO;
2) Recorra
às técnicas de trabalho das narrativas corporais, da mente em movimento e da voz
que convida a alma a dar vida às situações imaginárias...
3) Esteja
presente inteiro, da entrada à saída de cada cena, na expressão da verdade;
4) Participe
de oficinas de diferentes ministrantes. Assim se conhece diferentes técnicas de
atuações narrativas;
5) Estude
mais um pouco de anatomia para ver como funciona o corpo humano;
6) Experimente
a arte da consciência corporal;
7) Procure
manter o corpo em construção a cada narrativa: da oralidade à dança, da música
à... Imagine com a alma.
8) Faça
o seu trabalho de narrador sempre mantendo sua competência de transformar o seu
corpo em outro, sem esquecer-se do processo de doação da vida aos seus
personagens;
9) Em
cena, esteja no exercício consciente da existência do empréstimo do corpo em
prol da vida de cada personagem;
10) Assim, procure manter-se do início ao fim de
cada ato, numa contradança com o Universo Sagrado. Experimente a arte de
cantarolar a melodia das palavras e acorde os fios da memória como numa
brincadeira de criança pequena num corpo crescido:
Eu quero dizer histórias,
Do presente e do passado,
Eu quero dizer histórias
Sem sair do meu Estado...
Eu quero dizer histórias
E viajar pra todo lado
Eu quero dizer histórias
Sem sair do meu Estado...
As histórias ditas por mim
Ganham vida em movimento
Eu quero dizer histórias
Como fazem os cata-ventos...
O que eles fazem me diga?
Digo não
Vá lá pra ver
Encontre você a resposta
Depois venha me dizer...
Continuaremos
esta brincadeira na próxima aula. Mas você pode colaborar deixando outra
brincadeira para nós.
(Autoria
Textual: Claudete T. da Mata)