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No processo de estruturação, os contos passam por duas fases: Oral e Escrita. O conto é uma produção de ficção, que gera um universo de seres e acontecimentos imaginários. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo.
Classicamente, diz-se que o conto se define pela sua pequena extensão. Mais curto que a novela ou o romance, o conto tem uma estrutura fechada, desenvolve uma história e tem apenas um clímax. Num romance, a trama desdobra-se em conflitos secundários, o que não acontece com o conto. O conto é conciso.
Por serem formas narrativas, os contos são prosas de menor extensão(no sentido estrito de tamanho), por conterem os mesmos componentes de um romance. Entre suas principais características, temos: a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total. De acordo com a teoria de alguns estudiosos literários, os contos necessitam provocar efeitos singulares no leitor e no ouvinte, como excitação e anseios.
Enquanto narrativa escrita, o conto é uma elaboração curta. O tempo em que se passa é reduzido e contém poucas personagens que existem em função de um núcleo. É o relato de uma situação que pode acontecer na vida das personagens. Pode ter um caráter real ou fantástico, da mesma forma que o tempo pode ser cronológico ou psicológico.
Sua forma pode ser através de expressão ou linguagem; com elementos concretos e bem estruturados, como as palavras e as frases. Neste aspecto, temos os contos para leitura e não para serem contados.
Seu conteúdo é imaterial (fixado e carregado pela forma); são as personagens, suas ações, a história (ver Céu, inferno, Alfredo Bosi).
Há contos de Machado de Assis, de Katherine Mansfield (1888-1923), de José J. Veiga (1915), de Tchecov, de Clarice Lispector, - que se apresentam, por exemplos, como contos que não servem para uma contação de histórias, por não haver nada acontecendo. A sua essência está na forma de narrar e no estilo. No livro “Que é a literatura?”, Jean-Paul Sartre (1905-1980) diz que “ninguém é escritor por haver decidido dizer certas coisas, mas por haver decidido dizê-las de determinado modo. E o estilo, decerto, é o que determina o valor da prosa”.
Para escrever um conto, necessitamos de tensão, ritmo, imprevistos dentro dos parâmetros previstos, unidade, compressão, brevidade, conflito, início meio e fim; sendo que o passado e o futuro têm significado menor, dando lugar ao presente. O flashback (recordação de um fato) pode ocorrer, mas só se absolutamente necessário, mesmo assim, da forma mais curta possível.
É importante observar que para prender a atenção do leitor, é preciso evitar os exageros gestuais e a repetição verbal. Pense como Aristóteles, “para quem a catarse, enquanto experiência vivida pelo espectador ou ouvinte, é condição fundamental para definir a qualidade de uma obra”.
Use, se possível, frases curtas. A clareza vem do cuidado com a estruturação da frase, já que as intercalações excessivas prejudicam a compreensão da intensão.
Sendo uma elaboração curta, na oralidade o conto pode se tornar uma grande narrativa. Sendo assim, o conto precisa de capítulos e parágrafos curtos, ou seja, é preciso respeitar as pausas para que o leitor possa respirar. Por isso, deve-se evitar uma miscelânea de personagens, descrições longas, rebuscamentos de ideias, adjetivos em redundância, clichês, repetições de palavras.
A trama/enredo/tema ou estilo devem ser o mais original possível. O escritor pode programar a trama, os personagens, as situações, conhecer o desenlace, o começo e o final da trama, mas o tom em que se vai narrar a história é fruto da criação imaginária. E nisso consiste o habilidade de um bom narrador, o qual pode fazer uso de expressões faciais, utilização de planos físicos e imaginários (alto, médio e baixo), dosagem temporal, projeção vocal, usa de ironia e humor, graça e imaginação, projeção de imagens virtuais sem confundir a fantasia com a realidade. Contos não necessitam ser obrigatoriamente verdadeiros, mesmo parecendo ser. Por isso, é de uma importância discutível.
Todo escritor necessita de leitura, e para isso precisa ler muito; de preferência os clássicos da literatura e seus gêneros. Não se concebe um escritor sem que antes ele ser um bom leitor. Pense em Sartre: “Mas a operação de escrever implica a de ler... e esses dois atos conexos necessitam de dois agentes distintos. É o esforço conjugado do autor com o leitor que fará surgir esse objeto concreto e imaginário que é a obra do espírito”. (op. cit.) Pense também em Faulkner: ler, ler, ler, ler, ler...”
Em “Escritores em ação”, Georges de Simenon (1903-1989) dá a “fórmula” para se escrever uma boa prosa: “Corte tudo que for literário demais; adjetivos e advérbios e todas as palavras que estão lá só para causar efeito”.
Todo escritor contista que se preze, procura saber sobre a estruturação dos contos, como parte essencial às suas coordenadas cognitivas, emocionais, afetivas, sociais e criativas.
Processo de estruturação textual:
Quem tem participação ativa nos acontecimentos? - Personagens;
O que acontece? * Enredo;
Onde e como acontece? * Ambiente e situação dos fatos;
Elaboração de texto narrativo com base em alguns elementos:
O quê? * Fato narrado;
Quem? * Personagem principal e o anti-herói;
Como? * O modo que os fatos aconteceram;
Quando? * O tempo dos acontecimentos;
Onde? * O local onde se desenrolou o acontecimento;
Por quê? * A razão do fato;
Por isso: * A consequência dos fatos.
TEXTO NARRATIVO
Neste tipo de texto, pode-se
escrever uma história, onde a narrativa pode estar na 3ª pessoa ou na 1ª e
vice-versa, ou seja, o narrador está livre para contar uma história em que ele faça
parte dela também.
Narrar é falar sobre fatos. É
o tipo de conto que consiste na elaboração de um texto inserindo episódios
seguidos de acontecimentos.
A narração se difere da
descrição, por ser dinâmica, enquanto a “narração descritiva” é estática, sem
movimentos. Os verbos são predominantes num texto narrativo.
Nos
textos fictícios, mesmo aqueles aparentemente imaginários, o indispensável é a
narrativa, respondendo os seus elementos e sua estruturação.
No texto narrativo, o fato é
o assunto central da ação, sendo o verbo o elemento principal. É importante só
uma ação centralizadora para envolver as personagens com foco e intenções, assim
devendo haver um centro de conflito e um núcleo do enredo, onde os espaços para
a descrição de diálogos e discursos que agucem, mais e mais, a curiosidade do
leitor, são indispensáveis.
Veja este texto narrativo:
Toda a gente tinha achado
estranha a maneira como o Capitão Rodrigo Camborá entrara na vida de Santa Fé.
Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o chapéu de barbicacho
puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida e aquele seu
olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia andar
lá pelo meio da casa dos trinta, montava num alazão, trazia bombachas claras,
botas com chilenas de prata e o busto musculoso apertado num dólmã militar
azul, com gola vermelha e botões de metal.(Um certo capitão Rodrigo – Érico Veríssimo)
A relação verbal emissor –
receptor, efetiva-se por intermédio do que chamamos discurso.
A narrativa se
vale de tal recurso, efetivando o ponto de vista ou foco narrativo.
Quando o narrador participa
dos acontecimentos diz-se que é narrador-personagem. Isto constitui o foco
narrativo da 1ª pessoa.
Narrativa na 1ª Pessoa:
Tristeza alheia!
Naquela tarde, próxima ao
findar de mais uma semana, parei para conversar com a minha comadre que há
muito tempo eu não falava. Percebi certa tristeza no seu olhar e perguntei:
- Comadre por que este olhar cabisbaixo, e ela imediatamente, respondeu:
- Comadre, meu irmão faleceu na noite passada
e nem eu tive cabeça pra te avisar. Acabo de chegar do enterro. Há tanto tempo sem trocarmos
uma prosa, e justo num momento como esse, é que nos encontramos.
- Terá sido o acaso? Pensei, sem esticar a conversa.
Narrativa na 2ª Pessoa:
Acorda Figueira!!!
Estava um velho torcedor, com o seu
radinho de pilha colado ao ouvido, ouvindo o jogo seguir seu rumo, quando, na sequência da
narração e seus comentários, ele ouviu os torcedores do Figueirense pulando e gritando
sem parar. Mas a torcida do Flamengo também vibrava, já que o time do coração
precisava sair da temerosa zona de rebaixamento. Os minutos finais eram
decisivos para ambos, na disputa da vitória, e para infelicidade do velho
torcedor, o Mengão passou na frente do Figueira.
Os torcedores alvinegros não
gostaram nem um pouquinho de ver o Figueira perder a 14ª partida no Brasileirão. Se continuar
assim, o jeito é ter que aguentar as vaias avaianas, zuando da gente sem parar!
Disse o velho torcedor com os olhos arregalados de fúria, e o coração ardendo feito
brasa viva.
Nessa partida, ninguém teve
chance. Nem Louco Abreu com seu milionário salário, nem o goleirão com suas
mãos hábeis. O estádio quase veio abaixo de tamanha alegria da torcida
adversária, e quase pegando fogo, de tamanha ira da torcida perdedora.
Finalmente, aos quarenta e tantos
sofridos minutos do segundo tempo o juiz apontou para o centro do campo, soltou
o último apito que encerrou a partida.
E vendo derrotado o time do
coração, o velho torcedor atirou o rádio no chão, exclamando pela milésima vez:
__ Nunca mais perco meu
tempo ouvindo essa pouca vergonha!
(Autoria: Claudete T. da Mata, 2012)
TEXTO
DESCRITIVO E DISSERTATIVO
Descritivos:
Textos
que descrevem algo, exemplo: você falando sobre alguém de sua família, sobre um
animal de estimação, uma pessoa querida. A linguagem pode ser figurada ou
literal.
Dissertativos:
Serve
para se fazer argumentações sobre determinados assuntos colocados, onde vamos
ter que defender a teoria sobre o assunto em pauta, de preferência na 3ª
pessoa.
RESUMINDO
No texto narrativo, escrevemos uma história verídica ou fictícia; no texto
descritivo escrevemos relatando um
fato ocorrido e no texto dissertativo
escrevemos discorrendo sobre um determinado assunto.
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TIPOS DE CONTOS
Conto de animais: Seus personagens são representados por animais. Este tipo de conto, também chamado de fábula, geralmente termina com uma lição de moral.
Conto de encantamento: Também conhecido como contos maravilhosos, ou contos de fadas, este é o tipo de literatura onde príncipes e princesas enfrentam monstros e bruxas, sendo sempre ajudados por algum elemento mágico, que pode ser uma simples caixinha de papelão com seus poderes inesplicáveis. A história quase sempre tem um final feliz. De narrativa curta à longa, na qual os heróis, ou heroínas, antes de triunfar contra o mal, tem de enfrentar grandes obstáculos. Por isso, este tipo de conto possui características que envolvem magias e seres que se metamorfoseiam em coisas impossíveis, confundindo o real com o imaginário. Este é o tipo de conto difundido desde a Antiguidade, com comprovada influência e relevância na fase infantil, bem como, sua aplicabilidade terapêutica para a resolução de conflitos interiorizados na infância. Cabe-nos ainda salientar que na tradição oral e criativa do Período Medieval até a contemporaneidade, contamos com grandes autores como: Irmãos Grimm, o francês Charles Perrault, que deu vida à Chapeuzinho Vermelho, Bela Adormecida, Pequeno Polegar e Gato de Botas; Andersen, que nos presenteou com a história do Patinho Feio; Gabrielle-Suzanne Barbot, a Dama de Villeneuvee com a Bela e a Fera e Charles Dickens, com o Conto de Natal e a história de Oliver Twist. No Brasil, nossa maior conquista foi Monteiro Lobato, com suas obras que ainda hoje servem de base ao início literário de muitas crianças. são eles, que situando as contribuições mais recentes desta literatura, nos apontam para um processo singular de subjetividade da memória infantil.
Sendo estes os contos transmitidos de geração a geração, que mesmo correndo risco de perder-se no tempo, pela falta de alimentação do imaginário infantil, devido o excesso das novas tecnologias, ainda conseguem manter seu espaço de destaque nas narrativas impressas e orais dos velhos Contadores de Histórias.
Conto de riso: história engraçada, longa e cheia de detalhes acompanhados de humor. Não é piada.Exemplificando: Certa vez, numa festa de interior, um grupo de mulheres falava sobre seus maridos: "Meu marido é isso, aquilo, aquele outro..., enquanto que uma delas, calada no seu canto, ao ser interrogada, sempre respondia: - Meu marido é um simples pangaré! As outras mulheres riam, divertindo-se com a resposta. Nem faziam idéia do tal pangaré. Uma delas, de boca pequena, até comentou entre as colegas: - Então deve ser um bicho de feio! - Hummm... Deve ser mesmo, por isso, ele nunca aparece coitadinha! E os comentários começaram a surgir entre as línguas de trapo - dessas do tipo, sem conteúdo. E festa rolou como todas as festas, até que o Sol pusera-se a dormir, avisando aos convidados que a festa acabara. Já não havia mais o que comer, nem beber. Mas as línguas de trapo, bocejando daqui e dali, numa abrição de boca sem parar, parecendo grudadas nas suas cadeiras, não iam embora. Mas eis que de repente, o tal pangaré chega de braços com a filha. Homem bem trajado e cheiroso, a distribuir simpatia, parecendo um Éros. Foi uma surpresa só. Se os demais convidados estavam bocejando, ao ver o pangaré da colega, ficaram de queixos caidos.
De supetão, a aniversariante embevecida, já não se aguentando mais de pé, falou num suspiro só:
- Minha nossa, este é o pangaré de quem ela nada falava? Meu anjo da guarda é um cavalão!!! Neste pangaré, digo, neste cavalão, com o perdão da palavra, até eu montaria se me permitissem. As convidadas de queixos caídos esbugalharam os olhos e abriram suas bocas até esgaçar. E a mulher dotal pangaré, levantou-se e foi embora com o seu cavalão. O resto da mulherada, abismada aos poucos foram esvaziando o salão. A dona da casa, pobre mãe, não se aguentava de tantas dores nas costas e nas pernas. Como de costume em todas as festas, foi a única a não ver nada, senão além de amanhecer toda quebrada, no dia seguinte, também não poderia comer mais nada por um bom tempo, se tivesse esgaçado sua boca feito as suas convidadas.
Esta, eu costurei daqui e dali!
Conto de origem: São os mais antigos de todos e já aparecem em culturas muito primitivas, explicando como surgiram seres, objetos... Está próximo dos mitos e das narrativas
religiosas, por exemplos, as que contam como os seres considerados deuses fizeram o mundo e algumas coisas que nele existe. Aqui o uso de arquétipos se faz necessário, e os exageros míticos vem acompanhados por metáforas que retratam crenças e crendices fabulosas.
Conto de sabedoria:
história que apresenta uma lição de vida. Também
conhecida como conto de exemplos.
Conto acumulativo: É um
tipo de conto, onde todos os elementos que entram na história são repetidos,
sempre na mesma ordem, até o fim.
Contos maravilhosos: É o tipo de conto que lida com determinada
temática social, onde o herói (ou anti-herói) é uma pessoa de origem humilde ou
que passa por grandes privações, mas triunfa ao conquistar riqueza e poder.
Contos populares: Fruto da oralidade inventiva, passada de geração a
geração. Criado, narrado e ouvido pelo povo. Testemunha de usos, costumes,
ideias, práticas, saberes, decisões e julgamentos. Têm múltiplas características,
como o humorismo e as situações imprevistas, morais e/ou materiais.
Contos modernos: É um tipo de narrativa não muito longa (história
curta de fatos fictícios) em que o narrador se detém num momento especial, ou
seja, a ação se concentra em um único ponto de interesse um conflito maior
vivido pelos personagens. Normalmente, contam histórias voltadas para o
cotidiano.
Conto de
assombração: A história gira em torno
de seres fantásticos, onde se mistura o real com o imaginário, próprio para
provocar arrepios, comoção e até o medo maior de pavor. Aqui aparecem seres de
todas as formas e origens, os quais se metamorfoseiam em coisas impossíveis. São contos da tradição oral
Conto de infância: Este tipo de história surge de relatos da infância
seja do próprio autor ou de experiências observadas por ele. Aqui, o processo
de produção literária pode sofrer alterações, sem modificar o foco e a intenção
da vivência. Também pode ser construído um enredo proveniente de vivências de
terceiros (Acontecimentos extraído da memória de outros.), onde o escritor
autoral pode fazer uso do ditado: “Em cada conto se aumenta um ponto”.
Ao longo de todos os processos de produção literária, os
integrantes aprenderão sobre:
*
Identificação dos elementos organizacionais dos contos, com o conhecer de elementos
que compõem uma narrativa a partir de pesquisas;
*
Identificação da finalidade de cada gênero textual;
*
Identificação das práticas sociais de produção e circulação dos contos;
*
Aquisição de diferentes técnicas de narração de histórias, compondo a arte de manipulação de bonecos contadores de
histórias, na preparação de saraus com histórias de animação.
Por ora, a partir das definições
acima, os integrantes da “OFICINA LITERÁRIA BOCA DE LEÃO”, terão como tarefa de estudo e pesquisa, a classificação dos textos lidos nos encontros anteriores, objetivando a
aquisição de suas respostas. Serão questionados sobre outros contos que se
encaixam nas classificações estabelecidas acima, relatando a existência de
outros tipos de contos e outras classificações, como: Contos
etiológicos, contos africanos, contos de terror, contos de humor etc.
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CONTOS DOS IRMÃOS GRIMM: JACOB E WILHELM - Entre 1785 e 1863
Inseridos num contexto histórico alemão de resistência às conquistas napoleônicas; os Irmãos Grimm recolhem, diretamente da memória popular, as antigas narrativas, lendas ou sagas germânicas, conservadas por tradição oral. Buscando encontrar as origens da realidade histórica germânica, os pesquisadores encontram a fantasia, o fantástico, o mítico em temas comuns da época medieval. Então uma grande Literatura Infantil surge para encantar crianças de todo o mundo.
Tinham dois objetivos básicos com a pesquisa:
levantamento de elementos lingüísticos para fundamentação dos estudos filológicos da língua alemã;
fixação dos textos do folclore literário germânico, expressão autêntica do espírito da raça.
O primeiro manuscrito da compilação de histórias data de 1810 e apresentava 51 narrativas. Em sua primeira edição, a compilação foi entitulada "Histórias das crianças e do lar" e já contava com mais algumas histórias. A qüinquagésima edição, última com os autores vivos, já totalizava 181 narrativas. Algumas dessas estórias são de fundo europeu comum, tendo sido também recolhidas por Perrault, no séc. XVII, na França (o que remete à existência de uma fonte comum).
Na tradição oral, as histórias compiladas não eram destinadas ao público infantil e sim aos adultos. Foram os Irmãos Grimm que dedicaram-nas às crianças por sua temática mágica e maravilhosa. Fundiram, assim, esses dois universos: o popular e o infantil. O título escolhido para a coletânea "Histórias das crianças e do lar" já evidencia uma proposta educativa. Alguns temas considerados mais cruéis ou imorais foram descartados do manuscrito de 1810.
O Romantismo trouxe ao mundo um sentido mais humanitário. Assim, a violência (presente nos Contos de Perrault) cede lugar a um humanismo, onde se destaca o sentido do maravilhoso da vida. Perpassam pelas histórias, de forma suave, duas temáticas em especial: a solidariedade e o amor ao próximo. A despeito dos aspectos negativos que continuam presentes nessas estórias, o que predomina, sempre, é a esperança e a confiança na vida.
Ex: Confrontando os finais da estória do "Chapeuzinho Vermelho"; em Perrault (que termina com o lobo devorando a menina e a avó) e em Grimm (onde o caçador chega, abre a barriga do lobo, deixando que as duas vivam vivas e felizes; enquanto o lobo morria com a barriga cheia de pedras que o caçador ali colocou...).
Vários críticos afirmam serem as histórias dos Grimm incentivadoras do conformismo e da submissão. Ainda assim, a permanência dessas narrativas, oriundas da tradição oral, justificam o destaque conferido a estes autores alemães.
Nos Contos de Grimm não há, propriamente, contos-de-fadas, distribuem-se em:
contos-de-encantamento (estórias que apresentam metamorfoses, ou transformações, por encantamento, a maioria);
contos maravilhosos (estórias que apresentam o elemento mágico, sobrenatural, integrado naturalmente nas situações apresentadas);
fábulas (estórias vividas por animais, algumas);
lendas (estórias ligadas ao princípio dos tempos, ou da comunidade, e onde o mágico aparece como "milagre" ligado a uma divindade);
A característica básica de tais narrativas (qualquer que seja sua espécie literária) é a de apresentar uma problemática simples: um só núcleo dramático.
A repetição, ou reiteração, juntamente com a simplicidade de problemática e da estrutura narrativa, é outro elemento constitutivo básico dos contos populares. Da mesma forma que a elementaridade, ou simplicidade da mente popular, ou da infantil, repudia as estruturas narrativas complexas (devido à dificuldade de compreensão imediata que elas apresentam), também se desinteressam da matéria literária que apresente excessiva variedade, ou novidades que alterem continuamente as estruturas básicas já conhecidas.
Essa reiteração dos mesmos esquemas, na literatura popular-infantil, vai, pois, ao encontro da exigência interior de seus leitores: apreciarem a repetição das "situações conhecidas", porque isso permite o prazer de conhecer, por antecipação, tudo o que vai acontecer na estória. E mais, dominando, a priori, a marcha dos acontecimentos, o leitor sente-se seguro interiormente. é como se pudesse dominar a vida que flui e lhe escapa ...
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DIFERENÇA ENTRE LER E CONTAR HISTÓRIAS
"São duas coisas muito diferentes, porém ambas muito importantes. Um texto escrito segue as normas da língua escrita, que são completamente diferentes daquelas da linguagem falada. Quando uma criança ouve a leitura de uma história ela introjeta funções sintáticas da língua, além de aumentar seu vocabulário e seu campo semântico. Porém, aquele que lê a história deve dominar a arte de contá-la, estar preparado suficientemente para fazê-lo com apoio no texto, sabendo utilizar o livro como acessório integrado à técnica da voz e do gesto.
Além disso, quem lê para uma criança não lhe transmite apenas o conteúdo da história; promovendo seu encontro com a leitura, possibilita-lhe adquirir um modelo de leitor e desenvolve nela o prazer de ler e o sentido de valor pelo livro.
Há opiniões divergentes neste campo: alguns autores consideram que o contador sem o livro tem mais liberdade de acentuar emoções, modificar o enredo segundo as reações da criança e portanto, melhor comunicação com o público infantil. Teria ainda mais disponibilidade para trabalhar sua voz e seu gesto.
Somos partidárias, neste aspecto de que o importante é como ler e como contar, porque é preciso que se tenha técnica e preparo para despertar o desejo e o prazer das crianças."
CRISTIANE MADANÊLO DE OLIVEIRA. "IRMÃOS GRIMM: JACOB E WILHELM (ENTRE 1785 E 1863)" [online]
Disponível na internet via WWW URL: http://www.graudez.com.br/litinf/autores/grimm/grimm.htm
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UMA CONVERSA SOBRE COMPROMETIMENTO ÉTICO DO ESCRITOR E SEUS PERSONAGENS
Setembro é um mês consagrado às
flores e ao amor, por que não! Amor que renasce no seio da Mãe-Natureza, quando
nesta estação podemos ver os pássaros alçar seus voos ao som de múltiplas
melodias, que só eles sabem fazer. Eles que não precisam frequentar aulas de
canto, nem teoria musical, porque nascem afinados e preparados para enfeitar a
o Jardim Universal com seus cantos bem elaborados, cada qual no seu próprio
ritmo...
Então, façamos como os pássaros, porque somos poetas literários, mesmo
que escrevamos romances, contos, novelas, crônicas ou qualquer outro gênero em
prosa.
Ao transformar o que já existe e
sem fazer de conta que é meu, aprendi a arte da releitura, reinventando o que
ouvi e presenciei, sem assumir minha total autoria. Por isso deixo sempre
registrado: “Uma releitura de..., baseada no conto Fulano de Tal, do autor...”.
Sei que quanto mais leio as obras
de terceiros, mais aprimoro minhas competências cognitivas, imaginativas e
criativas, na busca de minha própria autoria.
Desta forma, não vou falar de
nenhum texto literário, mas do envolvimento do autor autoral com seus personagens, uma relação
inevitável à vida do texto.
No processo de produção literária
necessitamos de intimidade com os personagens adotados, para saber sobre seus
gostos gastronômicos, suas características físicas, seu modo de andar, de
olhar, de falar, de seus sentimentos mais íntimos, seus hábitos cotidianos, seus
costumes...
Quando se trata de um personagem
baseado na vida real, o autor necessita de pesquisa e estudo que lhe ofereça
substratos necessários à sua construção, sem que os elementos de pesquisa
interfiram na construção do imaginário.
Assim, sem perder de vista o foco e a
intencionalidade da trama, o material coletado vai ganhando nova vida. Seu o personagem
real é João, passará a ser chamado de Manoel. Mas isso não impede que o nome
real continue o mesmo, desde que o escritor assuma sua autoria.
Exemplificando: quando criei a
personagem “Vó Filomena”, não escrachei suas reais características, mas, fiz
uso de algumas delas, como: seu jeito de falar, tom de voz carregada de
austeridade na sua comunicação com crianças, ar de velha matreira sempre de
olho em tudo o que acontece de diferente ao seu redor.
Essa personagem foi criada em
homenagem á minha avó materna, Vó Filomena, sempre comunicativa com os netos, porém,
muito exigente com todos. Ela não fazia rodeios e nem escolhia palavras para
contar seus causos e cantar seus versinhos cheios de maldades e ligados á
sexualidade. Suas características físicas eram bem próximas de minha
personagem: Nariz grosso e longo, olhar fixo expressivo, postura séria,
dorminhoca e roncadora. Quem não a conhecia, tremia de medo diante de sua aparência
austera.
Diante desta descrição, desejo
mostrar que todo escritor autoral, precisa gostar de seu texto. Por isso, antes
de concluir sua produção, por exemplo, um conto, o ideal é que faça uma leitura
da mesma a alguém, para que se este entendeu, ou não, as suas intensões, se
gostou do texto, dos personagens, o que ele tem a lhe dizer sobre o que ouviu. Se
for um romance, peça que este alguém faça uma leitura, e depois comente sobre o
que leu. Assim será mais conveniente ao autor, o encaminhamento à revisão
literária.
Em síntese, toda propriedade autoral deve sugerir ao leitor, no mínimo quatro
finalidades:
1) Despertar
o prazer pela leitura;
2) Infundir
a curiosidade pelos conhecimentos;
3) Despertar
o desenvolvimento humano a partir do imaginário;
4) Resgatar
a criança interior que tudo quer saber, sentir, viver e ser.
Autoria: Claudete T. da Mata, Setembro de 2012.