Era uma vez, uma menina que queria muito ganhar uma boneca de presente de Natal.
Drizela - este era o nome da - resolveu fazer o que todas as crianças fazem: escrever uma carta para o Papai Noel.
Para o
Papai Noel
Polo Norte
URGENTE
Para entender estender esta história é preciso que você saiba duas coisas.
A primeira tem a ver com os tipos de presente de Natal.
Os presentes de Natal são de dois tipos: os que não podem ser comprados e os que podem ser comprados.
Os que não podem ser comprados são feitos pelo próprio Papai Noel e sua mulher, Mamãe Noel, na sua oficina, ajudador por um punhado de gnomos e anõezinhos que trabalham com eles.
Esses presentes são feitos a mão, um a um, cada um diferente do outro. São presentes de amor. Por isso não se encontram em lojas e não podem ser comprados com dinheiro.
E há os presentes que são feitos nas fábricas, nas máquinas, muitos ao mesmo tempo, todos iguais. Esses presentes se encontram nas lojas e podem ser comprados com dinheiro.
A segunda coisa que você precisa saber é sobre os jeitos do Papai Noel. Muitos e muitos anos atrás o Papai Noel vinha pessoalmente entregar os presentes numa carruagem de nuvens puxada por gansos selvagens. Descia pelas chaminés e colocava os presentes nas meias e sapatos que meninos e meninas deixavam ao lado da chaminé ou ao lado da cama.
Depois, Papai Noel e engordou e, certa vez, ficou entalado numa chaminé, passou a ter medo de ficar preso e nunca mais sair. Além do mais, nas casas não há mais chaminé, porque não se constroem mais fogão de lenha.
Desde então, Papai Noel passou a se valer dos serviços das cegonhas, que haviam ficado sem trabalho quando o serviço de entrega aérea de bebês foi desativado. Hoje, os presentes que são feitos por gnomos e anõezinhos nas oficinas de Papai Noel são entregues pelas cegonhas, enquanto as crianças dormem e sonham. É preciso sonhar para ter alegria de Natal.
Papai Noel acabou de ler a carta e disse:
- Claro que sei qual a boneca mais bonita de todas. Mamãe Noel! - ele gritou excitado - Onde estão os moldes das bonecas mais lindas do mundo?
- Estão guardados no baú das coisas velhas - ela disse. - Faz muito tempo que não são usados. As meninas pararam de encomendar minhas bonecas.
- Poia acaba de chegar uma encomenda - ele disse. - Trate de tirar os moldes do baú, e mãos a obra.
Mamãe Noel abriu um baú preto, mexeu nas coisas, e tirou lá do fundo um grosso livro em cuja capa estavam escritas estas palavras:
As mais
belas bonecas
do mundo
Moldes de
Mamãe Noel
NOTAS: Estas bonecas não podem ser vendidas por dinheiro. Tem de ser feitas a mão, uma a uma, e têm de ser dadas por amor.
Mamãe Noel foi passando as páginas vagarosamente. Fazia tanto tempo que não via aquele livro! Estava com saudades daquelas bonecas que tinham dado tanta alegria a crianças de outros tempos. Tão bonitas, tão fofas, tão meigas!
Eram feitas a mão, com pano, agulha e linha, uma de cada vez, do jeito mesmo como os nenezinhos são feitos na barriga da mãe.
Mas agora as crianças preferiam bonecas magrelas, duras e de plástico, que se fazem nas fábricas. Bonecas que se compram nas lojas... Mamãe Noel enxugou uma lágrima, mas logo sorriu.
Felizmente ainda havia uma menina que se lembrava das bonecas mais lindas do mundo.
Mamãe Noel olhou para um molde e parou. Era uma boneca de rosto redondo, olho pretos, um lindo sorriso, dois dentinhos aparecendo, feito os dentinhos da Mônica, e com um avental branco e de bolinhas vermelhas. Era uma doçura de boneca!
- Esta é uma boneca feliz - ela disse. - Drizela também vai feliz. É essa que vou fazer.
Dizendo isto, pegou tesoura, agulha, linhas, panos, e se pôs a trabalhar.
Semanas se passaram. Drizela marcava os dias no calendário. Até que a véspera de Natal chegou.
Drizela foi para a cama sonhando com a boneca mais bonita de todas que uma cegonha de Papai Noel lhe traria durante a noite.
A manhã chegou. Drizela acordou. Olhou logo para o sapato. Lá estava a boneca.
Droga - ela disse com um grito de raiva. - Não era essa a boneca que eu queria. Todas as meninas sabem que a boneca mais bonita de todas é a Barbie. Papai Noel burro! Imagine se vou brincar com uma boneca de pano! Todas as minhas amigas vão rir de mim!
E com essas palavras, depois de dar na boneca uns safanões e beliscões. Jogou-a num canto do quarto, atrás da porta, para que ninguém a visse.
Drizela não percebeu. Mas ao fazer isto, uma mudança aconteceu no rosto da bonequinha de pano: ela deixou de sorrir.
O pai e a mãe de Drizela ficaram muito tristes. Acharam que aquela era a boneca mais bonita que já tinha visto.
- Ela se parece com a boneca com que eu brincava quando menina - disse a mãe de Drizela. - Ela era também feita de pano, agulha e linha. Que pena que Drizela não goste dela. Eu gosto. Por isso a boneca vai ser minha. E até vou lhe dar um nome: Dulce. É um nome antigo, fora de moda, mas tão bonito. Dulce quer dizer doce. Essa bonequinha é doce.
Tomou a bonequinha nos braços e a levou para sala. "Acho que ela vai gostar dessa almofada", pensou a mãe de Drizela, ajeitando Dulce numa cadeira.
Mara, a prima de Drizela, era quieta, com uma carinha tristonha. quase não ria. Seus pais lhe deram uma Barbie de presente de Natal, pensando que isso a alegraria. O que ela queria era uma boneca que pudesse ser sua filhinha pequena, gostosa de abraçar, boa de dormir com ela, e não uma boneca adulta, magrela e dura.
Naquele dia, seus pais iriam visitar os pais de Drizela. Mara não queria ir. Não gostava de Drizela. Drizela não gostava dela. Elas não conseguiam brincar juntas. Não gostavam dos mesmos brinquedos. Mas não havia escolha: teve de ir.
Foi. Afundou-se numa cadeira, quieta, esperando o tempo passar, torcendo para que Drizela não estivesse em casa. Enquanto seus pais conversavam, seus olhos passeavam pelas coisas; examinavam os quadros, os bibelôs, os vasos, os livros... Até que, de repente, eles encontraram a bonequinha sentada na almofada, olhando para ela.
Mara não acreditou no que seus olhos viam. Levantou-se e foi até a almofada onde Dulce estava. chegou bem perto; tocou o seu rosto, suas perninhas de pano; olhou para sua boquinha triste...
O seu rosto se iluminou. Era uma boneca assim que ela queria.
- Como é que ela se chama? - perguntou.
- Dulce. Fui eu que a batizei. Drizela não a quis. Queri mesmo era uma Barbie... - respondeu a mãe de Drizela.
- Uma Barbie? Eu tenho uma, que não quero! - disse ela sorrindo. Vamos fazer uma troca? Eu dou a Barbie a Drizela e Drizela me dá Dulce...
Mara não conseguia esconder a sua alegria. A mãe de Drizela percebeu e pensou: "Já sou velha para ser mãe dessa bonequinha. Acho que Mara é a mãe certa para Dulce. Porque mãe de verdade é aquela que sente alegria ao ver a filha..."
Aí ela deu uma gostosa risada e disse;
- Negócio feito. Dulce, agora, é sua filha. Pode pegá-la no colo!
Mara começou a chorar de alegria. pegou a bonequinha de pano e a abraçou apertado. Sua carinha se abriu num largo sorriso: tinha agora uma filhinha.
Olhando para o rosto de Dulce, Mara viu uma coisa que os grandes não viram: a bonequinha de pano também estava sorrindo. Ela estava alegre: havia, finalmente, encontrado a sua mãe...
OBRAS DO AUTOR NESTA EDITORA
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A Boneca de pano
O Escorpião e a rã
Estórias de bichos
O Flautista mágico
O Gambá que não sabia sorrir
Lagartixas e dinossauros
A Loja de brinquedos
A Menina e a pantera negra
A Menina e o pássaro encantado
O País dos dedos gordos
A Pipa e a flor
A Porquinha de rabo esticadinho
A Toupeira que queria ver o cometa
OBS: A digitação desta obra, deu-se em função da dificuldade de se encontrar o livro nas livrarias.
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