"O gosto de contar é idêntico ao de escrever – e os primeiros
narradores são os antepassados anônimos de todos os escritores. O gosto de
ouvir é como o gosto de ler. Assim, as bibliotecas, antes de serem estas
infinitas estantes, com as vozes presas dentro dos livros, forma vivas e
humanas, rumorosas, com gestos, canções, danças entremeadas às narrativas.
(MEIRELES, 1979, p. 42) [...] é a Literatura Tradicional (literatura oral) a
primeira a instalar-se na memória da criança. Ela representa o seu primeiro
livro, antes mesmo da alfabetização, e o único, nos grupos sociais carecidos de
letras. Por esse caminho, recebe a infância a visão do mundo sentido, antes de
explicado; do mundo ainda em estágio mágico. Ainda mal acordada para a
realidade da vida, é por essa ponte de sonho que a criança caminha, tonta do
nascimento, na paisagem do seu próprio mistério. Essa pedagogia secular
explica-lhe, em forma poética, fluida, com as incertezas tão sugestivas do
empirismo, o ambiente que a rodeia, - seus habitantes, seu comportamento, sua
auréola. Vagarosamente elaborada, pela contribuição de todos. Esta literatura
possui todas as qualidades necessárias à formação humana. Por isso, não admira
que tenham tentado fixá-la por escrito, e que, sem narradores que a apliquem no
momento oportuno, para maior proveito do exemplo, a criança se incline com
ávida curiosidade para o livro, onde esses ensinamentos perduram." (MEIRELES, 1979, p. 66.
REFINAMENTO DA PRÁTICA DA ORALIDADE: EXERCÍCIO DE ESTÍMULO DA CONSCIÊNCIA CORPORAL!
DINÂMICA DE GRUPO
Iniciei a aula com uma dinâmica de grupo, momento em que
o orientador reúne o grupo em círculo, orientando-o que faça o mesmo que ele,
repetindo gestos e palavras, sem comentários e desvio de atenção, procurando a
autodisciplina, concentração e atenção voltada a todos os comandos a serem
reproduzidos, e que controlem a ansiedade evitando prosseguir junto com a
orientadora.
DINÂMICA DE GRUPO –
OS CAÇADORES DE URSOS!
(Brincadeira de roda de domínio público, adaptada por
Claudete da Mata para fins de dinamização de grupos)
ORIENTADOR(A): Vamos caçar ursinhos? Vamos? Então vamos!
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR: Vamos atravessar a floresta? Vamos? Então
vamos!
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR(A): Ui!!! É uma aranha!
GRUPO: Repete frases e gestos.
Dai por diante, o orientador vai criando todos os
obstáculos possíveis, dentro de um tempo imaginário, até chegar ao local dos
ursos.
ORIENTADOR(A): Vamos passar naquela pinguela (ponte suspensa)?
Vamos? Então vamos...
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR(A): Ai ai... Meu estômago!!! Vou vomitar...
O orientador vai colocando no texto situações que
provoquem sensações e estranhamentos, cuja com a intenção de levar o grupo à
exteriorização de sentimentos, sensações psicológicas, repulsa, nojo, etc.
Elementos necessários à provocações de aspectos individuais indispensáveis à
narração oral e à vida do universo imaginário.
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR(A): Ufa!!! Olhe lá... É um rio. Vamos
atravessar o rio? Vamos? Então vamos!
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR(A): Que água fria... Gelada... Uuuuuuuuui!!!
Meus ossos...
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR(A): Ufa!!! Vamos correr? Vamos? Então vamos!
O grupo corre em círculo, seguindo o ritmo de corrida do
orientador, sem sair do círculo, isto encerraria o jogo.
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR(A): Estamos chegando... Ufa, que cansaço...
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR(A): Vamos descansar? Vamos? Então vamos!
E todos vão se sentando numa sincronia uniforme.
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR(A): Vejam!!! Chegamos... É a casa dos
ursinhos!!!
A orientadora fala sussurrando com o dedo indicador
cruzando os lábios.
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR(A): Agora vamos andar nas pontas dos pés,
vamos? Então vamos!
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR(A): Psiu... Chegamos! Vamos olhar pela
fechadura? Vamos? Então vamos!
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR(A): Psiu!!! Eles estão dormindo... Vamos abrir
a porta? Vamos? Então vamos!
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR(A) – Caminha até o centro do círculo, pelas
pontas dos pés, em silêncio se curva com o olhar fixo no centro do círculo:
Psiiiiiiiiiiiiiu! Eles são tão bonitinhos... Fofinhos... Quentinhos...
GRUPO: Repete frases e gestos.
ORIENTADOR(A): Vamos pegar os ursinhos, vamos? Então
vamos!
E o orientador pula sobre os ursos imaginários, soltando
um URRO forte e alto, voltando-se para trás e fazendo o jogo inverso até chegar
ao ponto de partida inicial.
GRUPO: Repete frases e gestos, seguindo o orientador, sem
sair do jogo.
ORIENTADOR(A) – Em silêncio, sobe os braços até as altura
esticando-se, com 2 min de relaxamento, finalizando a dinâmica sem desorganizar
o círculo.
GRUPO: Repete todos os gestos.
(Dinâmica adaptada por Claudete da Mata, desde 1998, extraída de uma brincadeira de roda de domínio público de autoria desconhecida)
Após a dinâmica, apresentei o quadro contendo sete
elementos importantes à narração oral:
Ao serem questionados, por onde cada um inicia as
suas histórias, a primeira resposta foi:
- Inicio pelo começo, porque toda história tem começo,
meio e fim!
E a pergunta só foi compreendida
Por onde você inicia sua narração oral?
Vamos praticar?
Sem receios, mostre-se! Agora é hora de começar a nossa
prática de refinamento, vamos?
Dinâmica da caixinha: O orientador entrega a cada
participante uma carta da caixinha. Para descontrair o grupo, ele lança alguns
questionamentos que estarão situando os contadores, incitando-os ao jogo de
improviso, que pode começar assim:
Por onde começar?
Vamos exercer um pequeno “jogo de improviso”?
Mostre que você consegue atender um chamado de ultima
hora, aqueles que de repente você diria, sem pensar duas vezes, um “Não” bem
grande, caso eu fosse alguém do outro lado da linha à procura de um contador de
histórias.
Então agora é hora de contar. Vem, vamos começar!
E o orientador inicia o jogo.
Regra especial: O contador tem a liberdade de ligar o
início da história contida na carta a um acontecimento ou uma história ligada
aos fios de sua memória, livre para soltar a imaginação e deixar o seu narrador
falar.
OBS. A caixinha contendo cartas com uma série de inícios
de história, fatos e acontecimentos qualquer, alguns engraçados, outros absurdo
e outros muito estranhos, mas que levaram os participantes, ao pegarem suas
cartas, com um tempo de 3 minutos para ler e entrar no jogo de improviso,
provocando estranhamentos em alguns e animação em outros. Hoje, alguns
contadores sentindo-se retraídos e de certa forma, incapazes para brincar com
as cartas, subiram ao palco do auditório da BPSC um tanto retraídos e com medo
de errar. Porém, conseguiram desempenhar muito bem os seus papéis e desenvolver
o conteúdo de suas cartas.
Ao iniciar o jogo, todas as apresentações foram filmadas
para serem inseridas em DVD regravável, solicitado a cada participante, e por
meio do qual cada um poderá fazer uma avaliação de sua práxis – momento em que,
ao deparar-se com os problemas até então não vistos, poderá estar trabalhando
com as possibilidades oferecidas pelo curso, no refinamento de suas práticas. O
importante é que se alcance um nível de disciplina, organização, concentração e
atenção voltada aos elementos indispensáveis à narração oral, trabalhados no
decorrer do curso.
Neste DVD estará sendo armazenadas todas as práticas
desenvolvidas até o final desta primeira fase do curso.
Após este primeiro jogo, foi lida a tarefa a ser feita
apresentada na próxima aula (24 de julho/14): Responder a partir de um momento de
reflexão, as seguintes perguntas:
Quem sou?
De onde venho?
Por que estou aqui?
O que me levou até à Biblioteca Pública de SC?
O que pretendo fazer com o curso de Formação de
Contadores de Histórias?
Qual será o conto que escolherei para ser trabalhado até
outubro?
Quem escolhe quem?
Quais as minhas histórias preferidas?
Por que não gosto de certas histórias, por
exemplo:............
O que mais me fascina nos contos que me escolhem?
O que faço ao abrir a porta para os contos?
Como devo me preparar e começa-los?
Fiz minha escolha e agora o que devo fazer?
Será que o nosso deu certo? E agora?
Antes de apresentar o conto, você pode dizer qual a sua
relevância?
Você é adepta das histórias politicamente corretas? Por
quê?
Agora que você sabe da relevância do conto, você tem
condições, gosta ou não de brincar com as suas linguagens?
Agora que você concluiu suas respostas reflexivas, leia e
veja o quanto você é capaz! Viu? Agora envie seu texto para mim por e-mail.
Estou esperando!
1ª
Bibliografia consultada: MEIRELES, Cecília. Problemas da
Literatura Infantil. São Paulo: Summus, 1979.
Aula elaborada por Claudete da Mata!
OBS. Devido a comemoração dos 2 anos da Oficina Literária Boca de Leão, o grupo estará apresentando a tarefa no encontro de agosto!
No dia 24 de julho, o grupo estará narrando histórias ao público convidado!
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