domingo, 31 de agosto de 2014

ACADEMIA BRASILEIRA DE CONTADORES DE HISTÓRIAS - SEDE EM SC

Aos 2 do junho de 2014, fundamos a Academia Brasileira de Contadores de Histórias/ABCH, Sede SC, na Biblioteca Pública de Santa Catarina, Centro - Florianópolis.
(Membros Fundadores)
 O Evento de Posse dos primeiros Acadêmicos Patronos/Titulares, acontecerá em 12 de dezembro de 2014, no Centro Integrado de Cultura - Florianópolis/SC.

Fique atento porque em breve estaremos postando um Convite a todos os nossos leitores, para que possam estar lá para conferir e prestigiar este momento de perpetuação do narrador oral e da sua literatura passada de geração à geração, desde a era das cavernas.

Claudete T. da Mata
Mentora da ABCH

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

ISSO JÁ ACONTECEU COM VOCÊ?

O Sol acordara com a mesma exuberância.

Era sábado e na primeira hora da manhã, o rapaz acorda e sente um silêncio de gelar o coração. Levanta-se da cama e sacode a cabeça. De repente chama pelos pais. E nada de ninguém responder.

Então ele sai do quarto e vê a casa tomada pelo silêncio, sem um barulho sequer. Daria para ouvir o bate-papo das moscas em qualquer canto da casa. E nada de barulho humano. De nenhum ser vivente... Nada!

O rapaz fica apavorado e desce a escada. Vai até a sala. Não vê ninguém. Vai até a cozinha, mas não encontra a mãe que sempre está lá fazendo alguma coisa. Coisas de mãe. Então ele toma café e saboreia cada gole pensando nas pessoas da casa. Ao solver o último gole de café, ele vai até seu quarto, já conformado com o seu fim, antes passa pelo quarto da irmã e lá estava ela com uma aparência um tanto estranha. 

 Ao ver a irmã, o rapaz falou de si para consigo:

 - Bom seria se ela não estivesse ali. E agora, se eu também estiver no meu quarto?
Ele sacudiu a cabeça continuou a andar em direção do seu quarto, também silencioso. Cada passo parecia uma eternidade. Enquanto caminhava, o rapaz continuava a pensar:

- Se eu não estiver na minha cama, estarei mesmo aqui, agora se eu estiver lá, então só me restará esperar por alguém. Não sou tão ruim assim. Alguém virá ao meu encontro. Minha mãe sempre fala que do outro lado sempre há alguém a nossa espera. Se ela diz, é certo que alguém, o nosso anjo de guarda, quem sabe deve estar lá para nos receber. Deve ser isso, mas se não for será outro alguém, de repente um conhecido de bom coração... Alguém virá ao meu encontro.

Mil coisas passaram pelo seu pensamento até chegar e abrir a porta do quarto. Suas pernas enfraqueceram e uma tremedeira subiu-lhe até a testa. Seu corpo estava todo contraído.

- E agora, abro ou não abro esta porta? E se eu estiver lá, o que farei? Coooragem... Onde está você? Responde!!!

Mas ele precisava abrir a porta e acabar com aquela agonia que parecia sufocar-lhe por inteiro.

A porta parecia estar emperrada. Parecia mais pesada que o habitual.
Finalmente o rapaz virou a maçaneta que abriu a porta. Uma brisa banhou o rosto do rapaz, que inspirou o ar até encher o seu ventre e, em seguida, o esvaziou lentamente. Com os olhos fechados ele deu o primeiro passo para dentro do quarto que antes lhe parecia bem mais fácil entrar.

Ao dar o segundo passo, o rapaz soltou o corpo preso de tão contraído que estava. ele parecia estar amarrado dos és até a cabeça. Era uma sensação que jamais sentira antes.

- Agora preciso abrir meus olhos...

Finalmente ele conseguiu e ao olhar sobre a cama, seu corpo não estava lá. E o rapaz alisou a coberta, levantou-a para ver se ele não estava embaixo dela... Nada encontrou.

Agora era só alegria. O rapaz correu de volta à cozinha, encheu outro caneco de café, preparou um belo pão com queijo, salame e muita maionese. sentou-se tranquilo e... Agora sim, tomou o café da manhã. Até fez algo que não suporta ver ninguém fazer: deu pão para a sua cachorra Gracinha.

O rapaz alegrou-se por ainda estar do lado de cá!

Ao ouvir o barulho do carro de seu pai, ele correu até a porta da sala e os recebeu com um abraço que não era o mesmo. Agora ele os olhou com outros olhos. Os olhos de ternura e agradecimento por darem a ele mais um ano de vida. Uma vida de grandes certezas. Certezas que transcendem o saber recebido por eles. Saber com recursos de pensar.

Era a véspera de seus 23 anos. 
De Claudete da Mata



sábado, 9 de agosto de 2014

07 DE AGOSTO: FORMAÇÃO CONTINUADA DE CONTADORES DE HISTÓRIAS

 Profª Ms. Claudete T. da Mata, ministrante do Grupo Boca de Leão, por meio de seus estudos anteriores e suas constantes pesquisas, oferece aos integrantes do grupo, ainda em processo de formação, todas as vivências possíveis à “arte de contar histórias” juntamente com os encontros de criações literárias (de 2012 aos dias atuais. Ao analisar as necessidades do grande grupo, na companhia de Evandro Jair Duarte, seu grande parceiro na constituição deste Grupo, em reunião de avaliação, decidem pela divisão das ações da Oficina Literária Boca de Leão em dois Grupos Distintos: 1) Grupo de formação de escritores; 2) Grupo de formação de contadores de histórias. Desde 24 de julho de 2012, as pessoas que permaneceram no grupo foram iniciadas na prática da literatura oral e suas narrações em público com os “Espetáculos de Contação de Histórias” para diferentes tipos de público, até iniciarem a narração oral para o público infantil, a partir de 2013, originando a “Trupe de Contadores de Histórias Boca de Leão”. Em 2 (dois) de junho de 2014, Claudete fundou a Academia Brasileira de Contadores de Histórias e deu início ao “Curso de Formação Continuada de Contadores de Histórias”, visando o refinamento das práticas da oralidade dos contadores de histórias interessados, e membros da Academia, sendo aberto a todos os interessados por esta arte milenar, hoje encontrada nos livros e na própria internet, em forma de registros feitos pelos estudiosos e pesquisadores no desvendar do véu que preserva os fios da memória da nossa ancestralidade...

BIBLIOTECA PÚBLICA DE SANTA CATARINA

TERCEIRO ENCONTRO

A aula teve início às 18h com um diálogo entre a contadora de histórias Maria Sônia e a orientadora do curso.
Iniciamos pelo processo de revisão da prática da oralidade, por meio de imagens em vídeo, gravações feitas na aula anterior (10 de julho), em que o grupo foi convidado a participar da técnica da oralidade de improviso por meio de cartões com pedaços de histórias.
Os cartões pertencem à caixa intitulada “A fantástica fábrica de histórias para crianças”, contendo introduções de histórias com o objetivo de levar os narradores a darem continuidade do jeito que a imaginação de cada um funcionar. Ou seja, os cartões servem para incitar o processo imaginativo e agilizar o processo criativo dos contadores, dessa forma, fazendo reverberar a criatividade ao se verem em situação de improviso. São inícios de histórias temáticas, com situações nojentas, engraçadas, tristes... Temas variados contendo fatos inusitados. Circunstâncias impossíveis, podendo estar próximas ou distantes da realidade. Podemos dizer: fotos quase reais!
Nesta prática, cada narrador tem a liberdade de dar continuidade à história e seu fechamento, viajando pelos fios da sua memória.

Após o tempo de leitura proposto pela coordenadora, cada participante subiu ao palco e narrou a sua história que foi filmada com o consentimento de todos, para ser analisada individual e no coletivo, nesta e na aula posterior, quando estaremos passando para a Segunda Fase do Curso: Processo de análise da práxis com repetição da histórias - narração para revisão dos elementos a serem melhorados.
Dessa forma, deu-se início nesse encontro, onde a primeira a servir de instrumento de ensino e aprendizagem foi Maria Sônia, que ao analisar a própria prática por meio do vídeo, ficou atenta às suas necessidades a serem trabalhadas, como: Entrada e saída do universo da história, direção do olhar, criação da imagem virtual, pausas entre uma situação e outra, dando ao leitor/ouvinte o tempo para ver a imagem construída pela narradora, construção virtual das personagens por meio da expressão corporal, ritmo da voz e suas caricaturas quando há retratação das personagens (interpretação), como também as demonstrações das personagens secundários presentes no enredo, linguagem simbólica no exercício da fala expressiva... Um conjunto de fatores de extrema importância no contexto das histórias na formação do ser humano, no estímulo da oralidade e no exercício da fala expressiva, uma tríade que faz parte da arte de contar histórias. 

Este universo de fatores vistos pelas narradoras, elementos a serem trabalhados para o refinamento da suas práticas, desta e das demais contadoras, como: Aparecida Facioli, que viu-se presa à arte teatral, necessitando dar espaço ao narrador para sair da representação que caracteriza a prática teatral, em vez da narração oral voltada à arte de contar histórias, com abertura e fechamento do conto. Ao ter o aprendizado teatral enraizado pela  experiências anteriores, atualmente Aparecida apresenta dificuldade de sair da interpretação para a contação de histórias, propriamente dita. Porém, como tem apresentado vontade de separar a atriz da contadora de histórias, ela se propõe às mudanças por meio de exercícios da prática da oralidade, para aprender como intercalar os diferentes papéis: contador, narrador, personagem, entrada, meio e saída da história (fechamento).

Aqui aconteceu um debate muito importante para todos, onde o grande grupo, a maioria com experiências na arte teatral, chegou-se ao entendimento de que: dramatizar é muito mais cômodo, que narrar uma história, tendo que viver uma multiplicidade de papéis. Um deles que a maioria dos participantes encontrou dificuldade, está no papel do narrador ao ter que: hora narrar, hora interpretar, cuidar das pausas para respirar, estar e viver o momento da história, sem pressa de terminar, dando ao leitor/ouvinte o tempo que ele precisa para viver e interagir com o narrador - uma gama de compromissos que na arte teatral não se faz presente, pelo fato do ator entrar, desde o início, na personagem, sem a existência de um narrador do início ao fechamento do roteiro. E, ao ver que antes do ator veio o narrador (contador de histórias), lá nos primórdios da humanidade,os participantes do Curso passaram a entender o importante papel do contador de histórias na preservação das histórias.griot4

griot 7Os griots (griôs), do frances “guiriot” e do português “criado”. Eles são contadores de histórias milenares que ainda existem porque preservam a cultura do narrador oral. Atualmente, eles vivem em várias localidades da África Ocidental, Mali, Gâmbia, Guiné e no Senegal. Eles estão entre os povos Mandê (Mandingas ou Mandinka, etc.), Fulɓe (Fula), Hausa, Songhai, Tukulóor, Wolof, Serer, Mossi, Dagomba, Árabes da Mauritânia e outros grupos. Os griots são contadores de historias que ensinam as lendas e os costumes de seu povo. Bem antes da invasão dos europeus nesse continente, os Griôs já existiam e transmitiam os seus ensinamentos. As narrações dos Griôs são na maioria das vezes cantadas. Os instrumentos musicais ajudam a dar ritmo e musicalidade à narrativa.A narração oral da história e sua tradição foi o aspecto essencial das religiões nativas.img 

As civilizações que vieram antes de  nós são muitas e há quem diz que nas Histórias de Poder, por exemplo, a civilização dos Xamãs foram os primeiros contadores de histórias. Dessas histórias se conserva o conhecimento através das gerações.
O Contador de Histórias criava vínculo, fazia curas, clarificava a identidade, celebrava os paradoxos da vida, os divertimentos.Ele também estava presente mantendo ou criticando a história, servia de reforço cultural e religioso. (http://www.xamanismo.com.br/Poder/SubPoder1191421937.

As contadoras de histórias, Viviane e Idê, também apresentaram as mesmas necessidades que Maria Sônia e Aparecida. Por exemplo, Idê, por ter vindo da poesia, está surpresa com o seu crescimento na arte de contar histórias. Ela possui boa impostação e ritmo de voz, necessitando diferenciar a voz do narrador da personagem (caricatura da voz), cuidar das pausas entre uma situação e outra, soltar a voz na hora da fala das personagens, refinar o processo de constituição das imagens virtuais, aprimorar sua entrada e saída do contexto da história, exercitar a paciência dando tempo ao tempo da história, sem pressa de fazer o fechamento, saber desligar o relógio interior, abrir a porta da história e pular de fora para dentro dela: entrada no universo imaginário, podendo ver, viver e mostrar à plateia o que acontece dentro do contexto da história ao retratar as personagens, seus movimentos com expressividade, seus sentimentos, suas necessidades... 

Com Viviane, por ter chego à arte de contar histórias sem experiências com outros universos anteriores, não encontra-se na mesma situação que as colegas. É uma contadora que chegou sem elementos que dificultasse a sua aprendizagem na arte de contar histórias, o que facilitou o seu processo de análise para o refinamento de sua práxis. Tudo para Viviane tem sido menos doloroso.

Ao final desse processo, foi entregue aos participantes, um pedaço de papel para o registro de uma necessidade marcante a ser trabalhada na prática da oralidade.

A orientadora esclareceu sobre a necessidade do Grupo estar trabalhando a sua práxis sem a ansiedade de buscar uma resolução imediata para as dificuldades apresentadas; que neste Curso, todas as dificuldades estarão sendo trabalhadas como elementos a serem aperfeiçoados, e não eliminados. Isso deixou o Grupo mais tranquilo e certo de que o empenho, interesse e a disciplina de cada um, fará a diferença no processo de aperfeiçoamento da narração oral.

Esse processo de análise terá continuidade na próxima aula. Os participantes levaram para casa, como tarefa, após Maria Sônia, Aparecida e Idê terem subido ao palco, para narrar histórias – aquelas que serão contadas na programação de outubro e dezembro. São histórias que serão exercitadas em casa, com base nas necessidades levantadas nessa aula e nas orientações recebidas, que serão narradas na aula posterior (dia 21 de agosto), quando o grupo estará vendo as possíveis resoluções após as orientações da orientadora, sobre os elementos a serem trabalhados durante o curso - um deles está o olhar do narrador observador, não o contador com pressa de finalizar a história.

Por fim, todos começaram a entender que o contador de histórias, narrador oral, necessita do olhar atento ao enredo, para estar dentro da histórias, e assim poder ter o seu cuidado com o véu narrativo no desnudar do universo imaginário. 

Nesse encontro, recebemos uma visitante que, ao assistir e conhecer o nosso trabalho, decidiu retornar na próxima aula. Seu comentário com as integrantes foi que, enquanto observadora, aprendeu muito com tudo o que viu, ouviu e vivenciou.

Fechamos esse encontro com a canção “Todo mundo conta histórias...” autoria do contador de histórias e compositor Pollo (chileno), um momento em roda de fechamento harmônico em Grupo.

Sem uma máquina digital, ficamos sem registro das imagens, porém, com os fios da memória bem alimentados.

  (Texto elaborado por Claudete T. da Mata e protegido pela Lei de Direitos Autorais: LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998. Florianópolis, SC, 08.08.2014)



DESEJO DE CRIANÇA

 Uma homenagem a todas as crianças que só ganham bichinhos de pelúcia.
 MINHA LINDA TEM 13 ANOS. ELA PARECE UMA GATINHA DORMINHOCA E NUNCA ROEU NADA, ALÉM DE SABOROSAS TORRADAS. ELA VEIO PARA MIM DEPOIS DA MINHA MENINICE. POR ISSO FIZ ESTA CANÇÃO!

Eu queria ter um cão
Pra brincar lá no meu quarto
Pra fazer estripulias,
E roer o meu sapato.

Eu pedi o dia inteiro
Um cãozinho para mim
Mas meus pais me responderam:
- Ele está lá no jardim!

Eu fiquei feliz,
Eu fiquei feliz
E brinquei o dia inteiro

Eu fiquei feliz,
Eu fiquei feliz
E corri lá no jardim. (bis)

Eu agora tenho um cão
Que se chama Peludinho.

Peludinho dinho dinho
Peludão dão dão
Não está lá no jardim...

Peludinho dinho dinho
Peludão dão dão
Mora no meu coração. (bis)
Quando eu lhe acaricio,
Ele fica bem feliz. (bis)

 Peludão dão dão
Peludinho dinho dinho
Mora no meu coração. (bis)

Eu queria ter um cão
Pra brincar lá no quintal
Pra fazer estripulias
Puxar roupas do varal...

Peludão dão dão
Peludinho dinho dinho
Mora no meu coração.(bis)

Eu queria ter um cão
Pra brincar o dia inteiro
Pra fazer umas piruetas
E rolar lá no quintal

Peludão dão dão
Peludinho dinho dinho
Mora no meu coração. (bis)

Eu queria ter um cão
Pra brincar o dia inteiro
Pra roer às escondidas
A ponta do seu travesseiro.

Peludão dão dão
Peludinho dinho dinho
Mora no meu coração. (bis)

Eu queria ter um cão
Pra brincar o dia inteiro 
Pra roer de manhãzinha
A sandália da maninha...

Peludão dão dão
Peludinho dinho dinho
Mora no meu coração. (bis)

Eu queria ter um cão 
Pra brincar o dia inteiro
Pra roer o chulesão do sapato do João...

Peludão dão dão
Peludinho dinho dinho
Mora no meu coração. (bis)

Eu queria ter um cão 
Pra brincar o dia inteiro
Puxar o vestido da menina
E morder o seu traseiro.

Peludão dão dão
Peludinho dinho dinho
Mora no meu coração.

 Peludão dão dão
Peludinho dinho dinho
Onde está o meu cãozinho?

(De Claudete T. da Mata, Agosto de 2014)

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

DA ANTIGA ARTE DE NARRAR HISTÓRIAS À CONTEMPORANEIDADE

“GRUPO BOCA DE LEÃO" –DE 2012 AOS DIAS ATUAIS!

As apresentações do "Grupo Boca de Leão ” é prova viva da preservação do narrador de histórias, uma matilha que em tão pouco tempo já deu frutos em dois anos de estudos, pesquisas com histórias universais, dessas que chegaram até nós, desde a nossa meninice, por meio da Tradição Oral. Atualmente contamos histórias em espaços fora de casa. Será que os pais da nova geração não ouviram histórias na sua meninice? E seus avós o que tem lhes contado? Será que eles também já se esqueceram do tempo das histórias contadas ao pé do fogão à lenha? Eu não! E você?

Envolvida com o Grupo, a atriz, contadora de histórias e escritora Claudete da Mata, profissional com um nível de experiências socializadas em grupo, resgata da Antiga Arte de Narrar Histórias, sempre buscando a sensibilidade de todos, com seu estilo de interpretação das histórias passadas de boca em boca, cheias de saberes capazes de provocar o imaginário de quem já esqueceu que já foi criança um dia; capaz de mostrar aos integrantes dessa matilha o quanto todos são capazes quando sobem ao palco e entram para dentro das histórias, por tudo o que elas tem a nos oferecer.


São valores, princípios e conteúdos que chamam o narrador e o cativam, assim como encantam tanto adultos como crianças. Além dos vários recursos cênicos, com ou sem cenário, figurinos, músicas, sons retirados de instrumentos de cena, todos especialmente compostos, a narradora também se utiliza de bonecos vivos e efeitos de que retratam a mágica retratação do universo simbólico.
Pela sua qualidade, o "Grupo Boca de Leão”, mesmo ainda não sendo indicado a qualquer Prêmio, já no primeiro trimestre de atuação em 2012, deu prova de seu crescimento e competência na "arte da oralidade"  e seu maior Troféu é ter a atenção do público que nos indica qual o próximo  caminho a seguir e um deles foi iniciar em 16 de junho de 2014 o "Curso de Formação Continuada de Contadores de Histórias - Nível Intermediário", aberto a todos os públicos a partir dos 10 anos de idade, com dois encontros mensais: dois para a formação de contadores de histórias e dois destinados à "Formação Continuada de Escritores", trabalhando com o estilo de cada integrante, sem mudar a forma, mas, estar refinando os estilos.
O "Grupo Boca de Leão”, no cumprimento de sua missão em prol da arte e da  Cultura Educativa, por meio de estudos e pesquisas, é levado às tarefas de estimulação do imaginário no incentivo da criatividade e proporcionando a todos uma otimização das suas estruturas internas, até os fios da memória, trazendo para os dias de hoje, o conhecimento das histórias da Tradição Oral Milenar, onde podemos encontrar uma fonte inesgotável de conteúdos e procedimentos éticos e estéticos na formação do seu público pela carga de informações adquirida no decorrer de seu processo junto à crianças, adolescentes e adultos, até à terceira idade.

SEU SUCESSO EM PÚBLICO E CRÍTICA EM GRUPO

Seus espetáculos estão sempre à disposição na Ilha de Santa Catarina, em temporadas distintas: no auditório e no Setor Infantil da Biblioteca Pública de Santa Catarina, desde 2012, em teatros da redondeza e Escolas dos Municípios vizinhos e eventos literários e culturais com sucesso, e sendo indicados como ações de um grupo dedicado à criação literária e à arte da oralidade. Sua divulgação acontece pelos meios eletrônicos e pela internet nas redes sociais e por e-mail.
O “Grupo Boca de Leão” já se apresentou no Teatro da UBRO, para Escolas de vários Municípios, Escolas Públicas e Particulares e Eventos Universitários. O Grupo está caminhando com o Espetáculo "Para Contar e Imaginar: Um dia de Contação de Histórias" e a "Távola Quadrada: Uma conversa com escritores, contadores de histórias, portas e outros atores", sempre no mês de outubro, com apresentações em Eventos do Município de Florianópolis e Datas Comemorativas e a convite de outras Empresas que levam a arte de contar histórias ao seu público.                                 
                                                                                    Claudete, acima, com as crianças numa interação narrativa com o "Velho João, o filho da bruxa", em 2013, na Semana Municipal do Livro e da Leitura, no Setor Infantil da Biblioteca Pública de Santa Catarina/BR.

Nossos contadores, narradores orais, pelo seu crescimento e competência, têm a pretensão de estar se apresentando por excursões em outras Capitais do Brasil, por que não em outros países. Já recebemos um convite para nos apresentar em Portugal. É só conseguir um patrocínio que estaremos lá. Afinal, quando temos um sonho que se sonha junto, tudo pode ser possível!

Resumo das Histórias apresentadas no “Boca a Boca” – A Antiga Arte de Contar Histórias:

São mais de vinte Histórias narradas com a utilização de bonecos, musicas e figurinos de livre escolha, que favorecem ao público um clima e um ritmo diferente a cada História, todas de autoria dos integrantes do "Grupo Boca de Leão". Podemos citar alguns para exemplificar o processo criativo do Grupo.

Contos de Animais:  

"Animais em Revolta", autoria de Andrea Dias, conta a história de um homem ambicioso que invade uma floresta e passa a sacrificar os animais em causa própria. Tudo em nome do "Progresso".
"A Pata Felícia", autoria de Luiza Abnara (9 anos), fala sobre as consequências da desobediência dos filhos. 

"Dona Aedes e o Besouro Rola-Bosta", autoria de Dora Duarte, conta sobre as provocações do mosquito da Dengue com o vizinho Besouro, numa disputa de quem faz o melhor para si e pela sobrevivência dos seus.

"Macaco Maca", autoria de Antonieta Merces, conta sobre as travessuras e brincadeiras.

"A Toupeira e o Gambá Ludovico", de Aparecida Facioli, fala sobre a inusitada amizade dois animais e do fascínio de alguém ao ver o mundo do outro lado da realidade.
Contos de Encantamento:

"Velho João, o Filho da Bruxa", autoria de Claudete da Mata, um conto que retrata a cultura da Ilha de Santa Catarina ao falar sobre um grupo de pescadores que encontram um menino perdido no meio de um milharal, uma benzedeira que faz a reza de proteção ao menino e a bruxa (mãe da criança). Uma história que surpreende, provoca a comoção, medo e encantamento, aguçando na plateia a curiosidade do saber e a preservação das histórias  passadas de geração à geração.

"A Missão de Nanúbio", autoria de Dora Duarte, conta a história de um velho sábio e um chefe de um povo nômade que, para ter a cura de seus três filhos cegos, rouba um menino (príncipe) sábio que ensina-lhe uma grande lição.

 "Tão Somente um Olhar", de Viviane R. dos Santos", retrata um caso de maldições de uma família real em que o reflexo do espelho fica impedido de ser notado devido a vaidade  e o egoísmo de uma princesa mimada. Um jogo entre a maldade e a bondade, a opressão e a submissão.

Contos da Carochinha (de domínio público): "A Viúves da Dona Barata", releitura de Claudete da Mata, retrata a tomada de decisão feminina na aquisição do matrimônio, suas escolhas, sua independência financeira, sua garra em conseguir o que deseja por esforço próprio e algumas das suas satisfações ao sentir-se ofendida. 

Contos de outros autores:

Ana Maria Machado - "Menina Bonita do Laço de Fita", Conta a história de um coelhinho bem branquinho que faz de tudo para ficar pretinho como aquela menina do laço de fita que ele acha linda. Mas ele não sabe como a menina herdou aquela cor. 

É o tipo de tema que trabalha  com a diversidade, não somente com o objetivo de apresentar aos alunos a riqueza das diferenças éticas-cultural brasileira e contribui para que as crianças se apropriem de valores éticos como o respeito por si e ao outro, mas também com o objetivo de elevar a autoestima da pessoa de cor negra.

Conto da tradição oral: "Os Sete Cabritinhos"uma fábula alemã publicada pelos Irmãos Grimm, pertence ao chamado "ciclo fabular do lobo", um animal que aparece como símbolo de selvageria e ferocidade e o cordeiro, ou cabrito, aparece como símbolo da inocência desamparada, da ingenuidade ou da fraqueza, que por sua vezes consegue vencer o malvado pela esperteza. Existem 4 fábulas deste tipo que eram, provavelmente, contadas pelos pais  a seus filhos com o objetivo de ensinar, uma prática necessário a sua sobrevivência da época, quando os pais tinham que deixá-los sozinhos em casa durante o dia, para sair às compras ou para o trabalho.





Aparecida Facioli sempre entra em cena assim vestida de "mamãe cabra" e eu prefiro entrarim com a "Menina Bonita de Laço de Fita" na fase adulta narrando sua história à menina bebê.


Pessoas Parceiras:

 

 Temos muitas pessoas à nossa disposição, uma delas é Maria do Carmo Tridapalli Facchini, Presidente da academia de Letras de Nova Trento. ela está sempre a nos chamar para os Eventos Literários, onde somos convidados para narrar as nossas histórias que hoje temos mais de 40 ao todo. são histórias para aprender, para contar, para dançar, rir, se assustar e para gargalhar.



Com a chegada da Rita Teixeira, nos dois grupos (Criação literária e de contação de histórias) agora temos a "Dança Narrativa" como meio de trabalhando a consciência corporal no refinamento da arte de contar histórias.
 Enquanto toca seu instrumento, Rita dança e enquanto dança, ela narra este conto:

Uma pequenina luz bruxuleante

Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta

une toute petite lumiére
just a little light

una piccola…em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a advinham e raivosamente assopram.

Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha, bruxuleia, ondeia

Indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.

Uma pequenina luz bruxuleante e muda
Como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
No meio de nós.
Brilha.

(Conto da tradição portuguesa de Jorge de Sena)


Um conto que encanta pela fala que o corpo conta. É para Aprender além das palavras.

E assim o "Grupo Boca de Leão", após dar os seus primeiros passos, vai levando ao público de todas as idades, as suas Histórias, umas sobre o Amor e a obstinação, outras sobre mulheres que enfrentam todos os possíveis perigos para alcançar os seus desejo. Tem História sobre Limite, Poder e Igualdade, sobre desejos e dificuldades nos relacionamentos, tem histórias de humor e aquelas contadas com humor, tem bonecos contadores de histórias.
A maior parte das nossas Histórias retrata animais que falam e sentem coisas, expressam afetos e demonstram capacidade de pensamento lógico que divertem e surpreendem o leitor/ouvinte. Parafraseando o psicanalista Jung, os animais falantes, do tipo a "Quiquita, a porquinha que sabia pensar", de Saray Martins (integrante do Grupo Boca de Leão) é o tipo de animal que representa a psique não humana, o infra-humano, o instintivo, bem como o lado psíquico inconsciente dos humanos.

Temos contos de animais que retratam o conflito entre os homens (do tipo que se julga superior aos demais seres da natureza) e os animais que, mesmo não conseguindo falar a linguagem humana, consegue mostrar o quanto são capazes.



Entre os contos que vão surgindo, na medida em que o processo criativo de cada Integrante vai sendo cutucado e pela constante busca de saberes, o repertório do grupo vai reverberando e novas revelações vão ganhando corpo e voz que contam e encantam crianças e adultos. 

Temos fabulosas criações de Contos de Encantamentos, com bruxas e mães madrastas, dessas que ainda existem nas entrelinhas dos relacionamentos atuais, que surpreendem e despertam a curiosidades das crianças que, provocadas, fazem perguntas às narradoras, do tipo que surgiu na "roda de apreciação" feita no dia 14 de abril, na Biblioteca Pública de Santa Catarina, em Florianópolis, quando as crianças sentadas em um grande círculo, começaram:

- Bruxa tem mãe? 
- De que barriga tu saísse? - perguntou um menino para mim.  Ele, um tanto convicto do que passara pelo seu imaginário, solicitou uma resposta e eu, pega de surpresa, parei, cantei uma narração ligada ao questionamento da criança, num ritmo lírico... 

Enquanto cantarolava, pensava e buscava nos fios da memória a resposta mais adequada, uma que não provocasse o rompimento da magia do conto. E quando encontrei a resposta, levei às crianças a uma viagem pelos fios da memória ao encontro da resposta. 

Então respondi em forma de diálogo. E tudo aconteceu assim:

Existem bruxas de todos os tipos: boas, malvadas e não tão malvadas como dizem. Elas também já foram como todas as crianças que saem das barrigas de suas mães. Umas saem de barrigas boas e outras não. No caso das "bruxas boas", assim como eu e, também, de todas as meninas que estão aqui, certamente saímos de uma barriga boa. Se não fosse assim, eu não entraria nesta Biblioteca. Sabem por quê?

- Não! - responderam todos num só coro.

- Eu sei!!! - gritou uma das meninas - É porque aqui só entra "bruxa boa". Ufa!

Esse "Ufa" retratou o alívio da menina em sentir-se segura dentro da Biblioteca.

Eu não estava vestida de bruxa, porém, meu cabelo, minha roupa, a própria narrativa do "Velho João, o filho da bruxa", um conjunto de fatores que levou o menino à conclusão de que eu era a própria "bruxa". Ao entrar no universo dos Contos de Fadas, cabe ao narrador oral estar pronto para sanar dúvidas solicitadas pelo público. Caso contrário, o melhor a fazer é não entrar neste universo, preferindo ficar com outras categorias, principalmente quando lidamos com o imaginário infantil.
 
COM OS CONTOS DA DONA CAROCHINHA E DO SENHOR LOBO, ACONTECE O MESMO: AS CRIANÇAS FAZEM CADA PERGUNTA!


Com frequência, sempre falo aos contadores que aprendem comigo (porque juntos tecemos uma rede de preservação  do contador de histórias, narrador oral): "quem gosta de narrar histórias para crianças, precisa criar o hábito de estudo e pesquisa, buscando na nossa ancestralidade o domínio da narrativas, a arte de falar com o corpo, o domínio da linguagem simbólica, o conhecimento dos fatos contidos nos contos, conhecer a vida das suas personagens, conhecer o psicológica de cada personagem, evitando representações  sem açúcar, nem sal, sem imagens, nem movimentos solicitados pela trama... Como se atrás de nós, nas nossas laterais, à nossa frente caminhasse paralelo a cada passo dado por nós, uma personagem a ser retratada e vivida por nós. Por isso, o "contador de histórias" e assim escritor do enredo precisam caminhar juntos, cada qual no seu lugar. Enquanto narrador oral, o contador necessita ter esta consciência. e quando tem, sabe pular de fora para dentro dos contos, com os devidos cuidados no tratamento de sua impostação em cena. Seja verbal ou corporal.
   
 Aqui a Contadora de Histórias Idê Bitencourt, do "Grupo Boca de Leão", sem figurino, porem com a capacidade de entrar no universo imaginário, leva ao público a visão do enredo por meio de seu estilo próprio e , fazendo reverberar todas imagens: personagens, lugar onde tudo acontece, ela conta e encanta o leitor/ouvinte.

A capacidade do narrador de desdobrar o universo imaginário, em cena, torna, por exemplo, uma frase mais enfática ao saber qual a frase correta, qual a melhor impostação de voz, o que deve ser desenvolvido para um melhor aproveitamento vocal e para o domínio da consciência corporal quando está na presença do público sem estar preso no olhar da plateia, algo que prejudica a maior dos contadores de histórias, assim como também acontece com aquele escritor tímido, que prefere mostrar sua obra depois de pronta.

Quando a história é de bruxas com suas fadas, uma História sobre a Determinação e a Construção da Individualidade, por exemplo, de uma princesa que acredita que o seu destino está nas suas próprias mãos e luta pela realização de seu sonho, só os psicanalistas do século passado conseguem explicar.

Podem-se perguntar as razões pelas quais a psicologia junguiana se interessa por mitos e contos de fada. O Dr. Jung, disse certa vez, que é nos contos de fada onde melhor se pode estudar a anatomia comparada da psique. Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais elaborado obtém-se as estruturas básicas da psique humana através da grande quantidade de material cultural. Mas nos contos de fada, existe um material consciente culturalmente muito menos específico e, consequentemente, eles oferecem uma imagem mais clara das estruturas psíquicas (FRANZ, 1990: 25).

 A origem dos contos de fadas, segundo Marie Louise Von Franz (apud GIGLIO, 1991: 3), parece residir em uma potencialidade humana arquetípica (aliás, não somente os contos de fada, como todas as fantasias). Antigamente os pastores, lenhadores e caçadores, passavam bom tempo de suas vidas sozinhos nas florestas, campos e montanhas. Acontecia que repentinamente eram assaltados por uma visão interior muito forte, que os alvoroçava por inteiro. Corriam então de volta a suas aldeias e relatavam o que lhes tinha acontecido a todos que o quisessem ouvir. Daquela visão inicial, iam-se formando lendas, e mais tarde “contos maravilhosos”. O pensamento mítico, no caso dessas visões espontâneas, é compreendido como um pensamento essencialmente pré-lógico, elementar e arquetípico. Os arquetípicos por definição, são fatores e motivos que ordenam os elementos psíquicos em imagens, de modo típico. (VILLELA) 

A faixa etária dos nossos Espetáculos é a partir de 4 anos - também indicado aos jovens e adultos, até mesmo para bebês.

Para contratar nossas apresentações,  fale conosco pelo e-mail dandaradosaracas@gmail.com

Nós nos apresentamos em grandes e pequenos Espaços. O importante é irmos até o público interessado em ver, ouvir e interagir com as Histórias!

Texto elaborado por Claudete da Mata

Fotos de Inês Carmelita Lohn (2014) e de Claudete da Mata (2012 - 2014)


BIBLIOGRAFIA:


FRANZ, Marie-Louise Von. A Interpretação dos Contos de Fada. 3ª ed. Trad. Maria Elci Spaccaquerque Barbosa. São Paulo: Paulus, 1990.

------.  A Sombra e o Mal nos Contos de Fadas. São Paulo: Paulinas, 1985.

VILLELA, Joana Raquel Paraguassú Junqueira. OS CONTOS DE FADA NO PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO. 
-------. http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno12-15.html
Visitado em 06 de agosto de 2014.