Era sábado e na primeira hora da manhã, o rapaz acorda e sente um silêncio de gelar o coração. Levanta-se da cama e sacode a cabeça. De repente chama pelos pais. E nada de ninguém responder.
Então ele sai do quarto e vê a casa tomada pelo silêncio, sem um barulho sequer. Daria para ouvir o bate-papo das moscas em qualquer canto da casa. E nada de barulho humano. De nenhum ser vivente... Nada!
O rapaz fica apavorado e desce a escada. Vai até a sala. Não vê ninguém. Vai até a cozinha, mas não encontra a mãe que sempre está lá fazendo alguma coisa. Coisas de mãe. Então ele toma café e saboreia cada gole pensando nas pessoas da casa. Ao solver o último gole de café, ele vai até seu quarto, já conformado com o seu fim, antes passa pelo quarto da irmã e lá estava ela com uma aparência um tanto estranha.
Ao ver a irmã, o rapaz falou de si para consigo:
- Bom seria se ela não estivesse ali. E agora, se eu também estiver no meu quarto?
Ele sacudiu a cabeça continuou a andar em direção do seu quarto, também silencioso. Cada passo parecia uma eternidade. Enquanto caminhava, o rapaz continuava a pensar:
- Se eu não estiver na minha cama, estarei mesmo aqui, agora se eu estiver lá, então só me restará esperar por alguém. Não sou tão ruim assim. Alguém virá ao meu encontro. Minha mãe sempre fala que do outro lado sempre há alguém a nossa espera. Se ela diz, é certo que alguém, o nosso anjo de guarda, quem sabe deve estar lá para nos receber. Deve ser isso, mas se não for será outro alguém, de repente um conhecido de bom coração... Alguém virá ao meu encontro.
Mil coisas passaram pelo seu pensamento até chegar e abrir a porta do quarto. Suas pernas enfraqueceram e uma tremedeira subiu-lhe até a testa. Seu corpo estava todo contraído.
- E agora, abro ou não abro esta porta? E se eu estiver lá, o que farei? Coooragem... Onde está você? Responde!!!
Mas ele precisava abrir a porta e acabar com aquela agonia que parecia sufocar-lhe por inteiro.
A porta parecia estar emperrada. Parecia mais pesada que o habitual.
Finalmente o rapaz virou a maçaneta que abriu a porta. Uma brisa banhou o rosto do rapaz, que inspirou o ar até encher o seu ventre e, em seguida, o esvaziou lentamente. Com os olhos fechados ele deu o primeiro passo para dentro do quarto que antes lhe parecia bem mais fácil entrar.
Ao dar o segundo passo, o rapaz soltou o corpo preso de tão contraído que estava. ele parecia estar amarrado dos és até a cabeça. Era uma sensação que jamais sentira antes.
- Agora preciso abrir meus olhos...
Finalmente ele conseguiu e ao olhar sobre a cama, seu corpo não estava lá. E o rapaz alisou a coberta, levantou-a para ver se ele não estava embaixo dela... Nada encontrou.
Agora era só alegria. O rapaz correu de volta à cozinha, encheu outro caneco de café, preparou um belo pão com queijo, salame e muita maionese. sentou-se tranquilo e... Agora sim, tomou o café da manhã. Até fez algo que não suporta ver ninguém fazer: deu pão para a sua cachorra Gracinha.
O rapaz alegrou-se por ainda estar do lado de cá!
Ao ouvir o barulho do carro de seu pai, ele correu até a porta da sala e os recebeu com um abraço que não era o mesmo. Agora ele os olhou com outros olhos. Os olhos de ternura e agradecimento por darem a ele mais um ano de vida. Uma vida de grandes certezas. Certezas que transcendem o saber recebido por eles. Saber com recursos de pensar.
Era a véspera de seus 23 anos.
De Claudete da Mata
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