sábado, 9 de agosto de 2014

07 DE AGOSTO: FORMAÇÃO CONTINUADA DE CONTADORES DE HISTÓRIAS

 Profª Ms. Claudete T. da Mata, ministrante do Grupo Boca de Leão, por meio de seus estudos anteriores e suas constantes pesquisas, oferece aos integrantes do grupo, ainda em processo de formação, todas as vivências possíveis à “arte de contar histórias” juntamente com os encontros de criações literárias (de 2012 aos dias atuais. Ao analisar as necessidades do grande grupo, na companhia de Evandro Jair Duarte, seu grande parceiro na constituição deste Grupo, em reunião de avaliação, decidem pela divisão das ações da Oficina Literária Boca de Leão em dois Grupos Distintos: 1) Grupo de formação de escritores; 2) Grupo de formação de contadores de histórias. Desde 24 de julho de 2012, as pessoas que permaneceram no grupo foram iniciadas na prática da literatura oral e suas narrações em público com os “Espetáculos de Contação de Histórias” para diferentes tipos de público, até iniciarem a narração oral para o público infantil, a partir de 2013, originando a “Trupe de Contadores de Histórias Boca de Leão”. Em 2 (dois) de junho de 2014, Claudete fundou a Academia Brasileira de Contadores de Histórias e deu início ao “Curso de Formação Continuada de Contadores de Histórias”, visando o refinamento das práticas da oralidade dos contadores de histórias interessados, e membros da Academia, sendo aberto a todos os interessados por esta arte milenar, hoje encontrada nos livros e na própria internet, em forma de registros feitos pelos estudiosos e pesquisadores no desvendar do véu que preserva os fios da memória da nossa ancestralidade...

BIBLIOTECA PÚBLICA DE SANTA CATARINA

TERCEIRO ENCONTRO

A aula teve início às 18h com um diálogo entre a contadora de histórias Maria Sônia e a orientadora do curso.
Iniciamos pelo processo de revisão da prática da oralidade, por meio de imagens em vídeo, gravações feitas na aula anterior (10 de julho), em que o grupo foi convidado a participar da técnica da oralidade de improviso por meio de cartões com pedaços de histórias.
Os cartões pertencem à caixa intitulada “A fantástica fábrica de histórias para crianças”, contendo introduções de histórias com o objetivo de levar os narradores a darem continuidade do jeito que a imaginação de cada um funcionar. Ou seja, os cartões servem para incitar o processo imaginativo e agilizar o processo criativo dos contadores, dessa forma, fazendo reverberar a criatividade ao se verem em situação de improviso. São inícios de histórias temáticas, com situações nojentas, engraçadas, tristes... Temas variados contendo fatos inusitados. Circunstâncias impossíveis, podendo estar próximas ou distantes da realidade. Podemos dizer: fotos quase reais!
Nesta prática, cada narrador tem a liberdade de dar continuidade à história e seu fechamento, viajando pelos fios da sua memória.

Após o tempo de leitura proposto pela coordenadora, cada participante subiu ao palco e narrou a sua história que foi filmada com o consentimento de todos, para ser analisada individual e no coletivo, nesta e na aula posterior, quando estaremos passando para a Segunda Fase do Curso: Processo de análise da práxis com repetição da histórias - narração para revisão dos elementos a serem melhorados.
Dessa forma, deu-se início nesse encontro, onde a primeira a servir de instrumento de ensino e aprendizagem foi Maria Sônia, que ao analisar a própria prática por meio do vídeo, ficou atenta às suas necessidades a serem trabalhadas, como: Entrada e saída do universo da história, direção do olhar, criação da imagem virtual, pausas entre uma situação e outra, dando ao leitor/ouvinte o tempo para ver a imagem construída pela narradora, construção virtual das personagens por meio da expressão corporal, ritmo da voz e suas caricaturas quando há retratação das personagens (interpretação), como também as demonstrações das personagens secundários presentes no enredo, linguagem simbólica no exercício da fala expressiva... Um conjunto de fatores de extrema importância no contexto das histórias na formação do ser humano, no estímulo da oralidade e no exercício da fala expressiva, uma tríade que faz parte da arte de contar histórias. 

Este universo de fatores vistos pelas narradoras, elementos a serem trabalhados para o refinamento da suas práticas, desta e das demais contadoras, como: Aparecida Facioli, que viu-se presa à arte teatral, necessitando dar espaço ao narrador para sair da representação que caracteriza a prática teatral, em vez da narração oral voltada à arte de contar histórias, com abertura e fechamento do conto. Ao ter o aprendizado teatral enraizado pela  experiências anteriores, atualmente Aparecida apresenta dificuldade de sair da interpretação para a contação de histórias, propriamente dita. Porém, como tem apresentado vontade de separar a atriz da contadora de histórias, ela se propõe às mudanças por meio de exercícios da prática da oralidade, para aprender como intercalar os diferentes papéis: contador, narrador, personagem, entrada, meio e saída da história (fechamento).

Aqui aconteceu um debate muito importante para todos, onde o grande grupo, a maioria com experiências na arte teatral, chegou-se ao entendimento de que: dramatizar é muito mais cômodo, que narrar uma história, tendo que viver uma multiplicidade de papéis. Um deles que a maioria dos participantes encontrou dificuldade, está no papel do narrador ao ter que: hora narrar, hora interpretar, cuidar das pausas para respirar, estar e viver o momento da história, sem pressa de terminar, dando ao leitor/ouvinte o tempo que ele precisa para viver e interagir com o narrador - uma gama de compromissos que na arte teatral não se faz presente, pelo fato do ator entrar, desde o início, na personagem, sem a existência de um narrador do início ao fechamento do roteiro. E, ao ver que antes do ator veio o narrador (contador de histórias), lá nos primórdios da humanidade,os participantes do Curso passaram a entender o importante papel do contador de histórias na preservação das histórias.griot4

griot 7Os griots (griôs), do frances “guiriot” e do português “criado”. Eles são contadores de histórias milenares que ainda existem porque preservam a cultura do narrador oral. Atualmente, eles vivem em várias localidades da África Ocidental, Mali, Gâmbia, Guiné e no Senegal. Eles estão entre os povos Mandê (Mandingas ou Mandinka, etc.), Fulɓe (Fula), Hausa, Songhai, Tukulóor, Wolof, Serer, Mossi, Dagomba, Árabes da Mauritânia e outros grupos. Os griots são contadores de historias que ensinam as lendas e os costumes de seu povo. Bem antes da invasão dos europeus nesse continente, os Griôs já existiam e transmitiam os seus ensinamentos. As narrações dos Griôs são na maioria das vezes cantadas. Os instrumentos musicais ajudam a dar ritmo e musicalidade à narrativa.A narração oral da história e sua tradição foi o aspecto essencial das religiões nativas.img 

As civilizações que vieram antes de  nós são muitas e há quem diz que nas Histórias de Poder, por exemplo, a civilização dos Xamãs foram os primeiros contadores de histórias. Dessas histórias se conserva o conhecimento através das gerações.
O Contador de Histórias criava vínculo, fazia curas, clarificava a identidade, celebrava os paradoxos da vida, os divertimentos.Ele também estava presente mantendo ou criticando a história, servia de reforço cultural e religioso. (http://www.xamanismo.com.br/Poder/SubPoder1191421937.

As contadoras de histórias, Viviane e Idê, também apresentaram as mesmas necessidades que Maria Sônia e Aparecida. Por exemplo, Idê, por ter vindo da poesia, está surpresa com o seu crescimento na arte de contar histórias. Ela possui boa impostação e ritmo de voz, necessitando diferenciar a voz do narrador da personagem (caricatura da voz), cuidar das pausas entre uma situação e outra, soltar a voz na hora da fala das personagens, refinar o processo de constituição das imagens virtuais, aprimorar sua entrada e saída do contexto da história, exercitar a paciência dando tempo ao tempo da história, sem pressa de fazer o fechamento, saber desligar o relógio interior, abrir a porta da história e pular de fora para dentro dela: entrada no universo imaginário, podendo ver, viver e mostrar à plateia o que acontece dentro do contexto da história ao retratar as personagens, seus movimentos com expressividade, seus sentimentos, suas necessidades... 

Com Viviane, por ter chego à arte de contar histórias sem experiências com outros universos anteriores, não encontra-se na mesma situação que as colegas. É uma contadora que chegou sem elementos que dificultasse a sua aprendizagem na arte de contar histórias, o que facilitou o seu processo de análise para o refinamento de sua práxis. Tudo para Viviane tem sido menos doloroso.

Ao final desse processo, foi entregue aos participantes, um pedaço de papel para o registro de uma necessidade marcante a ser trabalhada na prática da oralidade.

A orientadora esclareceu sobre a necessidade do Grupo estar trabalhando a sua práxis sem a ansiedade de buscar uma resolução imediata para as dificuldades apresentadas; que neste Curso, todas as dificuldades estarão sendo trabalhadas como elementos a serem aperfeiçoados, e não eliminados. Isso deixou o Grupo mais tranquilo e certo de que o empenho, interesse e a disciplina de cada um, fará a diferença no processo de aperfeiçoamento da narração oral.

Esse processo de análise terá continuidade na próxima aula. Os participantes levaram para casa, como tarefa, após Maria Sônia, Aparecida e Idê terem subido ao palco, para narrar histórias – aquelas que serão contadas na programação de outubro e dezembro. São histórias que serão exercitadas em casa, com base nas necessidades levantadas nessa aula e nas orientações recebidas, que serão narradas na aula posterior (dia 21 de agosto), quando o grupo estará vendo as possíveis resoluções após as orientações da orientadora, sobre os elementos a serem trabalhados durante o curso - um deles está o olhar do narrador observador, não o contador com pressa de finalizar a história.

Por fim, todos começaram a entender que o contador de histórias, narrador oral, necessita do olhar atento ao enredo, para estar dentro da histórias, e assim poder ter o seu cuidado com o véu narrativo no desnudar do universo imaginário. 

Nesse encontro, recebemos uma visitante que, ao assistir e conhecer o nosso trabalho, decidiu retornar na próxima aula. Seu comentário com as integrantes foi que, enquanto observadora, aprendeu muito com tudo o que viu, ouviu e vivenciou.

Fechamos esse encontro com a canção “Todo mundo conta histórias...” autoria do contador de histórias e compositor Pollo (chileno), um momento em roda de fechamento harmônico em Grupo.

Sem uma máquina digital, ficamos sem registro das imagens, porém, com os fios da memória bem alimentados.

  (Texto elaborado por Claudete T. da Mata e protegido pela Lei de Direitos Autorais: LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998. Florianópolis, SC, 08.08.2014)



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