ACADEMIA BRASILEIRA DE CONTADORES DE HISTÓRIAS (ABCH-MATRIZ)
ESPAÇO DE HISTÓRIAS: FORMAÇÃO DO CONTADOR DE HISTÓRIAS - MEDIADOR DO LIVRO E DA LEITURA ANIMADA
ESPAÇO DE HISTÓRIAS: FORMAÇÃO DO CONTADOR DE HISTÓRIAS - MEDIADOR DO LIVRO E DA LEITURA ANIMADA
UMA AULA CHEIA DE RESOLUÇÕES EM BUSCA A COMPREENSÃO DOS SEGREDOS DAS NARRATIVAS A SEREM TRABALHADAS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO MEDIADOR DO LIVRO E DA LEITURA ANIMADA - PROCESSO QUE EXIGE DISCERNIMENTO DA PRÁXIS E SUBLIMAÇÃO DO PENSAMENTO NO ALINHAMENTO DAS EMOÇÕES AO EMPRESTAR A CORPOREIDADE E O CORAÇÃO ÀS HISTÓRIAS QUE SAEM DOS LIVROS...
Nossas Confreiras da ABCH: Amaridis (De branco) e Léa, com os olhos do nosso Gato a nos olhar, estão a aprender a aprender a arte de mediar o livro e a leitura animada. Elas estão animadas nesse processo.
A
MEDIAÇÃO DO LIVRO E DA LEITURA ANIMADA
Artigo de Autoria:
Claudete T. da Mata
(Dezembro
de 2015)
Mediação de Leitura Animada - Por Claudete T. da Mata
13 de Maio de 2016 - Feira Catarinense do Livro/Florianópolis/SC
A mediação de leitura animada é uma maneira de sair da leitura
tradicional ao unir a textualidade autoral à prática da narração oral. Está voltada ao
fomento do desejo de ler que se inicia pela atração de ouvir o mediador e sua
leitura animada. Neste processo, o Livro é o objeto, o mediador que utiliza as escrituras por
meio da força da linguagem, do corpo, do olhar e suas diferentes interpretações é o protagonista. Enquanto a
narração oral tem ao seu alcance é fechamento desse processo criativo que tem por
objetivo atiçar a imaginação, atrair o público ouvinte-leitor, brincar, desenvolver e aguçar os ouvintes trazendo-os para o
livro.
“Ah,
como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas
histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser
leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão
do mundo...” (ABRAMOVICH, 1993, p.16).
O termo Mediação de Leitura Animada surgiu na década de 80
quando passou a ser trabalhada em sala de aula, pela pedagoga e psicopedagoga
Claudete T. da Mata, na formação do leitor ouvinte. As histórias extraídas dos
livros em sala de aula, serviam para o desenvolvimento do processo de ensino e
aprendizagem de estudantes de uma Instituição Educacional do Estado de Santa Catarina. Uma
práxis que tinha o livro e a leitura como meios importantes no processo de informação e promoção das informações dos sujeitos envolvidos. Os
escritores mais procurados, até essa época, eram: Ruth Rocha, especializada em livros infantis, Ana Maria Machado e Monteiro Lobato, das muitas histórias que vinham deles e eram utilizadas nessa prática.
Em
sala de aula, foi sendo trabalhado o eu-leitor-mediador de leitura animada da autora desta práxis, que até então só se fazia a leitura simples.
- Sempre
me senti com a maior carga de responsabilidade pelo incentivo e a
constituição do “meu eu leitor-mediador do saber”, no papel de orientadora da aprendizagem, jamais a ocupar o lugar de uma professora a dar conta do seu mero planejamento pedagógico, mas com a responsabilidade de aprender a aprender como e quando levar os livros - guardadores de segredos de todas as narrativas, com gosto de quero mais, até os leitores-ouvintes. Assim
eu ia (como ainda tenho ido), de grupo em grupo, mediando a leitura e
colocando em prática as diferentes formas de linguagem de maneira animada, uma prática
que só eu e os estudantes sabiam como fazer, por meio de brincadeiras com as escrituras lidas e compartilhadas em grande grupo.
Assim foi sendo constituída e fortalecida a prática de Leitura Anima, também a colaborar com o desenvolvimento e a educação da escuta
afetiva, a estimular o pensamento crítico, o olhar convergente, trabalhando as
divergências (diferenças) inter e intrassocial, o desenvolvimento dos sentidos e da
afetividade, da sensibilidade humana, da capacidade imaginativa e criativa, da
competência cognitiva e tudo que compõem a nossa bagagem cultural na construção
das histórias que perpassam pelos fios da memória, até serem guardadas nos
livros à espera de um Mediador de Leitura Animada.
A soma de tudo o que é visto,
percebido, ouvido, apreciado, sentido, pensado, refletido individualmente ou em
grupo, decidido, derrubar barreiras na ruptura das zonas de conforto, entender
e resolver sentimentos de perda, novas conquistas... Tudo isso por meio da
Mediação de Leitura Animada resulta na formação do leitor-ouvinte, também de
novos mediadores de leitura animada, quando é feito com habilidade imaginativa,
capacidade de criação dos elementos utilizados, e da própria consciência
corporal indispensável neste processo, leitura de livros, leitura de si mesmo,
leitura de mundo, leitura do outro, leitura do ser até o fazer acontecer...
Leitura do antes, do durante, do depois e do agora.
Há muitos e muitos anos, ainda quando a
vida amanhecia no planeta, o Homem já narrava. Primeiro, falava de seu cotidiano:
seus hábitos e seus revezes. Depois, em determinado momento, sentiu necessidade
de dar conta de acontecimentos que escapavam a seu entendimento racional.
Precisava encontrar explicações tanto para fenômenos da natureza quanto para o
fato de ser quem era e estar onde estava. Assim concebeu então, um conto
maravilhoso que, com seus elementos mágicos, explicava o que a razão
desconhecia (CHEOLA, 2006, p.47).
(Aos poucos, crianças e adultos vão chegando e se acomodando... ao verem o que acontece, elas confabulam entre si... é a força da magia a espalhar a sua encantaria.)
Chegamos aos espaços de leitura, na preservação da nossa
ancestralidade a levar as informações aos ouvintes-leitores, por meio da arte
de narrar histórias e fazer ao mesmo
tempo uso do livro transformando-o num objeto preciso. Nesse processo de
mediação de leitura animada, quando bem conduzidos pelo mediador, os ouvintes
mergulham na imaginação numa viagem onde o resultado esperado é o encantamento
que tudo pode fazer acontecer. Aqui nos encontramos com uma carga de
responsabilidades ao expressar as informações aos leitores-ouvintes até sua
transformação em leitor-mediador. A linguagem, nas diferentes formas, é
trabalhada para o estímulo do sujeito leitor reflexivo e crítico.
Após mediação de leitura animada, lá na década de 80 (até os
dias atuais) os ouvintes, eram reunidos em círculo intitulado “Roda de
Apreciação”, como metodológica utilizada no fechamento da ação. Assim, todos os
momentos ouvidos eram falados pela necessidade de expressar os seus sentimentos
estimulados pela história mediada e os elementos de animação, a começar pela
maneira de apresentar o próprio livro. Um leitor ia estimulando o outro, a
resultar na contextualização do processo da Mediação de Leitura Animada. Os
ouvintes expressavam a própria imaginação ao falar sobre a história: seus
personagens, elementos mágicos que mais gostou, o que sentiu ao se aproximar da
história...
Na sua visão, qual a importância das histórias? Esta foi uma das
experiências desenvolvida na formação de leitores críticos e sensíveis envolvidos
no processo de Mediação de Leitura Animada, podendo expressar-se até a catarse
quando as narrativas dão bem trabalhadas.
Bem trabalhadas em
todos os seus aspectos essas narrativas podem exercer o seu fascínio tanto na
mente das crianças quanto dos adultos, concorrendo assim com os meios de
comunicação mais modernos e sofisticados (CHEOLA, 2006, p.88).
Foi
assim que Eu aprendi fazendo: a escola adquire um papel importante na
transmissão das informações, dentro e fora da sala de aula. Ela fica, então,
com a maior carga de responsabilidade pela constituição do leitor/ouvinte/mediador.
Na
minha práxis as interações do mediador por meio da
leitura animada surgem como meio de levar o leitor-ouvinte a uma espécie de
jogo com as narrativas e os seus segredos, sem mexer na estética da escritura.
Crianças e adultos não se diferenciam no desejo de brincar com a linguagem falada
e a escrita, ao fazer uso da imaginação e seus elementos de cena.
O mesmo
acontece com o narrador oral no papel de mediador de leitura animada até alcançar
o leitor-ouvinte. Um dos elementos utilizados pelo narrador oral no processo de
Mediação da Leitura Animada é a linguagem corporal acompanhada de técnicas e
dinâmicas no trabalho da expressão do imaginário, também, na manipulação dos objetos
elaborados (ou não) pelo mediador.
Os
gestores dos meios educacionais e culturais, entre outros espaços sociais,
precisam resgatar a arte de narrar histórias na preservação do narrador oral –
contador de histórias. Assim, todos estarão caminhando de mãos dadas no
incentivo de leitores voltados à perpetuação desta arte milenar. No universo
escolar, por exemplo, deve-se começar pelas práticas pedagógicas onde os
professores são narradores orais, dentro e fora da sala de aula. Cléo Busatto,
no seu livro “Contar e Encantar – pequenos segredos da narrativa”, diz:
Conto histórias
para formar leitores; para fazer da diversidade cultural um fato; valorizar as
etnias; manter a História viva; para se sentir vivo; para encantar e
sensibilizar o ouvinte; para estimular o imaginário; articular o sensível;
tocar o 5 coração; alimentar o espírito; resgatar significados para a nossa
existência e reativar o sagrado (BUSATTO, 2003, p. 45- 46).
Podemos ver que a prática
de leitura animada não se faz sem o livro em uma das mãos
e na outra podemos manipular elementos
que retratem as personagens, os elementos mágicos... E brincar com a
textualidade de maneira interativa utilizando-se da consciência corporal e das
brincadeiras com a voz do narrador a dar vida aos personagens, fazendo com que
eles saltem de dentro do livro...
Também há muito que fazer
em prol do enriquecimento da práxis de mediação de leitura animada. Na
construção do enredo por meio das imagens virtuais, por exemplo, pode-se fazer
uso de jogos cênicos. Um deles pode ser a mímica
e compartilhando a magia de todas as expressões humanas possíveis, a levar o
leitor-ouvinte numa viagem com o mediador nas telas da imaginação; uma práxis
que exige habilidades, domínio de público, controle emocional na disposição do
mediador de leitura à troca de papéis onde hora ele assume o papel de narrador,
hora interpreta as personagens, desenha o ambiente de maneira consciente e
livre de amarras emocionais que o impeçam de embarcar no universo imaginário a
desatar as brumas do processo de criação e de recriação do imaginário, momentos
de esquecer a realidade, viver o tempo da história e soltar a criança de dentro
de si.
Pode-se dizer que esta é a arte de se transformar num contador de histórias incondicional...
um brincante com atuação ética e o cuidado com a estética da linguagem e da
corporeidade ao emprestar o seu todo e dar vida às histórias que saem dos
livros, sem mexer e nem por uma frase além das escrituras do autor. Na presença
do BRANCO, há necessidade de conhecer e se apropriar de técnicas de improviso e
meios sonoros para distração da mente a recobrar os fios da memória. São
técnicas de preparação do contador de histórias-mediador do livro e da leitura
animada, envolvidos no curso de formação; Espaço de Histórias – Projeto da
Academia Brasileira de Contadores de Histórias – ABCH (Matriz), com início em
13 de julho de 2015 e conclusão teórica e prática em 08 de dezembro de 2016.
Curso ministrado em Três Etapas, com aulas quinzenais no Centro Integrado de
Cultura – CIC/Florianópolis/SC.
BIBLIOGRAFIA
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil:
gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione,1993.
BUSATTO, Cléo. Contar e encantar –
pequenos segredos da narrativa. Petrópolis: Vozes, 2003.
CHAVES, Otília O. A arte de contar
histórias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Confederação Evangélica do Brasil, 1963.
CHEOLA, Maria Laura Van Boekel. Quem
conta um conto. In: CARVALHO, Maria Angélica Freire de & MENDONÇA, Rosa
Helena. (Org.) Práticas de leitura e escrita. Brasília: Ministério da Educação,
2006.
MACHENS, Maria Lucia. Ruptura
e subversão na literatura para crianças / Maria Lucia Machens – 1. Ed. – São
Paulo: Global, 2009.