quarta-feira, 18 de maio de 2016

Dia 16 de Maio de 2016 - No Espaço de Histórias, com os integrantes em processo de formação!

ACADEMIA BRASILEIRA DE CONTADORES DE HISTÓRIAS (ABCH-MATRIZ)



ESPAÇO DE HISTÓRIAS: FORMAÇÃO DO CONTADOR DE HISTÓRIAS - MEDIADOR DO LIVRO E DA LEITURA ANIMADA

 UMA AULA CHEIA DE RESOLUÇÕES EM BUSCA A COMPREENSÃO DOS SEGREDOS DAS NARRATIVAS A SEREM TRABALHADAS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO MEDIADOR DO LIVRO E DA LEITURA ANIMADA - PROCESSO QUE EXIGE DISCERNIMENTO DA PRÁXIS E SUBLIMAÇÃO DO PENSAMENTO NO ALINHAMENTO DAS EMOÇÕES AO EMPRESTAR A CORPOREIDADE E O CORAÇÃO ÀS HISTÓRIAS QUE SAEM DOS LIVROS...

Nossas Confreiras da ABCH: Amaridis (De branco) e Léa, com os olhos do nosso Gato a nos olhar, estão a aprender a aprender a arte de mediar o livro e a leitura animada. Elas estão animadas nesse processo.

A MEDIAÇÃO DO LIVRO E DA LEITURA ANIMADA
Artigo de Autoria: Claudete T. da Mata
(Dezembro de 2015)
Mediação de Leitura Animada - Por Claudete T. da Mata
13 de Maio de 2016 - Feira Catarinense do Livro/Florianópolis/SC

A mediação de leitura animada é uma maneira de sair da leitura tradicional ao unir a textualidade autoral à prática da narração oral. Está voltada ao fomento do desejo de ler que se inicia pela atração de ouvir o mediador e sua leitura animada. Neste processo, o Livro é o objeto, o mediador que utiliza as escrituras por meio da força da linguagem, do corpo, do olhar e suas diferentes interpretações é o protagonista. Enquanto a narração oral tem ao seu alcance é fechamento desse processo criativo que tem por objetivo atiçar a imaginação, atrair o público ouvinte-leitor, brincar, desenvolver e aguçar os ouvintes trazendo-os para o livro.

“Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo...” (ABRAMOVICH, 1993, p.16).


O termo Mediação de Leitura Animada surgiu na década de 80 quando passou a ser trabalhada em sala de aula, pela pedagoga e psicopedagoga Claudete T. da Mata, na formação do leitor ouvinte. As histórias extraídas dos livros em sala de aula, serviam para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem de estudantes de uma Instituição Educacional do Estado de Santa Catarina. Uma práxis que tinha o livro e a leitura como meios importantes no processo de informação e promoção das informações dos sujeitos envolvidos. Os escritores mais procurados, até essa época, eram: Ruth Rocha, especializada em livros infantis, Ana Maria Machado e Monteiro Lobato, das muitas histórias que vinham deles e eram utilizadas nessa prática.

Em sala de aula, foi sendo trabalhado o eu-leitor-mediador de leitura animada da autora desta práxis, que até então só se fazia a leitura simples. 

- Sempre me senti com a maior carga de responsabilidade pelo incentivo e a constituição do “meu eu leitor-mediador do saber”, no papel de orientadora da aprendizagem, jamais a ocupar o lugar de uma professora a dar conta do seu mero planejamento pedagógico, mas com a responsabilidade de aprender a aprender como e quando levar os livros - guardadores de segredos de todas as narrativas, com gosto de quero mais, até os leitores-ouvintes. Assim eu ia (como ainda tenho ido), de grupo em grupo, mediando a leitura e colocando em prática as diferentes formas de linguagem de maneira animada, uma prática que só eu e os estudantes sabiam como fazer, por meio de brincadeiras com as escrituras lidas e compartilhadas em grande grupo.

Assim foi sendo constituída e fortalecida a prática de Leitura Anima, também a colaborar com o desenvolvimento e a educação  da escuta afetiva, a estimular o pensamento crítico, o olhar convergente, trabalhando as divergências (diferenças) inter e intrassocial, o desenvolvimento dos sentidos e da afetividade, da sensibilidade humana, da capacidade imaginativa e criativa, da competência cognitiva e tudo que compõem a nossa bagagem cultural na construção das histórias que perpassam pelos fios da memória, até serem guardadas nos livros à espera de um Mediador de Leitura Animada. 

A soma de tudo o que é visto, percebido, ouvido, apreciado, sentido, pensado, refletido individualmente ou em grupo, decidido, derrubar barreiras na ruptura das zonas de conforto, entender e resolver sentimentos de perda, novas conquistas... Tudo isso por meio da Mediação de Leitura Animada resulta na formação do leitor-ouvinte, também de novos mediadores de leitura animada, quando é feito com habilidade imaginativa, capacidade de criação dos elementos utilizados, e da própria consciência corporal indispensável neste processo, leitura de livros, leitura de si mesmo, leitura de mundo, leitura do outro, leitura do ser até o fazer acontecer... Leitura do antes, do durante, do depois e do agora.
Há muitos e muitos anos, ainda quando a vida amanhecia no planeta, o Homem já narrava. Primeiro, falava de seu cotidiano: seus hábitos e seus revezes. Depois, em determinado momento, sentiu necessidade de dar conta de acontecimentos que escapavam a seu entendimento racional. Precisava encontrar explicações tanto para fenômenos da natureza quanto para o fato de ser quem era e estar onde estava. Assim concebeu então, um conto maravilhoso que, com seus elementos mágicos, explicava o que a razão desconhecia (CHEOLA, 2006, p.47).

(Aos poucos, crianças e adultos vão chegando e se acomodando... ao verem o que acontece, elas confabulam entre si... é a força da magia a espalhar a sua encantaria.)
Chegamos aos espaços de leitura, na preservação da nossa ancestralidade a levar as informações aos ouvintes-leitores, por meio da arte de narrar  histórias e fazer ao mesmo tempo uso do livro transformando-o num objeto preciso. Nesse processo de mediação de leitura animada, quando bem conduzidos pelo mediador, os ouvintes mergulham na imaginação numa viagem onde o resultado esperado é o encantamento que tudo pode fazer acontecer. Aqui nos encontramos com uma carga de responsabilidades ao expressar as informações aos leitores-ouvintes até sua transformação em leitor-mediador. A linguagem, nas diferentes formas, é trabalhada para o estímulo do sujeito leitor reflexivo e crítico.

Após mediação de leitura animada, lá na década de 80 (até os dias atuais) os ouvintes, eram reunidos em círculo intitulado “Roda de Apreciação”, como metodológica utilizada no fechamento da ação. Assim, todos os momentos ouvidos eram falados pela necessidade de expressar os seus sentimentos estimulados pela história mediada e os elementos de animação, a começar pela maneira de apresentar o próprio livro. Um leitor ia estimulando o outro, a resultar na contextualização do processo da Mediação de Leitura Animada. Os ouvintes expressavam a própria imaginação ao falar sobre a história: seus personagens, elementos mágicos que mais gostou, o que sentiu ao se aproximar da história... 

Na sua visão, qual a importância das histórias? Esta foi uma das experiências desenvolvida na formação de leitores críticos e sensíveis envolvidos no processo de Mediação de Leitura Animada, podendo expressar-se até a catarse quando as narrativas dão bem trabalhadas.

Bem trabalhadas em todos os seus aspectos essas narrativas podem exercer o seu fascínio tanto na mente das crianças quanto dos adultos, concorrendo assim com os meios de comunicação mais modernos e sofisticados (CHEOLA, 2006, p.88).

Foi assim que Eu aprendi fazendo: a escola adquire um papel importante na transmissão das informações, dentro e fora da sala de aula. Ela fica, então, com a maior carga de responsabilidade pela constituição do leitor/ouvinte/mediador.
Na minha práxis as interações do mediador por meio da leitura animada surgem como meio de levar o leitor-ouvinte a uma espécie de jogo com as narrativas e os seus segredos, sem mexer na estética da escritura. Crianças e adultos não se diferenciam no desejo de brincar com a linguagem falada e a escrita, ao fazer uso da imaginação e seus elementos de cena. 

O mesmo acontece com o narrador oral no papel de mediador de leitura animada até alcançar o leitor-ouvinte. Um dos elementos utilizados pelo narrador oral no processo de Mediação da Leitura Animada é a linguagem corporal acompanhada de técnicas e dinâmicas no trabalho da expressão do imaginário, também, na manipulação dos objetos elaborados (ou não) pelo mediador.

Os gestores dos meios educacionais e culturais, entre outros espaços sociais, precisam resgatar a arte de narrar histórias na preservação do narrador oral – contador de histórias. Assim, todos estarão caminhando de mãos dadas no incentivo de leitores voltados à perpetuação desta arte milenar. No universo escolar, por exemplo, deve-se começar pelas práticas pedagógicas onde os professores são narradores orais, dentro e fora da sala de aula. Cléo Busatto, no seu livro “Contar e Encantar – pequenos segredos da narrativa”, diz:

Conto histórias para formar leitores; para fazer da diversidade cultural um fato; valorizar as etnias; manter a História viva; para se sentir vivo; para encantar e sensibilizar o ouvinte; para estimular o imaginário; articular o sensível; tocar o 5 coração; alimentar o espírito; resgatar significados para a nossa existência e reativar o sagrado (BUSATTO, 2003, p. 45- 46).

Podemos ver que a prática de leitura animada não se faz sem o livro em uma das mãos e na outra podemos manipular elementos que retratem as personagens, os elementos mágicos... E brincar com a textualidade de maneira interativa utilizando-se da consciência corporal e das brincadeiras com a voz do narrador a dar vida aos personagens, fazendo com que eles saltem de dentro do livro...

Também há muito que fazer em prol do enriquecimento da práxis de mediação de leitura animada. Na construção do enredo por meio das imagens virtuais, por exemplo, pode-se fazer uso de jogos cênicos. Um deles pode ser a mímica e compartilhando a magia de todas as expressões humanas possíveis, a levar o leitor-ouvinte numa viagem com o mediador nas telas da imaginação; uma práxis que exige habilidades, domínio de público, controle emocional na disposição do mediador de leitura à troca de papéis onde hora ele assume o papel de narrador, hora interpreta as personagens, desenha o ambiente de maneira consciente e livre de amarras emocionais que o impeçam de embarcar no universo imaginário a desatar as brumas do processo de criação e de recriação do imaginário, momentos de esquecer a realidade, viver o tempo da história e soltar a criança de dentro de si.

Pode-se dizer que esta é a arte de se transformar num contador de histórias incondicional... um brincante com atuação ética e o cuidado com a estética da linguagem e da corporeidade ao emprestar o seu todo e dar vida às histórias que saem dos livros, sem mexer e nem por uma frase além das escrituras do autor. Na presença do BRANCO, há necessidade de conhecer e se apropriar de técnicas de improviso e meios sonoros para distração da mente a recobrar os fios da memória. São técnicas de preparação do contador de histórias-mediador do livro e da leitura animada, envolvidos no curso de formação; Espaço de Histórias – Projeto da Academia Brasileira de Contadores de Histórias – ABCH (Matriz), com início em 13 de julho de 2015 e conclusão teórica e prática em 08 de dezembro de 2016. Curso ministrado em Três Etapas, com aulas quinzenais no Centro Integrado de Cultura – CIC/Florianópolis/SC.

BIBLIOGRAFIA

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione,1993.
BUSATTO, Cléo. Contar e encantar – pequenos segredos da narrativa. Petrópolis: Vozes, 2003.
CHAVES, Otília O. A arte de contar histórias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Confederação Evangélica do Brasil, 1963.
CHEOLA, Maria Laura Van Boekel. Quem conta um conto. In: CARVALHO, Maria Angélica Freire de & MENDONÇA, Rosa Helena. (Org.) Práticas de leitura e escrita. Brasília: Ministério da Educação, 2006.

MACHENS, Maria Lucia. Ruptura e subversão na literatura para crianças / Maria Lucia Machens – 1. Ed. – São Paulo: Global, 2009.

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