(07.03.2016)
O grupo iniciou assim: pequeno, porém cheio de baús de joias preciosas. Um dele veio de Adriane Forster - Integrante do Espaço de histórias desde a sua criação em 13 de julho de 2015. Até a atualidade.
E Adriane se convenceu: Fazer mediação de leitura sem o hábito da sala de aula, de ler e mostrar as ilustrações aos ouvintes, provoca um desconforto no ato de "ler e contar" - duas ações simultâneas a serviço do desenvolvimento das estruturas imaginárias, que antecede o desenvolvimento do processo criativo na fase etária de crianças, aproximadamente, até os 06 anos de idade. Devido as novas tecnologias à disposição das crianças, desde tenra idade: celular, netbook, tablete, Smartphone, etc... os quais tem roubado da nova geração, a capacidade de imaginar, conversar com as próprias ideias, viajar no mundo da imaginação... É quando digo aos integrantes do "Espaço de Histórias":
Como trabalhar o corpo, a alma e o coração para dar vida aos livros?
- Precisamos "saber como, por quê, para quê e quando levar as histórias, com ou sem livros a todos os públicos"... Se no nosso cotidiano em cena, estamos em contato com pais, filhos, avós, tios, irmãos, amigos, colegas, vizinhos... Só para pensar sobre a importância da nossa atuação com consciência de cada ato em cena.
Quais elementos necessitamos para destravar as amarras e dar asas às emoções?
Sair do cotidiano da sala de aula, para quem é orientador da aprendizagem, não aquele professor engessado: cheio de regras, palavreados técnicos, mente focada no seu querer sem aprender a aprender como ir ao encontro do estilo de aprendizagem do sujeito que vai à escola para aprender com o mesmo prazer que sai para viver a hora do recreio com os amigos... Isso é tomada de consciência na quebra da hegemonia escolarizante que só tem engessado o processo de aprendizagem escolar. Ao contrário dessa hegemonia lastimante: envolvidos no processo de orientação da aprendizagem, os professores integrantes do Espaço de Histórias, passam a repensar as suas propostas pedagógicas e suas práticas cotidianas junto às crianças. As Diretrizes que estabelecem os parâmetros básicos na articulação do processo peculiar a cada faixa etária atendida, ganham com em termos de ensino-aprendizagem ao ter seus professores com uma postura diferenciada, apreendida com as práticas e as teorias trabalhadas em cada encontro do Espaço de Histórias.
Como soltar os acontecimentos de dentro dos livros?
Como retratar as personagens soltas do livro?
Como ir ao encontro do nosso público alvo, por meio da Arte Narrativa com o Livro?
Como despertar o desejo de todas as crianças, grandes e pequenas - até a nossa criança interior, moradora do nosso corpo grande, de ir aos livros e viajar com eles? Se todos os adultos soubessem da importância de dar um livro de presente a uma criança, mesmo um Bebê, saberiam o quanto foram importantes um dia.
Nosso primeiro passo: Conhecer os caminhos da Fala. Estar consciente de suas intenções, é fundamental. Por isso, todo cuidado é pouco. Ler, ler, ler... Refletir, refletir, refletir...
"A fala é uma via de mão tripla conduzida pelas intenções. A primeira é o que o texto quer dizer. A segunda é o que o emissor quer dizer contando a história. A terceira é o que o receptor vai entender ao ouvir a história. Quando estas três vias estiverem ordenadas, o entendimento da mensagem será claro e efetivo." (Cléo Busatto. Como vender bem - A arte de se comunicar contando histórias. Ed. Vozes, 2017)
Uma das minhas preocupações, quando acendo meu lampião, é com o que levo a cada grupo (Vespertino e noturno) a acordar os fios de suas memórias para que todos possam ver que lá atrás, no tempo de suas vivências enquanto alunos na educação infantil, sem se darem conta, foram expostos às diferentes etapas da Escola Básica. Viveram suas infâncias ao longo de uma tradição assistencialista e escolarizante que, ainda, muito tem marcado a história das creches e das pré-escolas nos tempos atuais.
Assim, o número de ouvintes, não importa. O mais importante está no nível de atenção: primeiro para para embarcar no trem da imaginação: Viajar de mãos dadas com a história a lhes contar. É estar a alimentar a infância de cada ouvinte. Não importa o tamanho de cada um. Então, por quê tirar das crianças o prazer de ouvir, viajar, pensar, imaginar e criar novas possibilidades após a sublimação dos fios da memória?
Já não sei mais o que significa "Educar para a Vida, sob o olhar do sistema".
Exemplificando: O sistema, através de suas "secretarias de educação", em vários municípios brasileiros, estão arrancando dos educandos, as datas comemorativas: Natal, Páscoa, Dia das Mães, Dia das Crianças, etc. Implantaram como regra geral: A Festa da Família! Assim estão a fazer sob a justificativa de atender a todos igualmente.
Daqui a pouco, vamos ter as nossas histórias de origens também arrancadas dos livros, devido os fatores religiosos, étnicos, etc.??? as verdades que fazem parte do processo de constituição do Ser Humano - sua humanização interior, como fica sem as narrativas orais, na preservação dos fios da memória registradas em livros?
E pergunto mais:
- E aqueles que vivem sob as brumas de um telhado qualquer, sem família, como ficam? Seria este um pensar voltado ao todo? Eles vão à Festa da Família?
- Não seria mais conveniente conscientizar aqueles e àquelas que não acreditam nestas datas por não terem uma infância bem alimentada, por esse ou aquele credo, sem pensar numa metodologia de trabalho sobre o respeito a todas as crenças, até mesmo às crendices, a que deletar tradições centenárias, milenares, que lá na frente poderá nos servir?
Sinceramente? Não consigo entender a lógica do Sistema Dominante. Dominante, sim! Nem mesmo a lógica dos pais e muitos outros responsáveis por crianças desejosas de saber, de participar das novidades, dos eventos com seus pares... Esses adultos de certa forma, sem respeito às reais necessidades das crianças, insistem nos seus pensamentos cheios de respostas sem resposta.
- Não estaríamos passando por mais uma fase de castração do saber através da arte de contar histórias, com ou sem livros, também?
Qual será o ganho de uma criança cheia de vontade de conhecer o novo, ao ser impedida de ir ao teatro, ao cinema, a uma roda de histórias ouvir um contador de histórias falar, por exemplo, sobre o nascimento do Menino Jesus: uma história da tradição humana que tanto cultiva a paz, o amor incondicional, a alegria de um nascimento...? É quando vejo todas as religiões, em vez de unir nações, emergirem feito Muros de Berlim. É quando, particularmente, ficamos a inventar títulos para as nossas apresentações, para que as Secretarias de Educação possam liberar as suas crianças e os adolescentes para irem viver os seus momentos imaginários.
Pergunto mais:
- O que é pior à educação dos filhos, hoje: Ouvir uma história voltada às datas comemorativas ou carregar um celular 24h, até em sala de aula a lhes impedir voos pelo imaginário que os leva às condições de bons inventores?
- O que muitos pais preferem: "Um aparelho grudado aos ouvidos a lhes roubar a escuta afetiva, o desejo de saber coisas através das narrativas ditas por um contador de histórias (que pode ser alguém da própria família, ou não)?
- Ou ter uma escola cheia de regras a impedir que seus aprendentes vejam além das janelas escolares, o mundo que lá fora os espera?
- Alguém, antes de criar as regras, para para ouvir os sujeitos aos quais estão a planejar coisas?
Sou da época em que a escola reunia os aprendentes em uma grande roda, na hora do recreio, para cantar cantigas da tradição oral. Uma delas era "Atirei o pau no gato!" Nesse tempo, nunca se viu ninguém atirar o pau no gato, literalmente. mas hoje, em pleno "Terceiro Milênio", sob a proibição de cantar "Atirei o pau no gato", é corriqueiro ser gente matando gatos, cães e até gente - sem piedade.
Pergunto mais:
- De quem é o erro, da música original; Atirei o pau no gato - quando agora a desmontaram, querendo colocar na cabeça das famílias que essa música da infância de muitos profissionais saudáveis, deveria ser assim: "Atirei sopa no gato, to, porque o Gato, to é legal, gal, gal... Mas, por que andam até tocando fogo no gato, nos índios, nos moradores de rua - por quê? A culpa ainda é do Gato, to da minha infância?
No tempo em que o relógio demorava a badalar... Debaixo da terra vivia uma minhoca; Era a "Minhoca Dondoca". Ela saia todos os a passear. Certo dia, preocupada com o destino da filha, a mãe de Dondoca falou:
- Dondoca, Dondoca, minhoca que se preza, vive embaixo da terra...
Mas Dondoca nem ligou. continuou o passeio a se bronzear. ela, que no início era rosada, ficou bem pretinha de tanto Sol que tomou.
Ao anoitecer, sua pele estava sensível, mas Dondoca nem se importou. deitou e dormiu.
No dia seguinte, Dondoca saiu a passear, quando encontrou a Dona Joaninha que lhe disse:
- Dondoca, minha amiga, ouve tua mãe. Anda por aí um Bem-te-vi bom de bico. E´s um bom aperitivo para ele e seus amigos. Cuidado, Dondoca.
Nesse momento, o coração da Minhoca Dondoca disparou. Ela correu até seu quarto, pegou um chapéu, lenço e um óculos escuro. Fora da Terra, se pôs a caminhar. nem parecia a Minhoca Dondoca.
Assim foi acontecendo. Os pássaros que por dondoca passavam, saiam em fuga a pensar ser um Ser a lhe ameaçar. Até que numa tarde de outono, sol morno, sem o chapéu, Dondoca foi vista pelo Minhoco Dondoco. Ele a olhou e falou:
- Que lindeza é essa, bela Minhoca?
Dondoca colocou rapidamente o chapéu, num só charme. O minhoco não resistiu e lhe deu um beijo.
dondoca assustada, gritou:
- Você beijou errado... Minha boca é do outro lado!!!
Dizem que uma música nova surgiu. Os dois passaram a namorar e com Dondoca, Dondoco quis casar.
A festa foi no jardim entre danças e muitas comilanças...
A narrativa acima foi feita com base no texto original da autora.
Enquanto o sistema não me cala, continuarei a levar meus saberes, meus estudos, minhas pesquisas a professores, contadores de histórias, alunos, todos que desejarem aprender a aprender e ensinar em grupo, sem medo de perder nada. Pois o nada um dia tomará conta do nosso suspiro final. E se conseguirmos plantar nossas sementes, continuaremos sempre vivos nos fios de muitas memórias.
TEXTO: Claudete T. da Mata
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