Foi uma vivência mágica - um encontro com a encantaria dessa Brincadeira que eu diria, mais que centenária... Sempre viva na nossa ilha de Santa Catarina. Ação 100% voluntária. Só pelo prazer de preservar a tradição e perpetua a nossa ancestralidade.
Doei esse boi para a centenária Biblioteca Pública de Santa Catarina, bem no centro da nossa capital, falante Nossa Senhora do Desterro - lugar de meus antepassados ilhéus.
E quem deseja saber
de onde veio a "Brincadeira do Boi de Mamão", uma
tradição passada de geração à geração, que trago para os meus honrosos
leitores, assim na versão da História que meu Avô Contou?
E chamei essa lembrança da nossa Cultura
Popular e a acordei no dia 22.08.2019, como não gosto de dar oficina de confecção
de elementos usados nas brincadeiras culturais, sem antes falar um
pouco da história que os originou - nessa tarde, antes da matéria bruta começar
a ser lapidada, a ganhar forma, levei os saberes de minha infância aos
envolvidos nesse contexto da nossa Cultura Ilhéu de Santa Catarina, sobre o por
quê do nome #Boi de Mamão, de onde
veio...?
"Brincadeira do Boi de Mamão" acontece na imaginação sendo tecida por Mãos que Tecem Histórias para cativar memórias... Sem jamais esquecer de que: "Quem cativa, cuida..."
Assim aprendo e também ensino com
a Cultura passada de boca em boca... E foi um dos nativos do sul da Ilha de Santa Catarina quem me cativou - meu
avô paterno, o marujo
que viajou por muitos mares: Corcínio João da #Mata,
aquele que construiu o Farol da Praia dos Naufragados - que
numa tarde de Sol escaldante à beira
do mar da Freguesia da Caieira da Barra do Sul da Ilha, ele estava sentado no
seu velho banquinho de madeira, feito por ele, a picar tabaco para acender seu
palheiro feito com palha de milho. Ele, de cabeça baixa, ora e outra a olhar
nos meus olhos, foi contando essa #história da
História, que na sua vivência foi assim:
"Minha neta, tu
sabes que antes dos portugueses chegar aqui, os espanhóis chegaram primeiro...
Aqui deixaram um costume que agradou a gente. Eles trouxeram a #tourada.
Até teu bisavô trouxe montou um circo de tourada e algumas outras brincadeiras
que deves lembrar se tens memória boa - era a dança dos cachorros vestidos de
gente, lembras? E só depois é que vieram os portugueses com a farra do boi e
daí dessas duas histórias: tourada e farra do boi, começamos a inventar a #Brincadeira do
Boi de Mamão com a cabeça feita de mamão verde, os galhos do boi era de galho
de árvore, galho seco pra não pesar muito, o corpo era um lençol branco que
depois foi sendo enfeitado pelas avós da gente, as que sabiam costurar os
desenhos no pano... e daí por diante a gente foi inventado e fazendo os outros
bichos. Mas a gente tem na nossa família o teu tio João, lá da Carvoeira no
Saco dos Limões, que fez o primeiro Boi de Mamão do Saco... Te lembras? E pra
mim a gente copiou essa brincadeira foi da Tourada, onde era muito divertido e
até perigoso. Mas há quem copiou dos portugueses, porque não viveram esse tempo
das touradas. É disso que lembro, visse?"
Foi assim meu avô
terminou essa história fantástica. E o cigarro de palheiro que ele acendeu a soltar uma
baforada de fumaça a desenhar um círculo sobre a minha cabeça, me foi como um fechamento de um conto bem contado.
Eu ensinando e contando - contando e acordando fios de memórias...
E viajei nessa
história com meu avô. Foi nesse momento ao som de suas palavras bem contadas que consegui lembrar do circo de tourada; de quando minha
mãe arrumava eu e meus irmãos para irmos ver a parte da dança dos cachorros - eles
eram colocados no meio da arena, em círculo a dançar uma música que eu
cantarolo até hoje sem citar a letra. Eu era uma criança com menos de três anos
de idade - uns dois anos e meio, esperta com muitas lembranças ativadas nesse
dia em que sentei a ouvir essa e outras #histórias que
meu Avô contou;
que aos poucos estarei aqui a resgatar. E foi mesmo ele quem construiu o #Farol da
Praia dos Naufragados do Sul da Ilha de SC, e cuidou até sua partida final. Meu
avô era um nativo da Ilha de SC muito conhecido e sua foto está na parede do
histórico #Bar do
Arantes, na Praia do Pântanos do Sul da Ilha de SC, junto às fotos dos
acontecimentos e das pessoas que marcaram nossa História. Quem duvidar, é só
passar por lá e conversar com os moradores nascidos nesse lugar... (#Claudete T.
M.s)
E tivemos conosco a Administradora da Biblioteca Pública de Santa Catarina, a jovem Cleonice Schmitt, natural do Oeste catarinense. Uma pessoa e uma profissional envolvida com a Cultura a tornar esse ambiente mais atrativo, além de guardar livros e receber leitores, pesquisadores, seus visitantes diários...
Quem não conseguiu completar sua ação no dia 22.08, retornou no dia 23.08 e voltou para casa feliz com o personagem escolhido: o Boi de Mamão, protagonista principal dessa Brincadeira. E sempre serei Grata a Deus por todos esses momentos e essas pessoas que ainda acreditam no poder da imaginação/criação/preservação de nossas histórias... Também de nossos leitores sempre atentos ao que estamos a fazer em palavras e em ações concretas. Gratidão!
Facilitadora, sonhadora, realizadora Claudete T. da Mata - neta do marujo contador de histórias, la do sul da Ilha de SC. Ele já não está mais na aldeia Terra.