terça-feira, 10 de setembro de 2013

SEMANA DO LIVRO INFANTIL - 14 de Abril de 2013

Na biblioteca Pública de Santa Catarina, a Semana do Livro Infantil teve continuidade com a contadora de histórias Claudete da Mata.

Uma solicitação por parte da Instituição presente que, num jogo de cintura, a narradora envolveu o público num universo onde animais falam e trocam ideias, contestam regras e fazem valer o seu modo de ser e estar no mundo, abdicando respeito e liberdade de pensar e viver as suas próprias histórias.
 
 Creio ter sido esta, uma tarde importante na vida dessas crianças. Elas, sem que a censura as impedisse, manifestaram o desejo de entrar em cada história. E entraram!
De repente, diante de quase oitenta olhares, respirei tranquila ao ver como é  bom ser criança. E diante delas entrei no mundo dos sonhos, levando todas comigo. Juntos vivemos, por longos minutos, um tempo sem preocupações com os olhares alheios, muito menos com o que esses olhares haviam de falar sobre o que fazíamos ou deixávamos de fazer. Simplesmente, mergulhada no mundo dos fios da memória, fui resgatando contos da tradição oral, cada qual com seus seres encantados que jogavam sobre todos, uma chuva de encantos, dando às crianças a oportunidade de viver um pouco além do cotidiano. Finalmente, deixei que esse momento único levasse para o seu mundo as crianças ávidas de necessidades imaginárias, livres das imposições do mundo adulto. 
 
 A fotógrafa saiu do auditório e as imagens de interações ficaram somente nas nossas memórias.

Em cada mundo por onde eles passavam, eu me encantava com o que todos faziam - Entregar suas vestimentas, uma por uma, a quem necessitasse, sem se importar com o frio; entrar no tronco de uma árvores, ver estrelas cair do firmamento e aquecer um corpo frio, sentir o cheiro dos campos verdes, entrar nos bosques cheios de animais que conversavam e brincavam livres, feitos gente.. Ver gente criar "rabo"; entrar em pomares de maçãs encantadas... E os adultos a me olhar, parecendo esquecer das velhas regras que ainda os amordaçam, em pleno século XXI.
Em cada mundo por onde as crianças passavam, seu olhinhos brilhavam, seus corpos estremeciam, parecendo marinheiros de primeira viagem.

Então pensei: Por que não voltar na minha história? E narrei o conto de Maria, sempre rodeada de seres cheios de dengo - uma maçã a lhe dizer, por exemplo: "Pode me pegar e me morder à vontade... Não importa, só sentirei cócegas, depois dormirei tranquila".

Assim, e por muito tempo, todos ficaram sabendo como era a vida de Maria a correr na beira da praia, pelos campos verdes, entrando nos bosques cheios de animais que conversavam e brincavam com ela, feitos gente... Até um velhinho aparecia sentado num galho rasteiro de uma goiabeira, conversando com a menina que, sem ouvir sua fala, tudo entendia...


 E quando entrei numa das histórias dos Irmãos Grimm, aquela da menina que sai pelo mundo à procura dos pais... Finalmente, sem uma só peça de roupa para aquecer seu corpo, uma das crianças entra na cena e veste a personagem, e entrando no tronco da sua árvore imaginária, aquecida pela luz tênue das estrelas... A menina sobe numa cadeira, encolhe-se todinha, e sem que ninguém a orientasse, e sem sentir cócegas, a menina adormeceu tranquila.

Teve até a visita do menino Gerrard, um aluno que viaja pelo mundo dos sonhos, e Pedro, o menino que dormiu e amanheceu com um "rabo" peludo e comprido, feito a Dona Saracura com suas pernas bem compridas e o bico da mesma altura.

Foram momentos de pura magia,ficando na lembrança de crianças e adultos que, juntos, alimentaram seu universo simbólico, desligados dos velhos paradigmas do "politicamente correto".

Ao final, sentei para conversar com todos, deixando os pequeninos pegar os elementos de cena, olhar, explorar, e ouvir uma criança que puxou minha saia para falar: "Ela não quis segurar o bebe porque não gosta de gente preta". E outra a se explicar: "Eu não pequei o bebe porque meu dedo tá machucado, olha!",
Então me perguntei: Existe algo mais sério que ouvir contos de bruxas e outros seres encantados?

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