domingo, 29 de março de 2015

INAUGURAÇÃO DA "RODA DE HISTÓRIAS NA PRAÇA XV DE NOVEMBRO, EM FLORIANÓPO...


Claudete T. da Mata imaginou esta roda, conversou com os dois grupos criados por ela (Oficina Literária Boca de Leão: Oficina de formação de escritores e Oficina de formação de contadores de histórias) e juntamente com o grupo de acadêmicos da Academia Brasileira de Contadores de Histórias, inaugura a Roda de Histórias na Praça. 

Neste vídeo realizo a segunda narração da Roda de Histórias na Praça: VELHO JOÃO, O FILHO DA BRUXA, conto de sua autoria e narrado desde 2006 (primeira vez na Roda da igrejinha da UFSC).

Sendo este conto de minha autoria baseado numa história de família, por parte de minha avó paterna, que diziam ser o meu tio avô, João, ser filho de uma bruxa lá da praia do Ribeirão da Ilha de SC. Era bem antes da década de 10 no século 20. 

Ti João, na juventude casou-se com a tia Bela, um negra muito trabalhadora, que criara naquele tem, seus seis filhos, cinco homens e uma mulher. 

- Todos tinham que estudar para ser alguém na vida - dizia tia Bela. Ela lavava e passava roupas para fora, o que garantia os custos dos estudos dos filhos. Todos se deram bem na vida.

Tio João foi o criador do primeiro "Boi-de-mamão" da do Bairro Carvoeira, próximo do Bairro Saco dos Limões, onde o tio construiu uma casa de tijolos e pintou de verde-água, com um jardim cheio das mais belas rosas e os mais belos arbustos daqueles de fazer formas de animais e outras ilustrações. No Natal o jardim tinha um presépio verde, cheio de ovelhas, um burrinho e uma vaca, todos eram suspensos. E a cada ano os arbustos ganhavam novas formas por meio das mãos criativas do meu tio João, aquele que muito chamavam de filho da bruxa. No fundo da casa havia um quintal que parecia uma floresta encantada, com um pomar de dar inveja na vizinhança. As famílias de marrecos, galinhas, perus e gansos dos grandes, passeavam pelo quintal. 

No porão da casa do tio João era guardado os elementos do Boi-de-mamão. Tinha uma bruxa de cabelos brancos, uma maricota gigante, o boi, o cavalinho, a cabrinha, um urubu, uma roupa de padre, uma roupa de benzedeira, um jaleco branco que o tio dizer ser do médico que era chamado para curar o mal do boi, uma roupa de mascarado que saia atrás da brincadeira de boi para pegar coisas das crianças pequenas, principalmente os panos de enfiar o nariz e as chupetas, tinha uma bernúncia gigante e bem gorda, que o tio dizia que ela era assim de tanto comer coisas que as pessoas lhe davam durante a brincadeira (ela comia até crianças que a provocavam) e tinha o cachorro que sempre ficava do lado de fora do porão para cuidar da bichada. era um cachorro vira-latas, manso, porém cuidadoso. ele nunca deixava nenhum estranho entrar no porrão. Era só avistar o desconhecido, que ele começava a latir até acordar o bairro inteiro.

O meu tio era padrinho de batismo do meu irmão mais velho, que já viajou para o além com o meu pai, a tia Bela (minha madrinha de crisma) e o tio João. Meu irmão gostava de comer as gostosuras preparadas pela Dinda Bela e brincar de carretão morro abaixo, lá no morro da Carvoeira, com o nosso primo Antenor, um galego muito malino. Certa vez ele pendurou meu irmão de cabeça para baixo no alto de uma barranca na beira da estrada. eu gritava apavora:

- Não solta o meu mano, não solta!!!

Ele ria feito um capiroto. E quando retirou o Mano da barranca, eu abracei meu irmão e o beijei como se ele tivesse voltado lá do além. Como eu era pequena, a barranca parecia que batia no céu. Quando o tio João via o nosso primo fazer malvadezas conosco, corria com ele e o mandava para casa. O Antenor ainda vive, está mais velho que eu, mas ainda parece um menino arteiro. no dia do meu casamento foi ele quem me levou até o altar. Mesmo sendo uma criança arteira, não sei por que, mas sempre gostei do nosso primo, mesmo ele fazendo coisas de fazer a gente tremer que nem vara verde.
Antenor cresceu, casou, teve cinco filhos e mais de sete netos e um bisneto, mas continua com jeito de criança arteira.

É bem como o filho da bruxa dizia:

- Ainda bem que a gente cresce, as coisas mudam e tudo passa!

Ano passado (dezembro de 2014), uma escritora de SC plagiou este meu conto "Velho João, o filho da bruxa" editando no seu livro "O filho da bruxa". Ela conhecia a minha história e até participou de um conto de improviso ao solicitar que começássemos com a história do Velho João, numa feira de livros em Palhoça/SC (2011). Será que ela já estava com a maldade na cabeça? Ao saber pessoalmente, até tentei conversar com ela, sem resultados promissores. Ela lançou o livro com o plágio e ainda insiste que a ideia é dela, mas o conto, além de ser uma ideia minha, é um fato com todos os seus detalhes envolvendo um familiar. Então continuo a contar esta história e a brincar o seu enredo por onde passo e me pedem para contar.

No dia 21 de março de 2015, na Praça XV de Novembro, Centro de Florianópolis, após ter narrado o Velho João, fui chamada por um manezinho do Pântano do Sul da Ilha de SC, o Senhor Moacir para conversarmos sobre a história acima narrada. Primeiro ele me perguntou:

- Dona Claudete, a senhora sabe da diferença entre ser manezinho da ilha e ser um simples manezinho?

Respondi que não sabia e lhe pedi uma explicação. 

- Veja bem, o verdadeiro manezinho é aquele que nasceu aqui na Ilha, aqui cresceu, aqui se casou e teve seus filhos e aqui morreu. No meu caso que ainda não morri, sou um manezinho de verdade porque nunca saí daqui pra morar em outro lugar e aqui eu quero morrer, entendeu?

Respondi com outra pergunta:

- Então, Seo Moacir, agora sou uma simples manezinha, porque nasci na Ilha, me criri e fui morar fora da Ilha de SC onde casei e só voltei para a Ilha para ter os meus dois filhos. E quem vem morar aqui e passa a dizer que é um manezinho da Ilha, o que é?

- Esses podem dizer que são manezinho de Santa Catarina, da ilha jamais, porque não estão aqui do jeito que eu estou até hoje.

O Seo Moacir me falou mais um dado importante.

- Quando a senhora falou que os pescadores foram lá pra fora do mar, no alto mar, a senhor tem que mudar essa frase. O resto é do jeito que foi contado. Daqui pra frente a senhor diz que os pescadores foram lá pra fora do mar, que essa é a frase certa porque o alto mar ficar bem longe daqui. Só essa parte que precisa ser mudada.

Eu ouvi este legítimo manezinho da Ilha de SC e ficamos de nos encontrar na Biblioteca Pública de SC, na Rua Tenente Silveira para eu aprender um pouco mais sobre a cultura da Ilha de SC, com ele. Adorei ter conversado com o Senhor Moacir.



(Claudete T. da Mata)

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