terça-feira, 7 de abril de 2015

O Coelho Bendito!

Lá do outro lado do mundo, estava Dona Coelha na sua correria. Arruma daqui, arruma dali, arruma de lá... E nada parecia estar do seu jeito. Era Dona Lalita que vivia agitada nos últimos dias. Em alguns meses já era Páscoa. Ela precisava deixar a coelheira em dia. Depois poderia dar a todos o que ela pretendia.

O tempo passou tão rápido e a bolsa arrebentou lá no meio do quintal. E dentro de um buraco cheio de palhas fofas a Dona Lalita correu para descansar. Ela, precavida como sempre, entrou mais ainda pelo buraco e sumiu.

Na coelheira, a família não sabia o que fazer diante do sumiço da Dona Lalita, que parecia não mais voltar. Todos começaram a procurá-la. Olharam por todos os lugares onde ela poderia estar. E nada de encontrá-la. Foi então que começaram a chorar.

Passaram-se duas semana sem a Dona Lalita, quando ela resolveu voltar. Primeiro, ela chegou de mansinho, colocou a cabeça para fora do buraco, olhou e, de repente pulou: PLUFIT, PLUFIT, PLUFIT... Lá se foi Dona Lalita pulando às escondidas.

Ninguém poderia saber de sua volta, muito menos da vinda de quem pulava atrás dela: PUF PUF PUF... Eram pulinhos altos e mansinhos.

Dona Lalita pulando na frente, ia e avisando:

- Vamos entrar pela porta dos fundos. Ao chegar, entre pra debaixo do seu colchão e não faça barulho. Eu o proíbo de solta até um espirro, ouviu?

Assim, entre um PLUFIT e um PUFT, os dois entraram na coelheira sem serem percebidos. Todos estavam dormindo. Dona Lalita e o dono dos PUFs puderam dormir até o cacarejar das galinhas lá do outro lado da coelheira.

Mal amanheceu o dia, só se ouvia gritos de assombros e dizeres apavorantes.

- Sai daqui!!! - falou aos berros o Senhor Lolô, esposo da Dona Lalita que assustada, pulou da cama e quebrou suas duas patinhas dianteiras.

- Quem é esse aí? - quis saber o filho mais velho da Dona Lalita.

- Responde Lalita, responde!!! - insistiu o marido todo arrepiado. Ele sempre ficava assim quando estava enraivado.

- Sua prasenteira, pensou que sumiria e voltaria tempos depois com um intruso, é? Saia já daí e mostre a cara dele!!! - Dona Lilica distratou a sobrinha, ciscando o chão parecendo um tufão.

E Dona Lalita, sem saber como esconder, saltou de repente, na frente de toda aquela gente ouriçada.

- Querem saber, é? Eu lhes apresento o último dos moicanos da nossa coelheira... É meu filho Bendito, digo, Benedito! Aqui está ele, vejam!

- Hoooooooooooooo... - fizeram todos ao mesmo tempo, assustando o coelhinho que saiu aos pulos e sumiu.

Dona Lalita correu atrás dele, o chamou, procurou por todos os lugares, mas não o encontrou.

O tempo passou e a coelheira ficou num silêncio de doer o coração, porque, depois de todos sentarem para ouvir a Dona Lalita, só se via coelhos de orelhas caídas, olhos tristonhos e muitos pedidos de desculpas.

Numa tarde muito triste, caiu uma chuva gelada e uma ventania de derrubar até as árvores em volta da coelheira. O tempo ficou diferente depois da partida de Bendito, digo, Benedito. Dona Lalita entristeceu e a família fazia de tudo para levantar o seu ânimo. Nada mais adiantava. Ela já amava o filho e seu coração estava rasgado de tanta dor. Era dor de saudade.

Tristes, os coelhos foram surpreendidos por uma enxurrada que levou a coelheiro mato abaixo. E, uma correria se formou. Era coelho para todos os lados. Eles formaram um formigueiro de coelhos.

- E agora, o que fazer sem abrigo e sem o Bendito, digo, Benedito? - falou Dona Lalita sem poder correr. Então agarrou-se no tronco de uma jabuticabeira e lá ficou até a água passar.

Escondido na toca onde nasceu, o coelhinho fujão colocou a cabeça para fora e olhou para baixo. Lá estavam os seus familiares quase a se afogar na inundação.

Bendito, digo, Benedito saiu do buraco em direção à coelhada. Ao verem o coelhinho, todos gritaram:

- Ele está de volta!!! Vivaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...

Dentro da enxurrada, Bendito, digo, Benedito anunciou aos gritos:

- Quem quer se salvar, agarre-se em mim!!!

Contando ninguém acredita: o coelhinho salvou o formigueiro de coelhos. Como? Com suas vastas orelhas felpudas, o seu comprido rabão que mais parecia um rabo de gato bem grandão e o seu narigão...

Teve uma meia dúzia de coelhos que se grudaram no focinho do coelhinho. É só imaginar o tamanho do focinho que salvou seis coelhinhos. Imaginou?

Tudo o que se sabe, é que em poucos minutos todos estavam salvos ao pé do mato, lugar onde ficava o buraco por onde a Dona Lalita sempre entrava, sabe-se lá Deus onde ela ia e por uns dias sumia. Mas era lá o lugar em que ela sempre se aninhava para ganhar os seus coelhinhos.

Dizem que depois de todos se desgrudar das orelhas, do rabão e da fuça do coelhinho, agora um coelhão, a coelhada gritou num só coro:

- VIVAAAAAAAAAAAA O BENDITOOOOOOOOOOOOOO...  VIVAAAAAAAAAAAAAA..

Depois desse dia, a coelheira foi reconstruída e todos vivem lá até hoje. No buraco onde a Dona Lalita ganhava os seus filhotinhos, virou uma maternidade comunitária.

É por isso que em todas as Páscoas não faltam coelhos no mundo inteiro.

E esta história não acaba por aqui, porque outras lá do buraco outros coelhinhos irão surgir!
Nota da autora: Acordei dois dias depois da Páscoa de 05 de abril de 2015 (07.04.2015), quando o coelhinho Bendito, digo, Benedito veio me visitar. Ele vai viajar comigo para contar a sua história no II Festival Nacional de Contadores de Histórias de Ponta Grossa, no Paraná. Agora vou fazer a sacola de viagem do coelhinho fujão. Claudete T. da Mata

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