Reza a lenda africana, lá das savanas, que: todo aquele que for sepultado na barriga de um BAOBÁ, enquanto a árvore sobreviver, a alma nela sepultada, irá viver. Como o BAOBÁ tem vida bem longa... Muito longa, a alma pode viver mais de seis mil anos no seu corpo. Como pode enterrar alguém dentro da barriga do BAOBÁ? Pode sim. sua barrigona é oca... Repleta de sentimentos. Agora vamos à lenda? Então vamos!
Reza a Senhora História, lá no coração da África, numa extensa planície, bem no centro da Savana surgiu uma árvore frondosa. Conhecida assim, por sua grande barriga, Senhora de muitos Mistérios: Nascia o BAOBÁ... muito aconchegante para os viajantes que por ele passavam e ficam a refrescar suas línguas secas de sede.
Certo dia, sob os raios do sol escaldante, ao meio-dia do continente africano, saltitava pelo lugar um coelhinho, bem próximo do BAOBÁ. Ele estava exausto, derretendo, quando de longe, mas não tão longe, avistou o BAOBÁ. O coelho correu, correu, correu... e correu mais um pouco para deitar-se sob a sombra do BAOBÁ onde ficou bem protegido. O bichinho ficou ficou tão à vontade que chegou a cochilar encostado na barriga do nobre BAOBÁ. ao acordar, olhou para cima sem conseguir deixar de falar:
- Olhe só que sombra aconchegante você tem, velho BAOBÁ! Agradeço-te por me deixar sobre a tua barriga, descansar... Gratidão, nobre BAOBÁ!
E a velha árvore, não costumada a receber palavras de agradecimento, sentiu-se tão mas tão reconhecido, que sacudiu os seus galhos a tremelicar suas folhas. Elas pareciam estar a dança de tamanha alegria.
Ao perceber a reação da árvore, o coelho quis aproveitar-se um pouco mais da situação e foi falando:
- É, Senhor Baobá, realmente sua sombra é tudo de bom... E os seus frutos que eu cá embaixo fico a ver eles lá em cima? Olhe que estão a parecer grandes. Devem ser deliciosos. Pelo que ouvi falar, estou vendo que... Rã rã... não é nada do que vivem a dizer...
E o BAOBÁ, tocado dessa maneira, no seu amor próprio, foi logo caindo na armação do coelho. E largou, lá do alto de sua copa, um belo e suculento fruto, que foi rolando pelos galhos até chegar próximo do coelho que, na sua ligeireza, foi farejar o fruto. Ele o devorou inteiro. O fruto estava uma delícia de tão suculento. Com sua vontade saciada, o coelho voltou à sombra do BAOBÁ, se esticou todinho e o agradeceu:
- Senhor BAOBÁ, assim feito a sua sombra boa, o seu fruto, igualmente, é da melhor qualidade. Mas... me diga... e o seu coração, será assim tão fresco quanto a sua sombra e tão doce que nem o seu fruto? Ou é seco feito sua casca dura?
Foi nesse momento que o BAOBÁ, ao ouvir tudo isso, tomado de tamanha emoção, que há tempo não havia sentido, foi cativado pelos elogios. Agora sim, ele mostraria o seu misterioso coração - seu maior tesouro.
- Um amigo... É tudo o que eu queria... - falou o BAOBÁ de si para consigo.
Mas não era tarefa difícil. Se do lado de fora, o coelho havia se mostrado tão doce e amigo... Do lado de dentro, a pulsar forte, o BAOBÁ, mesmo que hesitando... aos poucos foi abrindo a porta de seu tronco... Foi abrindo, abrindo, abrindo, abrindo, abrindo... abriu mais ainda... até expor uma fenda bem grande... foi por onde o coelho conseguiu ver, um grande tesouro abarrotado de moedas de ouro e prata; pedras e joias preciosas... era aquele, um tesouro sem igual. Foi quando o BAOBÁ, todo amolecido pelo afeto recebido, ofereceu ao coelho, tudo o que lhe fosse possível levar. De olhos esbugalhados e o coração a bailar num compasso descompassado, o coelho pegou o que conseguiu: umas joias para Dona Coelha, algumas moedas e um punhado de pedras. Ele saiu a expressar sua GRATIDÃO ao BAOBÁ.
- Amigo, amigo... Muito obrigado! Jamais vou te esquecer. Logo... tão logo, cá estarei a te abraçar Senhor BAOBÁ!
E os dois se despediram amorosamente.
ao chegar em sua casa, o coelho encontrou Dona Coelha deitada, um tanto desanimada. Foi quando ele lhe presenteou com as joias. Dona Coelha, ligeira que só ela, num só salto, começou a se enfeitar com colares, anéis, pulseiras, braceletes... e saiu para se exibir entre as amigas, no meio de um pomar muito visado por caçadores e predadores solitários...
De repente, do nada, apareceu ao seu lado, Dona Hiena, de olhos a saltar de inveja. Ela foi logo se indagando:
- Amiga Coelha, de onde veio tanta formosura? Você está linda... Posso saber de quem você ganhou tudo isso, querida? Diga logo... Meus olhos estão... deixe os meus olhos pra lá e fale como conseguiu estas belezuras.
Dona Coelha, que nada sabia, respondeu toda orgulhosa:
- Vá perguntar ao meu marido, querida...
Foi quando, sem perda de tempo, Dona Hiena foi ao encontro do coelho a lhe fazer mil perguntas.
- Diga tudo... Fale logo! Não quero detalhes, só o que aconteceu me basta.
E o coelho. sem perceber a maldade, contou tudo à Dona Hiena, que ouvia tudo num frenesi, que em poucos minutos, o coelho se viu a falar sozinho. Dona Hiena? Sumiu!
No amanhecer do dia seguinte, próximo ao meio-dia, la estava a Dona Hiena a correr pela savana... ela estava a repetir todos os passos narrados pelo coelho. Até que chegou e deitou-se encostada no BAOBÁ. De mansinho, foi falando:
- Senhor Baobá... sua sombra é fresquinha, uma delícia. Imagino o gosto de seus frutos. Huuuummm... devem ser suculentos, docinhos... Posso ganhar um? Posso?
E o BAOBÁ, todo derretido com as palavras doces da Dona Hiena, além dos frutos, também abriu, finalmente, a porta de seu coração.
O Senhor BAOBÁ, a quem no dia anterior, havia estado com o coelho, amigo confiante, diante da Dona Hiena a lhe contar, também sobre o amigo coelho, nem hesitou... e foi se abrindo aos poucos... com movimentos lentos a saborear cada segundo de mais uma de suas entregas. Senhor BAOBÁ estava feliz. Era mais uma alma generosa a estar com ele. Mas Dona Hiena, como sempre: perdera a paciência e saltou sobre o coração do BAOBÁ aos pulos a agarrar no seu tronco, aos gritos:
- Abra, abra logo querido! Deixe de nhê nhê nhê... quero este coração todinho pra mim... Ande logo seu molenga. Não vez que não estou pra esperar? Abra logo, abra... Eu quero teu tesouro agora todinho... meu ouviste?
Dona Hiena pulou para dentro do barrigão do BAOBÁ que, em poucos segundos a recogitou para fora.
O coelho, do outro lado da savana, à procura de um lugar para construir sua nova morada, nada conseguiu ouvir... Apavorado, o Senhor BAOBÁ fechou imediatamente a sua barriga, enquanto Dona Hiena ficou lá fora a uivar freneticamente. Ela xingava, gritava, se esperneava sem parar... Nem uma joia, ela conseguir pegar. E por mais que ela mordesse a barriga do Senhor BAOBÁ, nada conseguiu levar.
Desse dia por diante, reza a lenda que a Dona Hiena herdou o hábito de revirar as vísceras de animais mortos... sempre a imaginar encontrar neles algumas joias feito o tesouro do Senhor BAOBÁ. Dona Hiena nunca soube, que esse tesouro só existe em corações vivos, sempre a bater dentro de um BAOBÁ que, desde o erro fatal da Hiena, ele nunca mais se abriu. Assim também pode ser o coração dos homens, que uma vez ou outra, lhe vem à mente as mordidas da hiena, feito um fio de memória... Será?
APÓS MUITAS E MUITAS LEITURAS DA LENDA ORIGINAL E DE OUTROS AUTORES, NASCEU ESTA RELEITURA DE CLAUDETE TEREZINHA DA MATA - 2015. Jamais imaginei um dia, no dia 20 de março de 2017 ser premiada com um Baobá, na Biblioteca Mário de Andrade - Bairro Santo Amaro/SP.
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