Dia 10 de julho:
Este foi mais um encontro especial. Recebemos mais duas integrante: uma da ABCH e outra da comunidade, uma professora que gosta de narrar histórias para os seus alunos.
Antes de iniciarmos a prática da narrativa, conversamos sobre alguns elementos essenciais ao sucesso da narração oral e do narrador. Um elemento importante é a consciência dos movimentos corporais em sincronia com a auto escuta e a fala verbalizada; atenção e concentração: um conjunto de elementos que fazem falta a muitos contadores de histórias, até mesmo a quem se julga bem preparado. Então demos o passo inicial, numa brincadeira de roda feita para crianças, para sacudir um pouco estas capacidades. É uma uma técnica que consiste levar os contadores, assim como levo as crianças, a dar-se conta de suas reais necessidades, com a brincadeira de roda, mais conhecida por: "Vamos caçar ursinhos?".
O grupo iniciou o processo de consciência, não só da corporeidade como de outros elementos essenciais à boa formação daquele contador de histórias que deseja desenvolver um trabalho de qualidade e estar aperfeiçoando a sua práxis.
Com esta brincadeira, o pequeno grupo conseguiu ver o quanto cada um necessita trabalhar o nível de atenção e contração, educação da escuta e do cumprimento de regras - não tão diferente da postura infantil e juvenil. Adultos, professores ou não, todos apresentam necessidades em comum.
Sendo contadores de histórias (inquilino do palco das histórias), o hábito de refletir e analisar os nossos procedimentos, é um ritual que evita a tensão desnecessária - aquela que mantém o narrador oral em constante vigília enquanto está em cena.
Iniciamos dando as Boas-vindas às duas contadoras de histórias e prosseguindo com a revisão do encontro anterior, em que foi colocado no telão a filmagem de todas as narrações feitas. Ao assistir cada narração, iniciando com Fábia num jogo de improviso, após ler para si, ela daria ao pedaço de história uma continuidade, na elaboração de um conto completo.
Fábia Barbosa, já contadora de histórias de longa data.
Maria Sônia, também é contadora de histórias com formações anteriores, mas diz, agora, estar se redescobrindo.
É assim que, a partir de cada técnica de libertação e apropriação do saber escrito nos "segredos da oralidade" levados e trabalhos em grupo, neste curso, cada contador ao seu tempo, consegue alcançar um nível importante de domínio da sua corporeidade, dos seus sentimentos e dos seus momentos diante do público.
Viviane (vídeo acima), ainda em processo de formação, expressou a sua satisfação em estar tendo a oportunidade de aprender com a sua própria prática e com as das colegas. Na sua autoavaliação, Viviane falou sobre a vantagem de estar no curso como contadora de histórias iniciante, por poder trabalhar as suas dificuldades e corrigir o que percebe desde o início de seu aprendizado, com isso diz que, ao invés de colocar em prática um corpo sem condições, estará levando ao seu público um corpo mais consciente de suas reais necessidades. então fiquei a pensar: - Bom seria de até eu no início de meu aprendizado, tivesse este mesmo pensamento. Assim eu evitaria uma série de transtornos até chegar onde cheguei: no curso de formação de contadores do SESC/Prainha, com Cléo Busatto, considerada minha mestra de formação. Com ela aprendi tudo o que sei e muito do que consigo levar a todos que já passaram por mim e com os quais, não tive medo de compartilhar os meus saberes, socializar as minhas pesquisas e meus estudos.
Dia 17 de Agosto
Estar diante de cada filmagem, foi como estar num grande laboratório em que, a partir de cada narração, fui dando início ao trabalho no refinamento das práticas apresentadas. A partir de então, o grupo foi trabalhando as suas reais necessidades, pensando no aperfeiçoamento de cada colega, onde um está ajudando o outro. Com esta técnicas: "Auto avaliação diante de si mesmo e da imagem do outro", todos terão espaço para conhecer os segredos da narrativa, onde cada qual está saindo da sua zona de conforto. Como Fábia, a narradora do primeiro vídeo, não conseguiu estar presente neste encontros de 17 de agosto e 4 de setembro, o seu vídeo será trabalhado quando ela retornar ao grupo. Fábia está tendo aulas nas quintas-feiras, justo nos dias dos nossos encontros. Mesmo assim, ela tem acompanhado o grupo por meio do grupo no Facebook, e diz estar bem animada com o trabalho, mesmo tendo que fazer uma escolha: ou as aulas do mestrado ou o curso de formação continuada. Depois de passar esta fase de pesquisa do mestrado, Fábia retornará ao grupo. Ela deseja realizar a sua autoanálise. Enquanto isso, o grupo prosseguirá com as avaliações dos vídeos seguintes.
Uma grande revelação analisada é a narradora Idê Bitencourt, que chegou, em 2012, para conhecer a proposta da Oficina Literária Boca de Leão, gostou e ficou para surpreender todos que presenciaram as suas inseguranças ao verbalizar repetidas vezes:
- Eu não me vejo contando histórias, porque o que sei fazer muito bem é recitar poesias.
E eu que sempre repeti à Idê: "- Se sabe recitar, também aprenderá a narrar lindas histórias." E foi que eu veria, logo. e quando chegou a vez de Idê pegar o "pedacinho de história da caixa de improviso", ela ficou apavorada e insistiu em não participar da prática de improviso. Como o grande grupo insistiu, e eu também, demonstrando-se contraria, porém sem jeito de firmar-se no seu não, Idê pegou o seu pedacinho de história, respirou fundo, leu com atenção e muito tensão e subiu ao pauco para surpreender-se no primeiro dia de autoavaliação.
Idê, para a sua própria surpresa, foi a única a fazer uso dos segredos da narrativa sem saber o que estava fazendo. Sua história de improviso, elaborada no dia 10 de julho, encantou a todos e mostrou o quanto ela é capaz de ser uma grande narradora oral, além de continuar sendo uma poetiza maravilhosa. Suas criações sempre tem ligação com a sua pré-história: as vivências de sua meninice. Falo assim porque, com o passar do tempo, nosso grande amigo, aprendi a conhecer esta contadora de história bem antes dela começar a saber da grande narradora oral que vive dentro dela à espera da libertação, que começou no dia 17 de agosto de 2014, no singelo auditório da Biblioteca Pública de Santa Catarina, local onde grandes contadoras de histórias estão a se revelar e a refinar as suas práticas vivenciando-as na parede do fundo do palco.
Também fiquei surpresa ao ver Idê de boca aberta diante de si mesma, e, de repente começar a rir do seu jeitinho meigo a, meio que gaguejar dizendo:
- Nossa! quando comecei a me ver, não acreditei... eu nem me dei conta que fosse Eu ali bem na minha frente. Parecia ser outra pessoa e quando vi que era eu, fiquei surpresa... Eu não imaginava que eu sabia contar - e diante de si mesma, Idê. agora prometeu para si mesma, ser uma ótima narradora oral. Tanto que no debate da aula do dia 4 de setembro, ela encantou o grupo com a narração de uma história de sua autoria.
Conhecendo Idê nas entrelinhas das suas práticas, também o seu modo impecável de ser e de estar na arte de fazer literatura escrita e oral, a respeito acima de tudo pelo Ser Humano maravilhoso que Ela é.
Ainda temos a filmagem de Aparecida Facioli, que até então, não muito diferente de Idê, porém um pouco mais corajosa e ousada, ainda não havia compreendido o que eu vinha lhe falando ao longo desses 12 meses que estamos vivendo a arte de contar histórias: "- Cida, você é corajosa, arrojada, porém precisa entender que uma contação de histórias é narração, não uma representação teatral."
Quando Aparecida pegou o seu pedacinho de história e entrou em cena, no jogo de improviso, fez o de sempre e com a filmagem ela conseguiu entender o que estava fazendo. Aparecida até falou durante o debate, sobre o seu desejo de participar do mundo da arte, algo que sempre a acompanhou desde a sua juventude e quando ela, certa ocasião, descobriu que pode escrever, correu atrás de seu sonho hoje realizado; o mesmo aconteceu com o seu ingresso na arte de contar histórias.
Seu vídeo pode parecer um tanto impróprio para alguns, mas retrata o que Aparecida fazia antes de entender o que é fazer narração oral - própria dos contadores de histórias, algo não compreendido até então, e sua surpresa ao ver-se no vídeo, lhe abriu o olhar do entendimento. Aparecida também ficou na plateia a olhar-se de boca aberta, quando falou:
- Agora entendi o que você sempre me falou: "Cida, o que você entra em cena, já fazendo,não é narração de história, é pura representação teatral!" Agora sei o que tenho que começar a fazer. e agora sei como é bom a gente se ver de fora para dentro!
Ao assistir seu vídeo, no dia 17 de agosto, não foi possível conter as gargalhadas e também o estranhamento estampado no semblante da própria Aparecida. Veja o que ela fez com o seu pedacinho de história:
A tomada de consciência corporal e da oralidade, adquirida pela contadora de histórias aparecida Facioli, deu à ela um novo olhar na busca da narradora que está dentro dela. E sua proposta a partir do momento em que ficou de frente para si mesma, ela verbalizou:
- Agora entendi tudo o que Claudete vem nos falando desde que comecei a contar histórias - repetiu Cida aos risos de alegria - alegria de uma criança contida e que agora começa a fluir sem barreiras.
A partir do dia 17 de agosto, Vó Cida, como é chamada pelas crianças, carinhosamente, vem praticando a narração oral, com o cuidado de não deixar prevalecer a atriz que divide o seu lado artístico com a contadora de histórias.
4 de Setembro:
4 de Setembro:
Ao ouvir todas as falas de Rita Teixeira, Viviane R. dos Santos, Dora Duarte, Idê Bitencourt, da Maria Sónia e de mais duas novas integrantes, que serão citadas após preencherem as fichas de inscrição e autorização de uso de imagem, fui arrebatada pela emoção de cada uma e mergulhada em cada ideia, vejam como está Idê nas suas práticas:
Agora, mais que antes, digo a todos os Ventos: Quem sonha, desvenda pensamentos e ultrapassa os fios da memória em busca das suas histórias. Idê é prova disso!
Uma criança que não aprende a sonhar é porque está nas mãos de alguém que nunca sonhou, alguém que nunca acreditou no Coelhinho da Páscoa, no Papai Noel, muito menos em bruxas ou fadas... Provavelmente ninguém o estimulou a sonhar tudo isso. E o campo simbólico dessa criança ficou ao contrário do certo e ao mesmo tempo errado, porque, talvez, alguém um dia lhe disse:
- Menino, nada disso existe... Isso tudo é coisa de gente que não sabe andar de pé no chão... Vai pra internet, vai!!! Hoje é dia de ir às compras e comprar uma montanha de coisas que realmente existem, vamos?
- Mas mãe, a fulana falou que livros são que nem avião... eles levam a gente aonde a gente quer, e eu quero ir na casa do Pequeno Príncipe e falar com a Rosa dele...
- O quê? Hoje vou falar com a psicólogo, não aguento mais te ver falando essas bobices, está ouvindo, seu malcriado? Vê se cresce menino e larga de ser bobo!
E assim a Vida vai seguindo, carregada de mentes brilhantes. Umas nascidas em casas cheias de seres fantásticos, outras em casas sem pensamentos e nem ideias sobre o mundo do Pequeno Príncipe, outras, apesar da distância do imaginário, ainda conseguem conhecer o Pequeno Príncipe e voltar de seu Mundo montado num cavalo alado, bem diferente... E os meninos e ameninas que estão nas mãos dos Fulanos sem infância, terão que romper grande barreiras para entrar no avião do imaginário e viajar livremente.
Uma criança que não aprende a sonhar é porque está nas mãos de alguém que nunca sonhou, alguém que nunca acreditou no Coelhinho da Páscoa, no Papai Noel, muito menos em bruxas ou fadas... Provavelmente ninguém o estimulou a sonhar tudo isso. E o campo simbólico dessa criança ficou ao contrário do certo e ao mesmo tempo errado, porque, talvez, alguém um dia lhe disse:
- Menino, nada disso existe... Isso tudo é coisa de gente que não sabe andar de pé no chão... Vai pra internet, vai!!! Hoje é dia de ir às compras e comprar uma montanha de coisas que realmente existem, vamos?
- Mas mãe, a fulana falou que livros são que nem avião... eles levam a gente aonde a gente quer, e eu quero ir na casa do Pequeno Príncipe e falar com a Rosa dele...
- O quê? Hoje vou falar com a psicólogo, não aguento mais te ver falando essas bobices, está ouvindo, seu malcriado? Vê se cresce menino e larga de ser bobo!
E assim a Vida vai seguindo, carregada de mentes brilhantes. Umas nascidas em casas cheias de seres fantásticos, outras em casas sem pensamentos e nem ideias sobre o mundo do Pequeno Príncipe, outras, apesar da distância do imaginário, ainda conseguem conhecer o Pequeno Príncipe e voltar de seu Mundo montado num cavalo alado, bem diferente... E os meninos e ameninas que estão nas mãos dos Fulanos sem infância, terão que romper grande barreiras para entrar no avião do imaginário e viajar livremente.
Eu, por exemplo, pretendo morrer criança bem velhinha e rica de lembranças - todas que estão compondo as minhas histórias. Minha criança viverá para sempre. Hoje e amanhã, dentro e fora de mim... Depois elas sairão pelo mundo de boca em boca, numa viagem sem fim. E muitas Idês surgirão.
Gosto de sentir o mundo da fantasia. Ele me leva para lugares sem fronteiras, assim como fazem os livros e as crianças que conseguem entrar nele, como se estivessem entrando numa nave rumo a lugares inexistentes, de tão longe da tristeza de não se acreditar em mais nada, e de fazer a gente estremecer de alegria. De tão longe da esquisitice dos descrentes, todas as crianças que aprenderam a sonhar, são capazes de voltar a ser criança em qualquer lugar do mundo - a começar pelo seu.
Sou Claudete Da Mata e posso ser Bruxa da Mata, fada, assombração, qualquer Ser... E ao ver a Aparecida pisar no palco, pular para dentro de seu sonho, dou risada e consigo fizer: "- Cida, você é fantástica porque está aqui para aprender sem fronteiras. então começamos a ver o quanto é maravilhoso ver o seu desabrochar para o mundo da fala falada.
Após estas experiências, levantamos as seguintes necessidades a serem trabalhadas em grupo e individualmente, que batizo como "Os 10 mandamentos da prática da oralidade:"
1. Consciência da corporalidade e da afetividade;
2. Desenvolvimento da fala e da voz: tratamento do vocabulário, articulação e refinamento da voz, ritmo, timbre, postação e tipo (voz caricata);
3. Níveis de movimentos corporais: Alto, médio, baixo e rasteiro;
4. Exploração do ambiente geográfico: palco, sala, praça, etc.;
5. Rituais de entrada e saída de cena (ambiente imaginário);
6. Preferências de atuação: caracterização, com figurinos ou sem eles - que tipo?;
7. Interações com a plateia: virtual, gestual, direta ou de improviso;
8. Perigos evidentes numa atuação sem preparação;
9. Importância da leitura dos contos de outros autores: Fidelidade, memorização, autorização, tipo de narração, preparação e reparação dos vícios narrativos;
10. Preparação antes da entrada em cena: planejamento após a escolha ou ter sido escolhido pelo conto, ensaios, autoavaliação, confiança no outro e o exercício da autoconfiança, autoimagem e autonomia...
E o Curso de Formação Continuada de Contadores de Histórias, continua com o 4° encontro no dia 17 de setembro, a partir das 18h (pontualmente), no auditório da Biblioteca Pública de Santa Catarina - Rua Tenente Silveira, 343, Centro - Florianópolis/SC/BR.
Para todos os públicos interessados: Estudantes de todas as idades (Menores devem estar sempre acompanhados de um responsável), professores, graduandos de diferente áreas, idosos e Você!
Claudete T. da Mata
Ministrante e Coordenadora Geral da Oficina Literária Boca de Leão
E Mentora da Academia Brasileira de Contadores de Histórias - Sede em SC/BR
Apoio: BPSC/FCC
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