A Galinha
Grupo do período vespertino: Claudete T. da Mata (ministrante), Saray Martins, Senhor Cícero da Silva, Evandro Jair Duarte (Supervisor do Grupo) e Albertina Saudade Fonseca (do outro lado da câmera).
Iniciamos com o estudo do conto de Clarice Lispector: "A Galinha". No começo da leitura, que foi sendo interrompida pela ministrante que o levou para preparação do mesmo para uma narração em grupo, sendo solicitada pela Leoa Saray que fosse feito uma leitura corrida.
Inicialmente, o texto provocou estranhamento por ser um tanto complexo à primeira vista, mas depois de alguns momentos de repetições da leitura, todos passaram a se interessar pelo fato. O poeta Cícero voltado ao processo de análise, após entender a dinâmica voltada à contação de histórias, fez o esforço que pode à concentração no tema gerador conseguindo se distanciar da análise textual e voltar-se a outro momento: Brincar com o universo apresentado no conto.
Albertina, sabedora do tema, atendendo ao meu pedido levou uma galinha (fruto de seu processo criativo com origami). Levou também um ovo. dois elementos criados pela contadora, os quais serviram de personagens inspiradores da imaginação e criação da oralidade em grupo.
Albertina Fonseca (de azul)
Após algumas leituras sobre os questionamentos relevantes ao processo de criação do texto por Clarice, foi proposto uma prática diferente: Narração em grupo dividindo o conto em parte, onde, após brincarmos um pouco com os momentos do intrigantes do enredo, cada integrante recebeu uma parte do texto.
O poeta Cícero concentrou-se e até conseguiu brincar com a sua parte. E todos tiveram um tempo para se apropriar do que conseguiram, iniciamos o processo de narração oral para experimentar o conto na oralidade sem o compromisso da memorização integral do texto.
Fiquei com o fechamento do conto. O grupo conseguiu brincando com o texto na oralidade, entendê-lo e à Clarice também. Mas ficou o interesse de continuarmos e me comprometi em postar a entrevista da autora para que todos possam ouvir dela o que ela mesma tem a nos dizer sobre o seu processo de criação literária, sua linha de pensamento, suas preferências, seus devaneios, sentimentos, influências... Tudo ou quase tudo o que queremos saber sobre a autora.
Até lembramos das Galinhas que não colocam Ovos e daquelas que colocam e se não cacarejam vão parar na panela. Mas a Galinha de Clarice foi para a panela, mesmo colocando um Ovo, seu filho único e amado, uma espécie de afeto despercebido pelos humanos por muitos verem as Galinhas como um bom Prato de Domingo, mesmo que o seu cacarejar alegre o quintal, a casa, desperte forte emoção num coração de criança...
Grupo do período noturno: Mariane da cunha e sua filha Maria Júlia, Natália
Foi uma brincadeira divertida, com recheio de humor, solidão, afeto, desapego, sentimento da própria galinha e seu ovo, o olhar humano sobre ela... A diversidade que ronda o pensamento humano e o contador de histórias no seu processo de apropriação do enredo e seu universo povoado de personagens solicitando vida, ação, entrada, permanência, comportamento do narrador e sua saída do universo imaginário.
Evandro se saiu tão bem na oralidade e memorização de fatos importantes, que se revela um contador de histórias com presença de palco, ótima impostação da voz, consciência corporal ao mostrar o comportamento da personagem principal na presença de movimentos do meio, algo inesperado. Foi lindo de vê-lo interpretando a personagem central.
Albertina Fonseca, diante de seu comprometimento voltado à arte de conhecer as histórias, apropriar-se dela para contar, imaginar e encantar, leu uma de suas anotações que diz assim:
" Mesmo que o contador de histórias não mude uma vírgula, dará vida ao texto com suas emoções e sua verdade.Por meio do seu corpo, da sua voz, da interpretação rica em conteúdos emocionais e em nuances, esses detalhes enriquecem a narrativa e envolvem quem vê e quem ouve. Como ouvintes, criamos imagens e as relacionamos com as imagens sugeridas pelo contador" (Albertina Fonseca, 05.05.2015).
Este foi mais um encontro que inicialmente posso avaliar como intenso, meio confuso, com momentos de descontentamento interior devido a complexidade do conto.
Personagem apensar! Ele foi gerado na minha imaginação e nascido pelas minhas mãos, agora vai auxiliar o Grupo Literário Boca de Leão com contar histórias animadas com a arte de manipulação de bonecos narradores de histórias. Foto de Albertina Fonseca!
Diante das sensações apresentadas, lancei o desafio de uma construção coletiva para narração oral, que ora acontecia, ora se desviava para uma discussão analítica, quando eu fazia os integrantes voltar ao processo proposto, já que o momento estava destinado à narração oral, não ao processo de criação literária.
Cada encontro de formação continuada se mostra mais exigente e cheio de necessidades profundas. Então vou lançando dinâmicas de trabalho como provocações para que cada um possa ver as próprias necessidade, seus limites e possibilidades de maneira que torne o grupo mais eficaz para o debate e troca de experiências que vão fluindo durante as dinâmicas. E prossigo mediando os momentos considerados intensos, porém possibilitadores de caminhos até então não vistos, mesmo sendo considerados simples no olhar coletivo do inconsciente coletivo.
Em Grupo, vou promovendo Momentos de construção e desconstrução do individual ao coletivo até a práxis consciente. Tenho muito a agradecer a todos pela organização que vai se instalando após cada momento de revirar o imaginário do avesso, até que possamos ver juntos a beleza e a grandeza das Imagens Arquetípicas como fio condutor das Dinâmicas de trabalho de construção, desconstrução e reconstrução do Olhar Imaginário, provocando o Grupo a cada encontro, onde cada um fica a pensar.
Recorrendo aos teóricos que estudei, vejo o trabalho que desenvolvo na Biblioteca Pública de Santa Catarina, Centro, Florianópolis, como uma oportunidade de revirar o imaginário do avesso levando o Grupo a uma dissociação entre formação de imagens virtuais a partir do olhar de fora para dentro. Nesse encontro, por exemplo, mesmo tendo dois elementos inspiradores (A galinha e o ovo em origami, feitos por Albertina Fonseca) em certos momentos de reviramento do imaginário, me mostraram que mesmo eles estando sobre a mesa, aos olhos de todos, pareciam não estar presentes, enquanto cada integrante cingia seu próprio tempo recorrendo aos fragmentos da leitura textual que teciam o conhecimento a partir de suas necessidades individuais, dessas com exigências de continuidades e rupturas, mas que integram o olhar individual e coletivo, de maneira sutil, desencadeando a configuração e reconfiguração de novos olhares voltados à formação de ideias até então não percebidas.
E quando alguns saem correndo como se o mundo fosse despencar, outros saem tranquilos como se fossem conduzidos por uma nuvem de algodão, volto para minha casa conversando com o Senhor Tempo. Ao chegar, coloco minha bolsa cheia de ideias novas lá no seu lugar de sempre (outras vezes não), relaxo minhas ideias degustando um café muitas vezes requentado pelas microondas inventadas por alguém (eu gostaria mesmo era de tomar o café da minha mãe - feito no velho coador de pano à moda antiga) e depois de fazer outras mil coisas, até de dar comida e água às minhas Calopsitas tagarelas, de repente, me vejo de volta ao Grupo e paro diante dos momentos intensos e fico a pensar. É quando me vejo do outro lado a ouvir o Evandro a me falar sobre coisas que eu precisava ouvir antes de iniciar o trabalho - algo profissional e pessoal ao mesmo tempo. Então recorro aos velhos teóricos contemporâneos e até aos filósofos do tempo de Platão para me entender comigo mesma e entender o grupo que confiar no meu potencial - Eles que viveram há pouco tempo e aqueles que ainda vivem momentos intensos, desses que buscam entender o pensamento que capacita a ordem das ideias humanas, começando pelos teóricos que ainda nos deixam sem palavras diante do esplendoroso universo imaginário ao se tratar de ideias responsáveis pelo processo de formação humana que, em muitos casos, se tratando de um Grupo de Pessoas que se reúne semanalmente (uns quinzenalmente) com o desejo de aprender a abrir as portas da mente, a começar pelas janelas do coração em busca do saber como jogar por meio da oralidade tudo o que conseguiu se apropriar por meio da leitura, da escritura, da troca de experiências, da hospitalidade doada e também recebida... Não tão diferente do que faziam esses homens lá no passado da arte de pensar como ser, sentir, olhar e fazer (também muitas mulheres que a histórias tenta mas não consegue esconder, porque quem procura acha), que não está longe e muito coincide com as demandas atuais.
Fico a refletir sobre todas as formas de encontrar os vínculos entre o tempo de aprender e o tempo de ensinar, onde cada passo levado à frente resulta numa conquista familiar dentro da nossa Matilha que caminha há 2 anos próximo dos 3 que se completam em 24 de julho/2015, numa tarefa docente que me leva a cada encontro a Encontrar os mesmos vínculos do universo simbólico que move os Seres Humanos entre tempo e formação continuada, que muitas vezes parece acontecer e em segundos resulta distante, algo que está na falta de familiaridade com a formação a formação voltada ao universo imaginário, numa busca constante para saber como entrar, viver, conduzir pessoas provocando o imaginário, encantar e sair do mesmo jeito que entrou. Mas os velhos e os novos teóricos tentam nos explicar como tudo isso acontece. Porém, como somos mentes prazenteiras e animadoras, seguimos em frente e deixando os estudiosos cada vez mais curiosos.
Ainda bem que a neurociência ainda não inventou de estudar a mente dos contadores de histórias. Porque a de Clarice Lispector, ela mesma tratava de se resguardar dentro do seu jeito de Querer Ser. É o que precisamos fazer se realmente desejamos Ser Narradores da Oralidade - Contadores de Histórias Comptemporâneos (Profissionais ou Não).
Depois de fechado esta primeira parte do estudo e preparação para narração oral, Albertina nos mostrou mais um pouco de sua arte:
A partir do dia 08 de maio, daremos início aos ensaios para as apresentações dos Contadores Boca de Leão e da Academia Brasileira de Contadores de Histórias no dia 16 de maio, em Homenagem às Mães - No Centro Integrado de Cultura/Florianópolis/SC, quando Albertina Fonseca vai narrar a história de "Sadako". Ela deseja e quer dominar a arte de manipulação dos elementos de cena porque pretende ser uma contadora de histórias provocadora da imaginação de seu público, independente da idade do leitor/ouvinte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário