quarta-feira, 11 de setembro de 2019

No Desfiar das Memórias a Tecer Histórias!

Essa histórias no Arraiá Literário Inclusivo, em 19.07.2019, onde a Festa das Bruxas de Itaguaçú recebeu um convidado sanfoneiro, galanteador a contracenar com a narradora como se ambos se apresentasse sempre juntos, como se tudo tivesse sido ensaiado... E a história foi ganhando corpo a encantar o público que entrou no frenesi do enredo - Ação da Biblioteca Pública de Santa Catarina, com atuação da Narradora Claudete T. da Mata 100% voluntária.
 Palavras sobre a tarde no Arraiá Literário Inclusivo, organizado pela amiga e Administradora da Biblioteca Pública de Santa Catarina, Cléo Schmitt:

"Quero registrar nossa gratidão a você pelo belo presente ao evento "Arraiá Literário Inclusivo", da Biblioteca Pública de SC. Momentos sociais são únicos, realmente as apresentações agradaram o público e a todos os participantes. Parabéns pela extraordinária apresentação junto com nosso querido deficiente visual, Sr. ADILSON com o seu acordeão. Foi demais, muito lindo!!!👏👏👏👏"
E o sanfoneiro ADILSON, deficiente visual interagiu com a Lenda das pedras de Itaguaçú - A Festa das Bruxas. 
Só no final da narração foi que o nosso gaiteiro ficou sabendo que fez o papel do personagem mais horripilante do enredo - o tão indesejado capeta. Ficou curioso, né querido leitor? Deixe que em outro momento posto a história. E pergunto: Será que um farto cachê é maior que tudo isso? 

Sei que muitos me diriam como já me disseram: "Palavras não pagam minhas contas no final do mês... tiriri, tró, ló, ló..." Mas volto e digo que: Sem o merecido reconhecimento pelos nossos feitos, surge como um baú de moedas, bem mais valioso que um farto cachê que logo se acaba. E ser feliz é tudo o que quero, por saber que o fator financeiro relacionado à vivência artística, também é consequência por merecimento. Caso contrário, não ganhamos a tão desejada visibilidade e os desejados cachês tão visados por aqueles que entram em cena por $$$$$$$. E como como ganhar o tão desejado mundo, caso também não façamos a nossa arte com amor? Sei que todo ganho é Bem-vindo, que precisamos pagar pedágios, combustível para o transporte e também para o nosso corpo físico, pagar materiais de apresentações, livros para estudos, etc. Porém se posso ir até os locais que me chamam/convidam, sabendo que a parte do convite não tem com dar nenhum auxílio $$$, se minha condição $$$ me permite, lá estou com amor. Não foi o Cristo que nos falou por meio das histórias que narrava que: "Não só de pão viverá o homem... Dai a Cesar o que é de Cesar... É dando que se recebe..." E acredito na lei de causa e efeito. 

Antes de minha aposentadoria, sempre paguei minhas contas, eu diria 60% delas com o que vinha da minha arte. Hoje, às vezes também vem daqueles que reconhecem meu trabalho, meus esforços para atender os pedidos e convites, os quais quando podem me ofertam um pró-labore para o custeio de minha ida até eles e o público que aguarda as histórias que levo. É com muita honra que levo a arte que escorre em minhas veias, para onde me chama, não por disputa de espaços, mas por reconhecimento também aos que me chamam, aos ouvintes-leitores, em especial pela alegria que esse estar me proporciona. E ao atender os chamados, sempre me surpreendo com a acolhida com ou sem auxílio $$.

Como todo bom Narrador Oral, as histórias sempre voltam em forma de se ter o que contar para desatar a imaginação ao tecer memórias. Em certa ocasião, me chamaram para contar histórias. Fui. Sobe ali, desce por lá, passa por aqui... Lá foi Eu sendo conduzida por meu companheiro, lá no tempo que Eu ainda não sabia dirigir veículos. E nos perdemos. Eu, feliz com as paisagens dos lugares por onde passamos, me perdi na alegria do caminho, na melodia dos passarinhos a respirar ar puro daquela natureza ainda só um pouco ocupada... Ao decidir por voltar para casa após tamanha procura sem o encontro do lugar, encontramos a casa onde crianças, adolescentes e adultos estavam à minha espera. Foi uma recepção para nunca mais esquecer. Cá estou só no relato por não ser permitido os registros habituais das dos acontecimentos. Bem que eu poderia registrar os lugares por onde passamos, mas o desespero misturado com a alegria de ver e respirar as belezas encontradas, não me deixou pensar no registro em fotos, só esse de palavra, para você leitor precioso. 
No Orfanato Chico Xavier - 2015.

Entrei no meio do público cheio de sorrisos nos olhos a dar semblantes de gente de pele rosada de desejos de ouvir e viajar com as histórias. Sentei no chão e após a conversação inicial da coordenadora da casa (Orfanato cuidado por profissionais voluntários, onde o governante municipal fornece somente a alimentação e o pagamento do aluguel da casa...), comecei a desfiar a primeira história:
E me surpreendi com o público desse lugar: Bebês, crianças maiores, adolescentes internos com uma educação exemplar... Atentos, de bocas semi abertas, olhos esbugalhados, surpresos a cada história contada - Eu era a primeira Contadora de Histórias a lhes encantar com as minhas narrativas bagunceiras, também. É que além das histórias autorais que narrarei, também levei dois contos de minha autoria, os quais cada vez que conto nunca sai do mesmo jeito que contei antes. 
A foto retrata as crianças do Orfanato Chico Xavier, existente numa comunidade de um município de próximo da capital de Santa Catarina. Elas ficaram assim na Roda de Histórias. E quando os bonecos entravam em cena, eu também me surpreendi com o jeito do público. O boneco é fruto de uma oficina ministrada por mim, em 2016, com confecção de bonecos contadores de histórias. Este foi feito por uma narradora oral de 80 anos, com o meu auxílio por ela sofrer de artrite nas mãos com dificuldade nos movimentos de coordenação fina - trabalhar detalhes como forma e expressões faciais... O figurino foi feito por ela, em casa num final de semana. É todo colado no lugar de ser costurado, justo por suas limitações no manuseio de agulhas e com a própria máquina de costura.

Eu creio, assim sigo como os grandes sábios da arte narrativa também acreditam que: 
 um contador de histórias - narrador oral, é aquele que em cena segue pelas brumas do universo sagrado a dar vida às narrativas chamadas por ele, ou as que o chamam pela conexão sagrada entre eles que juntos, um atiça o outro e o narrador oral até inventa seus próprios causos. Isso é pura magia por se encantar com a alegria das palavras em viagens que só o narrador e seu público afetivo conseguem saber... 
Nessa Mediação de Leitura, por exemplo, no dia 18 de abril de 2017, os ouvintes sentaram até nas prateleiras dessa minúscula biblioteca, para ouvir uma histórias do aventureiro Saci Pererê, do seu nascimento até sua saída da casa dos pais adotivos a morar pelo mundo, sempre levando consigo as suas estripulias. Foi uma viagem para todos e uma surpresa para os professores que no seu achismo pedagógico habitual, pensaram que o grupo de mais de trinta alunos bagunçariam o momento da Arte da Contação de História com Mediação de Leitura Animada. 
(Título: Mãe Sacisera - Criação de Claudete T. da Mata)
E os ouvintes se encantaram ao saber que a mãe do Saci tem duas pernas. Que ele puxou ao pai que tem todos os homens da família de uma perna só.  que é normal, também, nascer com uma perna só. que o Saci caminha, rodopia como poucos... que nada o impede de sonhar e correr atrás de seus objetivos até as suas realizações, por mais esquisito que ele (o Saci) seja no seu jeito de Ser, de estar e de fazer as coisas.

De volta ao orfanato, também narrei a Dona Baratinha - o Conto da Carochinha mais próximo do conto original: aquele que a dona Barata ao saber do desastre que levou seu noite para o outro lado da vida - após ter refletido sobre o porque dele estar a apreciar a feijoada a caminhar sobre a borda do panelão, em vez de ir ao encontro de sua amada para o casório, ela pegou o rato cozido que estava cheiroso a atiçar seu apetite, e o dividiu em pedacinhos e compartilhou com os convidados, os quais se deliciaram... E a festa não deixou de acontecer. foi feito o velho ditado: "Vãos os anéis e ficam os dedos a espera de outros ainda mais belos...". Uma narrativa que pode para alguns, um erro eu ter narrado para crianças, mas que quando dita de maneira brincalhona e com a leveza a brincar com as cenas dessa forma a explorar o mundo dos insetos que degustam seu alimentos preferidos ligados a sua cadeia alimentar, essas histórias do tempo em que os bichos falavam, também ensinam até aquele conteúdo que em sala de aula muitos professores não sabem como fazer, nem mesmo ensinar. São enredos que atiçam a curiosidade dos ouvintes-leitores e sublimam suas emoções - cada qual do seu jeito, assim feito gente a resolver seus conflitos por meio de encontros em grande grupo. E digo: Contar e ouvir histórias, também é uma terapia, desde que tudo aconteça numa linguagem leve, doce, brincalhona, bagunceira/travessa para que as emoções do momento da narração até venham ser o acalento de muitos ouvintes que estão na precisão da melodia da poética da palavra bem contada. 
E as adaptações da Dona Baratinha, feitas por vários autores vem assim com pitadas de doçura que encantam as crianças até mesmo em cenas de desespero... 
Eu tenho várias versões e inclusive a versão mais antiga, bem próxima do conto original que relata o tempo em que a Europa medieval viveu uma era sem fartura de carne... Um tempos em que os pais eram obrigados, até mesmo de abandonar seus filhos nas florestas na esperanças de serem levados por pessoas de posse, onde a fartura era certa. Assim como na história de João e Maria, quando se coloca a culpa de abandono das crianças na madrasta, quando foi a própria mãe que toma a decisão com o consentimento do pai que os leva para a floresta onde eles vivem uma aventura e voltam para casa com um achado que garante dias melhores para a família. E tudo fica bem. Mas como sempre há um vilão nessas histórias antigas, a madrasta vira a bruxa desses contos maravilhosos. E as crianças do Orfanato aplaudiram a Dona Baratinha com seu laço de fita.

Também narrei o conto "Por que há tantas estrelas no céu?" - de Leonardo Boff. E fechei do jeito que abri: com duas cantorias de contemplação da Roda de Histórias, cantorias para abrir a roda e também para me despedir do afetivo público. Nesses momentos aprendo muito e me vejo de volta às minhas leituras de mundo em torno do universo sagrado das narrativas orais, onde a atmosfera sagrada dos narradores orais da nossa ancestralidade, envolve o campo físico que acolhe os fatos simbólicos apresentados pelos narradores.

Recebi uns mimos e entre eles, um envelope com uma quantia em dinheiro que Eu ao ver, quis devolver, já que o lugar é todo cuidado por pessoas voluntárias. Mas me disseram que se eu não aceitasse, não poderia mais voltar até lá. E eu retornei com o grupo de narradores voluntários da Academia Brasileira de Contadores de Histórias, para fechar o ano de 2015. E quero voltar mais vezes. Lá encontrei um pouco do que muitos acham impossível: doação de tempo para quem está abandonado, lugar onde se desenvolve ações sociais com amorosidade humana, toda de maneira voluntária, sem deixar faltar nada. E me surpreendo sempre que vou nesse lugar, com a educação dos moradores, o respeito pelas pessoas que lá vão, o espirito colaborativo... Gente, é um lugar muito especial, como muitos que existem e ainda não sabemos.

E sempre aprendo a aprender que: Ganhar o mundo, é muito mais que receber uma quantia farta para pagar as contas no final do mês. E serve como terapia a nos trazes aquela paz que tanto, e que muitos estão na precisão... E sou Ré-confesso. Se assim eu não ser, não consigo nem sorrir. Por isso não consigo o faz-de-conta nem quando estou em cena com as histórias que chegam, por mais que duras que algumas pareçam, mas elas conseguem se manifestar com leveza a mostrar o quão a vida em grupo é bela, mesmo com todas as diferenças misturadas....

E encontrei esse material sobre sarna e piolho, que seria jogado no lixo. Aproveitei e criei um conto dessas duas criaturas minúsculas, mas que nos dão o que fazer. O Título: Dona Piolhina e sua prima Sarnina numa floresta cabeluda. As crianças pediram Bis.


Cego mesmo, é todo aquele que tem olhos perfeitos mas não consegue enxergar um palmo à sua frente... E surdo é aquele que não sabe ouvir nem a si mesmo. E os perfeitos ainda estão para nascer... E se ontem você não me viu a sorrir, rir, gargalhar, não se preocupe porque estou no meu tempo de reflexão. Nesse momento, fico séria, com semblante austero - aquela cara de quem parece não está gostando do que acaba de comer... é o meu jeito. Por isso digo que fico melhor rindo feito criança, do que adulto sisudo. Beijo no seu nobre coração, você que tirou um tempo de seu precioso tempo para ler minhas leituras de estudo, do que sinto, vejo e penso. Gratidão!



(#Claudete T. M.s)

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