Franklin Cascaes
Primeiro Milênio, num dia de primavera nasceu um menino que, tempos depois de sua história cheia de arte e cultura, hoje é o Patrono da nossa Academia, a primeira e única do Brasil, ainda.
Dizem que a gestação deste menino nascido em 16 de outubro de 1908 na antiga São José da Terra Firme, na praia de Itaguaçu, que hoje é parte do continente de Florianópolis, Capital de Santa Catarina, inicialmente, não foi bem visto pelas bruxas da ilha que se sentiam ameaçadas de serem esquecidas, mas que por ele foram retratadas através de sua arte cheia de curiosidades, o menino passou a ser por elas Bem-vindo.
Bem sabiam as bruxas que sem a sapiência do menino a incentivar outros meninos e também as meninas, as Mulheres Bruxas já não existiriam mais. Sempre foi assim. Assim sempre será. Quem duvidar, é só pegar a chave da memória. Não é o que sempre diz o velho ditado, "onde há fumaça há fogo"? Será?
O mais incrível: em 1958, numa sexta-feira de Lua-cheia, no dia 13 de junho, às 22h30 nasceu uma menina que, desde o berço, já era chamada pelos seus familiares de Bruxa da Mata. E, o menino que nascera 57 e 8 meses antes dela, em plena eferverscência, já havia começado a sua pesquisa por meio de muitas e incansáveis andanças por todos os cantos da Ilha de Santa Catarina. Ele, antes, durante e depois do nascimento da Bruxa da Mata, teve todos os cuidados de guardar os seus manuscritos, verdadeiras relíquias da literatura oral coletada e cuidadosamente registra em folhas de papel da época, tudo era colocado dentro de um baú.
Hoje, no Terceiro Milênio, Bruxa da Mata completa os seus 57 anos em 13 de junho de 2015, fundo a ABCH em 02 de junho de 2014 e teve seu indicado para ser o Grão Patrono da Academia que, em 12 de dezembro de 2014, no Ato Solene n°02/2015, oficial
público de Posse dos primeiros Acadêmicos da Academia Brasileira de Contadores de
Histórias – ABCH, com foro em Florianópolis e sede em Santa Catarina/BR. Neste Ato a sobrinha neta de Franklin Cascaes, neta de sua irmã Alcinda Cascaes Dias, tomou posse. Ela é uma apaixonada pela arte de contar histórias e uma grande leitora do imaginário, da arte e da cultura. Ao ser descoberta, hoje aos 12 anos Luiza Abnara da Costa Dias vai ser Diplomada na qualidade de Acadêmica Infanto-juvenil em 13 de novembro de 2015. Não vamos fazer este Ato em 16 de outubro por não conseguirmos vaga na agenda do local que também vai em possar os novos Acadêmicos que vão ver a nossa joia rara contar e encantar os ouvintes de todas as idades. Ela parece uma fada. O que mais desejo é que a nossa Luiza não perca o seu jeitinho especial de Ser, Estar e Fazer neste Mundo cheio de segredos.
Hoje acordei inspirada. Ainda deita no quentinho da minha cama, comecei a pensar. Um pensamento foi chamando outro e outros foram chegando. Fui viajar sem sair debaixo do meu cobertor, de onde visitei o Tempo e fui dar um passeio com ele. Subi no seu dorso, segurei-me bem sobre as suas plumas macias, agarrei-me nas suas asas e fui. Descobri coisas, conheci lugares, olhei o mar, falei com algumas pessoas, afaguei um animalzinho do meu coração e o coloquei junto de mim, no dorso do Senhor Tempo. Voamos o mais alto que consegui chegar. Só não escrevi o meu diário completo porque desejo fazê-lo aos poucos. Gosto de saborear as gostosuras dos fios da memória e degustar cada lembrança.
Vamos começar por uma pescaria. Esta!
[...] Franklin Joaquim Cascaes, filho mais velho entre 12 irmãos, aprendeu desde pequeno os afazeres que garantiam o sustento da família. Além de lidar com o engenho de açúcar e de farinha de mandioca existente na propriedade, sabia fazer balaios, tipitis, cordas de cipó, cercas de bambu, remos, gererés, tarrafas...
Mas, entre todas as atividades e conhecimentos que dominava, o que mais gostava de fazer era rabiscar desenhos usando carvão, ou moldar bonecos imitativos das imagens dos altares e miniaturas de bichinhos de cerâmica feitos nas olarias. Também tinha grande curiosidade pelas histórias sobre bruxas:
“Meus avós tiveram muitos escravos, era gente muito rica, moravam em Itaguaçu, ali no outro lado da baía Sul. Meus bisavós foram os primeiros colonos a chegar ali. Uns parentes tinham engenho de farinha; e meus pais tinham charqueado, porcos, redes e canoas, aquela coisarada toda. Eles tinham muitos trabalhadores e muitos escravos. Ainda encontrei toda aquela gente lá. Então fui ouvindo essas histórias todas e fui gostando, escutando...”
Talento para as artes
O talento de Cascaes foi descoberto na Semana Santa de um ano qualquer da década de 20, quando a Praia de Itaguaçu ganhou uma série de esculturas, retratando a Via Sacra. O respeitado professor Cid da Rocha Amaral, diretor da Escola de Aprendizes e Artífices de Santa Catarina, ficou encantado com o que viu e quis conhecer o autor da proeza. Encontrou um adolescente tímido, que tivera uma rigorosa educação religiosa.
Franklin beirava os 20 anos e nunca havia entrado em uma sala de aula. Seu pai achava que estudar era algo delicado demais e que o homem de verdade tinha que trabalhar na roça. Vencida a resistência paterna, Franklin aproveitou o incentivo para recuperar o atraso e iniciar seus estudos, até que em 1941 tornou-se professor da antiga Escola Industrial de Florianópolis.
“Passei a empregar a arte que estudei. A nossa oficina era cheia de artes. Foi tudo jogado fora, não sobrou nada para contar a história. Na Segunda Guerra foi criada uma oficina para fazer material bélico e a nossa oficina foi jogada no lixo. Quase morri de paixão...”
Nos anos 1940, quando sua idade buscava fervorosamente a novidade e a modernidade invejada por outras cidades, Cascaes, ao contrário, como que pressentindo os novos tempos, correu – na contramão da história, em busca do passado e da tradição secular que começava a entrar no seu ocaso. No sentido contrário ao de seu tempo retornou ao mundo rural, muitas vezes acompanhado de sua amada mulher, Elizabeth.
Durante 40 anos, ele pesquisou diversos temas envolvendo o homem do litoral catarinense e as comunidades pesqueiras da Ilha de Santa Catarina, registrando tudo num trabalho quase arqueológico. Resgatou os fragmentos de uma tradição que já vinha se estilhaçando, com a chegada de um vento mais forte que o nosso vento sul: o do progresso. De forma quase solitária, trabalhou incansavelmente recolhendo as histórias, rabiscando a mitologia, desenhando as formas, moldando as figuras, e mostrando domínio nas várias artes. Só não foi condenado ao insucesso pela persistência teimosa e pelo sentimento de que lidava com o seu próprio passado e com uma tradição que amava.
Preservando a cultura
Os presépios construídos por Franklin Cascaes, feitos com as folhas da piteira, e montados sob a lendária figueira da Praça 15 de Novembro, iniciaram uma tradição. “Seo Frankolino”, como o conheciam os pescadores, dizia:
“Tive que deformar o Barroco porque foi a única forma de dar graça àquela beleza rústica, a figura do colono açoriano. Tive que recriar o Barroco para poder representar as pessoas do interior da ilha. O homem está se destruindo. Ele pensa que é o senhor absoluto da Terra. Não é! Sobre ele está a natureza comandando, ele é exclusivamente um produto da natureza, como são as aves, como são os outros animais”.
“Tive a felicidade de ser um dos primeiros a penetrar no interior da Ilha de Santa Catarina, antes mesmo de terem lá chegado os massivos meios de comunicação. Em alguns lugares não havia instalação elétrica, nem estradas, o que fazia com que as comunidades vivessem um mundo próprio, longe das influências dos centros urbanos, permitindo que suas vivências e manifestações se mantivessem livres de alterações provocadas por agentes externos”, dizia.
A pesquisa de Franklin Cascaes resultou em 42 conjuntos temáticos formados por esculturas de pequeno porte representativas de figuras, ferramentas, instrumentos, utensílios e também maquetes de engenhos de farinha, rancho de pescadores e outros objetos confeccionados em diferentes materiais. Além das esculturas, o artista deixou mais de 1500 desenhos e centenas de anotações, além de recortes de jornais, cadernos dos tempos da escola, entre outros documentos.
De forma detalhada, Cascaes registrou costumes, crenças e tradições e características populares referentes à vida dos colonos que habitaram a Ilha de Santa Catarina. Sua arte e sua genialidade são uma das maiores contribuições para o resgate e preservação da identidade cultural do município de Florianópolis. O acervo deixado pelo artista encontra-se hoje no Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral, da UFSC, numa coleção que leva o nome de sua esposa, a Professora Elizabeth Pavan Cascaes,
O nome da Fundação Cultural de Florianópolis é uma justa homenagem a esse artista catarinense, pesquisador, ecologista, e folclorista, que dedicou parte de sua vida ao registro das tradições, lendas, usos e costumes dos moradores da Ilha de Santa Catarina. Franklin Cascaes faleceu na tarde chuvosa do dia 15 de março, no final do verão de 1983.
Franklin Joaquim Cascaes
* 16/10/1908
+ 15/03/1983
Onde estive e trouxe estas informações a Você?
http://portal.pmf.sc.gov.br/entidades/franklincascaes/index.php?cms=franklin+cascaes&menu=1
Dia 11 de junho de 2015.
Por incrível que pareça, Eu e o Seo Frankolino vivíamos na mesma Ilha e jamais nos vimos.
Depois vai ter mais!
Bruxa da Mata
https://www.facebook.com/groups/academiabrasileiradecontadoresdehistorias/
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